Aviso aos navegantes: vou opinar. Quero opinar sobre ter que opinar sobre tudo que vemos pela frente.
Vocês já repararam como o excesso de informação na internet, especialmente nas redes sociais, faz a gente se sentir obrigado a dar opinião sobre as mais diversas coisas?
Basta que algo aconteça para que venha uma onda de opiniões para todos os lados como moléculas em movimento cego, em todos os perfis e redes sociais.
Geralmente a onda começa no Twitter, mais rápido, ousado e "treteiro". E, quase que simultaneamente, cai na rede do Facebook e do Instagram e... pronto! Somos inundados daquele assunto e temos que opinar. Simplesmente não dá pra passar batido e ficar neutro porque o tema te cerca por todas as partes e em todos os ambientes, sejam eles presenciais ou virtuais.
Sentimo-nos obrigados a ao menos dar um like em uma opinião que nos agrade. Ou discordar nos comentários. Ou, como num comichão ou surto de desejo, temos o ímpeto de postar algo solo, com nossas próprias formulações das quais nos orgulhamos mas que raramente são originais (apesar de jurarmos que fizemos algo quase inédito!).
E, assim, os polos de opiniões opostas vão se fortalecendo. É sim pra um lado, não pro outro. Preto ou branco, yin ou yang, norte ou sul, alto ou baixo. E seguimos literalmente o baile, nos opondo uns aos outros com nossas verdades manufaturadas ou artesanais, ambas quase compulsórias.
Nesse baile, vivemos também o pior efeito colateral desse tempo: às vezes damos uma opinião corriqueira, como aquele cafezinho que tomamos pela manhã - nada grandioso, profundo ou tão pensado assim.
Nós, simplesmente, registramos o que pensamos quase que no modo automático. Como se tivéssemos ido escovar os dentes ou algo rotineiro assim (sim, emitir opinião para supostas multidões se tornou algo banal).
De repente, aquela opiniaozinha-aparentemente-inofensiva produz um monte de outras opiniões de apoio ou repúdio e nos põe em evidência, muitas vezes sendo julgados em praça pública. Isso quando não há um verdadeiro enforcamento digital na praça central da cidade chamada Internet.
Mares agitados.
Devemos esperar a maré baixar, esperar tempos de mais calmaria sem tanto opinar.
Devemos ser lúcidos.
O ano que acabou de se iniciar não será um ano fácil pois teremos que escolher, votar, e nesse caso, temos a obrigação cívica de opinar.
Opinemos com lucidez e muito cuidado.
Façamos como Pinote o Fracote, personagem de Fernanda Lopes de Almeida: ele não diz o que está pensando de verdade E deixa Janjão o Fortão, louco com isso, já que não pode usar a força para arrancar a opinião de Pinote.
Trata-se de genial alusão ao poder da inteligência para combater a força bruta.
Quem sabe, assim, o mundo das redes, que é real, fique menos chato.
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