Ver animais abandonados circulando sem destino pelas ruas da cidade não é novidade para ninguém, mas uma atitude de moradores do Cônego tem chamado a atenção. Amantes da causa animal e apaixonados pelo mundo pet, um grupo de vizinhos resolveu se unir para tentar proporcionar uma melhor qualidade de vida a alguns desses bichinhos.
Intitulado “Cão Nosso”, o projeto começou há pouco mais de seis meses e já conta com mais de dez participantes. “Nós já nos conhecíamos aqui do bairro, só que cada um vinha a praça para alimentar os animais e ajudar como podia. Até que um dia resolvemos nos unir para transformar o que era feito de forma individual em um trabalho conjunto e mais abrangente. Criamos o nome do grupo, Cão Nosso, e a partir daí, a ideia foi se multiplicando e o grupo crescendo”, conta o oficial de justiça e voluntário co-fundador do projeto, Christiano Jardim Teixeira Leite.
Como o próprio nome da iniciativa já diz, os cães que moram nas ruas do Cônego pertencem a todos os participantes do projeto. Como tutores desses animais, cada um se responsabiliza pelos cuidados. E o grupo é organizado. “Temos uma escala definida e sempre estamos nos comunicando pelo grupo de WhatsApp. Nós nos revezamos para repor a ração, trocar a água, limpar a área e, claro, dar atenção a eles”, explica Christiano.
Um verdadeiro “cãodomínio”
Quem chega a pracinha do Cônego logo se depara com um espaço diferente. É que, para dar mais conforto aos bichinhos que vivem na rua, ao lado das rampas de skate, os membros do projeto Cão Nosso instalaram casinhas com cobertores e um espaço para repor a ração e água dos animais, o carinhosamente chamado “cãodomínio”.
O local hoje hospeda os viralatas Mequetrefe e Brad Pitt, mas já teve outros habitantes. “Temos alguns ‘hóspedes’ volantes, que são esses cachorros que às vezes se perdem de casa e ficam por aqui, mas são achados pelos donos, ou aqueles que circulam por vários bairros. E o João e a Maria, um casal de cachorros bem simpáticos, que agora estão em um lar temporário”, conta Christiano.
Todos os animais que permanecem no “cãodomínio’, inclusive, não recebem apenas um nome como também são devidamente identificados com ele, principalmente para casos de urgência. Cada um possui uma plaquinha pendurada na coleira, que tem de um lado o nome do bichinho e do outro o endereço da página do grupo, no Facebook.
“Os animais ficaram mais dóceis depois dessa mobilização. Também nos preocupamos em castrá-los, tanto como forma de proteção, quanto para ajudar no relacionamento mais amigável entre eles”, conta a aposentada e voluntária Valéria Doblas.
Um caminho para a adoção
Apesar de serem muito bem tratados na rua, um dos principais objetivos do projeto de moradores do Cônego é que esses animais que circulam pelo bairro possam ser adotados. “Cada cão que vai aparecendo a gente cuida, identifica e começa a divulgar para a possível adoção”, afirma a aposentada e voluntária, Vera Naliato.
Ainda segundo Vera, para que o animal seja levado para um lar responsável, o processo acontece como em uma feira de adoções. “É muito mais difícil o cão adulto ser adotado, sem contar com os casos de pessoas que abandonam esses bichinhos quando atingem a idade adulta. Por isso, a gente procura conhecer os potenciais adotantes, saber quem são, se realmente estão dispostos a cuidar do animal e se possuem estrutura para tal. Até porque, muitos desses cachorros cresceram na rua então disponibilizar um espaço pequeno, por exemplo, não adianta”, esclarece a voluntária.
Parcerias
Para fazer o projeto funcionar, além das doações de membros do grupo, o ‘Cão Nosso’ conta com o apoio de ajudadores anônimos e empresários locais. É o caso do dono de um pet shop do bairro, Bruno Nascimento.
“Me reuni com o grupo logo quando criaram a iniciativa para saber como poderia ajudar. Uma das nossas colaborações é a doação de um saco de ração por mês. Também viramos um ponto de apoio e coleta de donativos”, conta Bruno acrescentando que “Não tem como abraçar a cidade, mas se cada comunidade fizer um pouquinho a situação desses animais melhora. Infelizmente Nova Friburgo não tem um abrigo municipal para receber e cuidar desses animais de rua e aí eles ficam abandonados. Ração, água fresca e abrigo, podem parecer pouco, mas ajuda a melhorar a qualidade de vida deles”, acredita o empresário.
De acordo com Christiano, o grupo também conta com a parceria da Subsecretaria de Bem Estar Animal. “A Subbea nos deu o respaldo legal para essa ação, através da Lei do Cão Social, e instalou a primeira casinha para abrigar os cães que vivem na rua”.
Quem quiser apoiar, se tornar um voluntário ou saber mais sobre o projeto pode entrar em contato com o grupo através da página “Cão Nosso - Nova Friburgo”, no Facebook. Para aqueles que querem ajudar com doações, o Pavilhão das Artes, no Cônego, que abre de terça a domingo, também é um ponto de arrecadação.
“A ideia é que esse projeto seja um piloto e inspire pessoas a fazer o mesmo em suas comunidades. Além de divulgar a própria lei do cão social, a intenção é levar essa proposta para as escolas para que possamos semear atitudes legais como de cuidado, responsabilidade e a amizade, que pode surgir num ato de solidariedade como esse”, declara Christiano Leite.
Animal Comunitário - A lei
Criada em outubro de 2012, pelo então vereador Marcelo Verly, a lei municipal do Animal Comunitário estabelece vínculos de dependência e manutenção entre o bichinho e a população da comunidade em que vive, apesar de não ter proprietário definido e único.
Ainda de acordo com a lei, sancionada pelo ex-prefeito Sérgio Xavier de Souza, o animal comunitário deve ser mantido, preferencialmente, no local onde se encontra, sob fiscalização da Coordenadoria do Bem Estar Animal de Nova Friburgo. Os voluntários que se encarregam do trato diário do animal também são cadastrados no órgão da prefeitura.
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