Mochilas muito pesadas podem causar dores nas costas e desvios na coluna

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Mochilas muito pesadas podem causar dores nas costas e desvios na coluna
Mochilas muito pesadas podem causar dores nas costas e desvios na coluna

Dalva Ventura
Um saco de arroz de cinco quilos. Este é o peso médio das mochilas que as crianças carregam diariamente nas costas para ir e voltar do colégio. O problema atinge praticamente todos os colégios, causando protestos indignados nas portas das escolas ou nas reuniões de pais. O tema tem chamado a atenção de pediatras e ortopedistas, que alertam: o excesso de peso das mochilas é responsável por sérios desvios na coluna das crianças e adolescentes. 
Ninguém discute. Para carregar livros e cadernos, as mochilas são, sem dúvida, a melhor opção para carregar o material escolar. Anatômicas e práticas, de diversas cores, cores e tecidos, com modelos de grifes famosas, elas conquistaram de vez a unanimidade entre crianças e jovens.
No entanto, a quantidade de material exigido pelas escolas é, convenhamos, excessivo e, por isso mesmo, os estudantes são obrigados a carregar um peso absurdo—desproporcional para seu tamanho e condições físicas.
As escolas se defendem, afirmando que os alunos levam nas mochilas livros e cadernos que não serão usados naquele dia, além de objetos desnecessários, como minigrampeadores, clips coloridos, canetinhas com cheiro, borrachas em formato de bichinhos. Acrescente-se a tudo isso o agasalho, o material do inglês ou do balé e o lanche.  
Não é à toa que crianças de idades variadas têm se queixado cada vez mais de dores nas costas. Também estão aumentando muito os casos de escolioses e lordoses na infância e na adolescência. Uma coisa é certa: o peso máximo que uma criança deveria carregar equivale a 10%. Não mais do que isso. Mas basta observar um estudante carregando sua mochila pela rua para perceber que ela pesa muito mais do que sua formação muscular e óssea pode sustentar. 
O assunto é sério. Vale lembrar que na infância, a estrutura óssea tem uma parcela maior de tecido cartilaginoso—aquele que separa as vértebras e dá maior elasticidade à coluna. Por ser mais flexível, a coluna poderá ficar comprometida quando submetida a pressões exageradas. Na melhor das hipóteses, as mochilas absurdamente pesadas podem acarretar, mais tarde, vícios de postura difíceis de corrigir. 

O que os pais podem fazer
Pressionar a escola de seus filhos até que sejam encontradas soluções. A questão a ser colocada é a seguinte: afinal, até que ponto são necessários tantos livros e cadernos para se dar uma boa aula?
Não ceder aos apelos dos filhos, comprando apenas o indispensável.

O que as escolas podem fazer
Solicitar menos livros e cadernos no início de cada ano letivo. 
A instalação de escaninhos nas salas de aula. Embora pareça ser a solução ideal, tem encontrado resistências. Os dirigentes alegam que é dispendiosa, que são muitos os alunos e o próprio espaço físico das salas de aula não permite. 

Filhos “burros de carga”

“Todo início de ano letivo é a mesma história: nossos filhos vão para a escola carregando nas costas uma mochila mais pesada do que aguentam. Tentam bancam os fortes, dizem que não está pesada, mas nós vemos como envergam o corpo para suportar o peso. 
Na ânsia de resolver essa dificuldade, alguns pais compram mochilas de rodinhas, viram motorista oficial, tentam se virar, já que as escolas não oferecem muitas alternativas. Com isso, nossas crianças tornam-se cada vez mais dependentes da gente ou, se não queremos nos sujeitar a essa situação, desenvolvemos, com eles, algumas habilidades. 
Eu busco opções até na escolha do material. Tento driblar algumas exigências escolares, como o tipo de caderno que deverá ser utilizado para cada matéria, se grande ou pequeno, de quantas folhas, capa dura ou brochura... Deixo de lado a lista e considerando o tipo de aula que o professor desenvolve, eu e meu filho decidimos que cadernos comprar. Já sei que algumas exigem muitas anotações e outras pedem apenas um bloquinho de notas. É assim que escolhemos.     
Alem disso só dividimos as matérias depois que temos em mãos o quadro de horários definitivo, para melhor divisão dos cadernos de dez matérias. Ainda assim não tem jeito de escapar.  Pelo menos um dia da semana ele tem que levar dois desses tijolos para a escola, além dos cadernos pequenos e o estojo, que mesmo só com o básico do básico já pesa, a agenda escolar e o agasalho, já que o tempo em Friburgo é muito instável. No final das contas, a gente tira e tira, não tem mais o que pode tirar e continua com a mochila pesada.
Ah, sim, fora os cadernos, ainda tem os livros! Um para cada matéria. Grandes, pesados—na mochila e no bolso dos pais—e, na imensa maioria das vezes, subutilizados. Algumas escolas quando questionadas, afirmam orientam as crianças que deixem os mesmos nos armários existentes nas salas, só levando para casa quando necessário. Mas como um aluno vai estudar a matéria dada? Como vai fazer os deveres de casa? Como vai poder mostrar aos pais o que foi ensinado na escola? 
Tudo isso deveria ser revisto, reavaliado e reconsiderado, ouvindo todos os lados—pais, professores e alunos. Talvez dessa maneira encontrássemos uma forma mais gentil e mais proveitosa de lidar com essa questão. Enquanto isso, continuamos a fazer malabarismos. Os alunos aproveitam qualquer folguinha para fazer um dever passado para casa. Com isso, deixam de levar um livro nas costas. Saem no lucro. 
Sei que não é descaso dos diretores; É, realmente, muito difícil conciliar as necessidades de todos os envolvidos e resolver as coisas exige reflexão, tempo. Mas se começarmos agora a debater essa questão estaríamos com o caminho andado para o ano que vem. Aliás, essa é uma proposta que faço nesse momento às escolas de Nova Friburgo. Quem sabe conseguimos chegar juntos a um determinador comum? “
- Gilse Ventura Coutinho, mãe de Rudah, aluno do Colégio Nossa Senhora das Dores

O que as escolas têm a dizer

Está mais do que na hora de resolver este problema que aflige, indiscriminadamente, todos os estudantes—do C.A. ao ensino médio de escolas públicas ou particulares. Dirigentes e coordenadores educacionais reconhecem que as mochilas são pesadas demais, mas não sabem o que fazer para resolver a questão. Enquanto isso... 
O diretor acadêmico do Colégio Anchieta, Luiz Alberto Boing, o Lula, diz que a questão já está em pauta e é preocupante. “As edições didáticas atuais realmente são verdadeiros compêndios, sem contar todos os adereços e kits que em determinadas séries as crianças e adolescentes insistem em trazer”, declara, eximindo a escola, ao menos em parte, da responsabilidade. Garante, porém, que o Anchieta está estudando a possibilidade de disponibilizar, ainda antes da Páscoa, armários individuais para os estudantes deixarem seu material. 
Jean Beatriz Wermelinger, diretora do Colégio Nossa Senhora das Dores, não é tão incisiva. Reconhece que o problema é sério, mas poderia ser resolvido se os alunos utilizassem os armários para uso coletivo existentes nas salas de aula. Jean afirma também que recomenda aos pais a seleção adequada do material a ser levado para a escola. Um outro ponto levantado por ela diz respeito ao apelo consumista embutido nos cadernos, livros, estojos e nas próprias mochilas, cada vez mais bonitos, sofisticados, mas muito, muito pesados. “A escola não dá conta, sozinha, de resolver este problema. Por enquanto vamos fazendo o que é possível, sempre muito preocupados e atentos a essa questão”, conclui. 
E as escolas públicas, o que têm a dizer? As municipais não chegam a ter problemas, pois não adotam livros, apenas cadernos. Já os alunos das escolas estaduais passam pelas mesmas dificuldades das particulares. A diretora pedagógica regional Serrana II, Carla Bertânia de Souza, cita até a existência de legislação (lei 2.772/97) determinando que os alunos carreguem, no máximo, 10% do próprio peso nas mochilas. Ótimo! O que ninguém informa é como as escolas farão para que a tal lei seja cumprida.
Carla diz que a Secretaria Estadual de Educação tenta orientar as escolas no sentido de deixarem um espaço reservado para os alunos guardarem o material, só levando para casa o que é realmente necessário. Como assim se a escola não dispõe de armários fechados para que isso seja feito? Bianca Amorim, de 13 anos, aluna do 8º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Julio Salusse, conta que ela e seus colegas têm até de levar a mochila para o pátio na hora do recreio, sob risco de serem roubados. 
Bianca leva todos os dias para o colégio um caderno de dez matérias, que sozinho, deve pesar cerca de um quilo, fora três livros e estojo. “Sem supérfluos”, ressalta seu pai, o jornalista Henrique Amorim, lembrando que no ensino médio os livros são ainda mais pesados. 
Assim como os demais dirigentes, Carla Bertânia tenta dividir o peso do problema com os alunos ao afirmar que alguns têm outros compromissos depois da escola e por isso mesmo acabam levando nas mochilas não apenas o material escolar, mas também seus pertences pessoais. E daí, como é que fica? Não fica. Bertânia  diz que está tentando encontrar soluções junto com diretores,  professores, pais e alunos. Aguardemos, pois. 

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