Monsenhor Mielli: 30 anos de saudade

sábado, 14 de março de 2009
por Jornal A Voz da Serra

A Igreja de Cristo caminha na história procurando levar a mensagem do Evangelho às diversas realidades humanas e culturais, sempre procurando ser fiel ao seu fundador e atenta às necessidades dos diversos tempos e lugares.

Assim o recente Documento de Aparecida ensina que “a renovação da paróquia exige atitudes novas dos párocos e dos sacerdotes que estão a serviço dela. A primeira exigência é que o pároco seja autêntico discípulo de Jesus Cristo, porque só um sacerdote apaixonado pelo Senhor pode renovar uma paróquia. Mas, ao mesmo tempo, deve ser ardoroso missionário que vive o constante desejo de buscar os afastados e não se contenta com simples administração”. (D.A.201). Estas orientações recentes da Igreja foram vividas de forma exemplar por mais de trinta anos de trabalho contínuos e ininterruptos por aqueles a quem queremos prestar esta comovida homenagem,

Há exatamente trinta anos, no dia 13 de março de 1979, falecia no bairro de Olaria aquele que viu este populoso bairro nascer e crescer. A sua morte abriu um grande vazio em Nova Friburgo. Ele e Monsenhor Teixeira foram as grandes figuras sacerdotais de nossa cidade no tempo que antecedeu a criação da Diocese de Nova Friburgo, em 1960, até que a multiplicação de paróquias viesse criar uma nova fisionomia da Igreja entre nós.

Monsenhor Teixeira nos deixou em 1977 e, menos de dois anos depois, partia Monsenhor Mielli, aos 56 anos, repentinamente, sem que nada fizesse prever uma morte tão rápida. Na ocasião o então Bispo de Nova Friburgo, D. Clemente Isnard, OSB., afirmou: “O excesso de ocupações e responsabilidades contribuiu decisivamente para a morte prematura de Monsenhor Mielli”. São páginas da história que foram viradas há trinta anos e que deixaram uma saudade profunda.

Monsenhor Mielli era o único friburguense do clero diocesano. Nascido em nossa cidade, aqui viveu quase toda a sua vida sacerdotal. Amava profundamente esta terra, à qual se dedicou sem reservas. Ordenado sacerdote em Niterói, em 8 de dezembro de 1945, que na época era sede da Catedral à qual Nova Friburgo estava subordinada eclesialmente, lá trabalhou por dois anos como capelão de religiosas e vice-reitor do Seminário Arquidiocesano de São José. Em 1947, foi designado para dar assistência religiosa na Capela de São Roque, no bairro de Olaria.

Mas sua grande obra foi na Paróquia de Nossa Senhora das Graças, em Olaria, onde construiu não só a igreja, obra ousada de arquitetura moderna, mas ainda o Centro Social Nossa Senhora das Graças, com o colégio. O que hoje se vê lá é o fruto de quase 23 anos de trabalhos intensos e de duras dificuldades vencidas com idealismo e sacrifícios, que são sinais de um amor incondicional ao Senhor Jesus Cristo e a sua igreja. Mas não se trata apenas de construções materiais: Monsenhor Mielli foi um edificador espiritual de obras e comunidades. O povo que encheu várias vezes a igreja durante as celebrações fúnebres é o atestado do valor do seu trabalho como pastor de um grande rebanho. Assim a imprensa de Nova Friburgo se referiu à multidão que acorreu ao templo para velar o seu pastor: “Entre 12h de terça-feira até 9h de quarta-feira, cerca de dez mil pessoas se revezaram no interior da Igreja Nossa Senhora das Graças, em Olaria, para velarem os restos mortais de Monsenhor Mielli”.

Na ocasião a Prefeitura Municipal decretou luto oficial durante três dias no município e o comércio de Olaria funcionou com apenas meia porta durante aquela quarta-feira.

Mas, além de suas atividades sacerdotais, é preciso ressaltar sua atuação no terreno da educação e cultura de Nova Friburgo: diretor do Colégio Rui Barbosa, diretor executivo da Fundação Educacional e Cultural de Nova Friburgo, fundador e diretor do Colégio Nossa Senhora das Graças são títulos que revelam o muito que fez, sem jamais auferir lucros ou proventos próprios.

Além de sacerdote e educador, Monsenhor Mielli foi um homem público. É o mesmo Dom Clemente Isnard quem afirma: “Não faltaram as sereias que o queriam lançar na política para disputar cargos eletivos, mas ele soube sempre resistir a todas as insinuações e convites, com imensa dignidade e desapego, porque antes de tudo e acima de tudo foi padre, homem de Deus, consagrado a seu serviço”.

Trabalhou até o fim, como sacerdote zeloso, educador idealista e cidadão exemplar. Deu a vida, literalmente, para servir a Deus e ao próximo, pois a causa da sua morte foi uma crise de coração provocada pelo extremo cansaço a que o submetiam seus múltiplos trabalhos pastorais. Cumpriu com muito amor a sua missão e foi receber das mãos de Cristo a coroa da vida, reservada para aqueles que se mostram fiéis até o fim.

Uma das últimas palavras do nosso homenageado foram de conforto e esperança. Elas foram recolhidas por amigos dele, na véspera da sua passagem deste mundo para a Casa do Pai. “A vida tem seus momentos alegres e felizes, bem como momentos de dores e de sofrimentos. Em ambos devemos estar unidos ao Cristo. Ao Cristo glorioso do Tabor ou ao São Cristo vítima no Calvário”.

Assim, sabendo que um homem é bom quando faz os outros melhores, queremos suplicar a Deus a sua misericórdia em favor do saudoso e querido Monsenhor Mielli, no 30° ano de seu falecimento, para que ele possa viver na eterna companhia do Cristo que ele anunciou aos homens e no qual pôs sua esperança. Suas obras permanecem e que seus exemplos nos conduzam.

Padre Roberto José Pinto, integrante do clero da Arquidiocese do Rio de Janeiro e administrador da paróquia São José, em São José

do Ribeirão, Bom Jardim.

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