Márcio Madeira
Numa época marcada por tantas músicas-chiclete ou compostas por obrigações contratuais, chega a ser surpreendente a postura de um jovem músico formado em antropologia, doutor em Ciências Sociais pela Uerj, avesso a badalações, dedicado a viver e pesquisar a arte que expressa e com a qual se identifica para além dos limites dos palcos.
E a atitude de Lucas Kastrup torna-se ainda mais interessante quando observa-se que ela parte de alguém que há muito tempo já alcançou aquilo que muitos chamariam de sucesso. Baterista e compositor de diversos clássicos da consagrada banda de reggae Ponto de Equilíbrio, Lucas já gravou três CDs, um DVD com participação de Marcelo D2 e Lauro Farias do Rappa, fez turnês pela Europa e pela África, apresenta-se nos quatro cantos do Brasil e viu, recentemente, a página da banda que ajudou a fundar superar a incrível barreira de um milhão de curtidas no Facebook.
Nada disso, no entanto, afetou a rotina ou a filosofia de Lucas. Ao contrário, o dia a dia corrido acabou por aprofundar ainda mais a vivência do reggae e sua busca pelos valores mais simples, pela harmonia com a natureza. "Nossa banda já tem 14 anos de história, e a gente vive muito na estrada, virando noite... Eu tenho três filhos, e inicialmente eu e minha mulher quisemos sair do Rio de Janeiro para propiciar uma educação mais tranquila para as crianças. Eu também queria encontrar um ambiente mais tranquilo, não tão caótico quanto numa metrópole, quando chegasse em casa após as viagens. Então inicialmente a gente foi para o Sana, moramos numa roça mesmo durante três anos, eu minha mulher e meus filhos”, explica Lucas. "Só que as crianças começaram a crescer e a gente sentiu a necessidade de ter por perto uma escola melhor. Então optamos pela Escola Cecília Meireles, no Cascatinha, que aplica a pedagogia Waldorf. Nós viemos morar em Friburgo por isso, e também porque preferimos a vida numa cidade menor e mais tranquila.”
Apoio para a realização de média metragem
A carreira musical, no entanto, não bastaria para satisfazer um antropólogo acostumado a pesquisar temas como música e religião. Estudioso das origens do reggae, Lucas entregou-se então à ideia de criar e rodar uma série de filmes de média metragem contando a história do gênero musical. O primeiro deles, intitulado "Na Batida do Reggae”, já conta com entrevistas exclusivas feitas com importantes nomes do cenário mundial, como por exemplo o vocalista da banda The Abyssinians, o baterista da banda Israel Vibration, e o vocalista da banda Groundation. Agora, no entanto, o andamento do projeto depende da colaboração de fãs ou patrocinadores, para que possa ser concluído.
Com o intuito de levantar fundos para as muitas despesas, Lucas optou por um método já bastante difundido em alguns países, e que começa a crescer também no Brasil: o crowdfundind. Basicamente, o método consiste na criação de uma página na internet para que sejam feitas doações, obedecendo a um montante específico e dentro de um prazo determinado. Cada doador tem o nome registrado e recebe prêmios proporcionais à cota com que contribuiu. E se, ao fim do período, o valor total não for atingido, então todos os doadores recebem seus valores de volta.
"Nosso projeto busca levantar R$30 mil reais, e até o momento temos apenas cerca de 15% desse montante. Até o dia 6 de janeiro as pessoas podem colaborar através do site www.catarse.me com diferentes valores, e para cada um deles existe um kit com prêmios exclusivos. Depois, se a meta não for alcançada, o valor será devolvido aos doadores e a gente perde o financiamento. Essas doações podem ser feitas por boleto, cartão ou depósito. Não é uma questão de caridade, algo que as pessoas estão me dando. É a participação em um projeto. Quem nos apoiar ganha prêmios e faz o filme acontecer”, continuou.
Entre os prêmios oferecidos estão a inscrição do nome do doador nos agradecimentos do filme; o recebimento da trilha sonora em primeira mão — composta por músicas inéditas do próprio Lucas, interpretadas por diversos artistas —; filme em formato de DVD, autografado; revista e pôster do filme; ingresso para o show do Ponto de Equilíbrio, com direito a foto no camarim; uma aula de bateria com o próprio Lucas; a chance de acompanhar um dia de filmagem e ingressos para a exibição de estreia do filme.
"Os prêmios são bastante interessantes, em relação aos valores de contribuição”, explica Lucas. "Pedimos aos fãs que participem e nos ajudem a divulgar a campanha, porque só assim que o filme pode acontecer”, encerrou o músico.
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