Mesmo proibida, contribuição rítmica ainda divide opiniões de pais da Escola Cecília Meireles

Há algumas semanas, polêmica envolvendo escola do Cascatinha rendeu diversas manifestações nas redes sociais e destaque na mídia
sexta-feira, 10 de junho de 2016
por Karine Knust
(Foto: Lúcio Cesar Pereira)
(Foto: Lúcio Cesar Pereira)

Há algumas semanas, uma polêmica envolvendo a Escola Municipal Cecília Meireles, no bairro Cascatinha, rendeu diversas manifestações nas redes sociais e destaque na mídia local. O motivo? A solicitação, por parte da instituição de ensino, de um auxílio financeiro, intitulado “contribuição rítmica”. O valor, destinado a complementar a alimentação, manutenção da escola e suporte às atividades diferenciadas era requisitado pelo conselho de pais --- já que a unidade trabalha com a pedagogia Waldorf, um sistema de ensino considerado mais humanizado e que possui formas mais livres de aprendizado.

No entanto, por se tratar de uma instituição pública, a arrecadação foi considerada por um grupo de pais como sendo ilegal, e gerou denúncias ao Ministério Público. Nesta semana, em entrevista para A VOZ DA SERRA, o secretário de educação do município, Renato Satyro, afirmou que a chamada contribuição rítmica foi proibida pela secretaria. “As doações podem ser feitas apenas para a Associação Vale de Luz, que irá destiná-la da maneira que preferir. Não podem ser enviados bilhete pelos alunos, cobranças, pedidos de contribuição, nada passando por alunos dentro da unidade escolar. Também proibi a venda de qualquer produto dentro da unidade.  Se qualquer pessoa da comunidade quiser fazer doações para a Associação, nós não podemos intervir, mas dentro da unidade escolar isso não pode acontecer de forma alguma. A contribuição dentro da unidade escolar já teve um fim.  Se souber que a regra foi burlada, terei que exonerar a diretora da unidade”, afirmou o secretário.

Porém, o caso ainda divide opiniões. “Quem veio para a Escola Cecília Meireles por causa da pedagogia Waldorf tem a noção de que o ensino baseado nessa pedagogia custa muito caro em qualquer lugar do Brasil. Eu entendo que para que a pedagogia Waldorf possa funcionar numa escola pública, os pais precisam se envolver e a contribuição rítmica foi a maneira que encontramos para suprir certas necessidades que não estão na cartilha da prefeitura e não fazem parte do aporte de verbas que vem de fora da escola”, defende a mãe e voluntária em atividades realizadas na Escola Cecília Meireles, Júlia Borges.

Outro pai a favor do auxílio financeiro é Victor Vieira: “Já seguimos com nossos filhos nessa pedagogia Waldorf há mais de dez anos e sempre foi assim. Minha esposa era professora Waldorf no Rio e viemos para cá porque acreditamos muito na pedagogia sendo pública, exatamente por possibilitar que crianças de famílias que não têm condições financeiras possam usufruir dessa educação. Não vejo problema na contribuição, mas entendo que, de fato, existe uma forma mais precisa e administrativamente mais adequada de gerir esse dinheiro, mas não concordo com o jeito que essa questão veio à tona”, disse Victor.

Já outros pais questionam a necessidade da contribuição e a transparência do processo. “Existe o discurso de contribuição voluntária, sem valor estipulado e que deve ser feita com o coração. Mas esse valor ajuda a pagar até o salário de professores. Então, como é possível criar uma despesa fixa baseada numa despesa flutuante? As despesas cobertas por essa contribuição também não ficam claras. Ela foi criada por um grupo de pais e o Conselho de Pais se apropriou disso e a escola administra esse fundo. Eles querem afastar o vínculo da escola com essa prática, mas na realidade são eles que gerem essa verba da contribuição. Os valores chegam a ser superiores a R$ 10 mil”, contrapõe o pai Yan Muniz.

“A pedagogia Waldorf não utiliza alguns materiais que as escolas tradicionais têm, como os livros didáticos, por exemplo. E aí, os pais precisam bancar o material das crianças. Mas, se a escola é pública e não usa livro didático, por que temos que pagar e porque esse material não pode ser substituído por aqueles que atendem as necessidades da pedagogia?”, questiona a mãe Marcela Oliveira.

"O ensino é integral, mas há crianças sem aula durante a tarde porque falta professor. Ao questionarmos isso, ouvimos, da própria direção da escola, que se quiséssemos professor a tarde para nossos filhos deveríamos pagar por esse profissional. Disseram que a gente quer acabar com a escola e a pedagogia Waldorf e isso não é nossa intenção, de maneira alguma. Não estamos contra a escola, a pedagogia ou a prefeitura. Nosso posicionamento é sim a favor do fim dessas contribuições rítmicas, até porque é um ato ilegal, e a favor de que as responsabilidades que competem a prefeitura e a associação sejam claras e cumpridas”, desabafa a mãe Patrícia Silveira.

O convênio

A Escola Municipal Cecília Meireles existe há mais de duas décadas atendendo crianças do maternal ao ensino fundamental, mas, há pelo menos dez anos, funciona em caráter público, após fechar um convênio com o município.

De acordo com o secretário municipal de educação, Renato Satyro, “a Escola Cecília Meireles é municipal e por isso todas as obrigações com material, merenda e funcionários são da prefeitura”, afirma, acrescentando que a única coisa que fica difícil de a prefeitura fazer são investimentos de manutenção no prédio onde funciona a instituição. “Isso porque o imóvel não é nem alugado nem próprio, ele é cedido no termo do convênio. A associação faz as melhorias e ampliação de salas porque o imóvel é deles”, disse.  

Ainda segundo o secretário, “o bom trabalho feito pela escola é inegável e não está em discussão neste momento, tampouco a pedagogia Waldorf. As únicas coisas que estão em discussão são as práticas realizadas dentro da unidade escolar. Como a Escola Cecília Meireles trabalha com uma pedagogia diferenciada, a subvenção é para a Associação Vale de Luz fazer a formação continuada, o treinamento de profissionais na pedagogia Waldorf. Em relação a alimentação, a unidade está proibida de dar alimentação diferenciada aos alunos. Os alimentos oferecidos pela prefeitura são fartos e temos uma nutricionista exatamente para fazer um cardápio adequado para toda a rede e ele deve ser seguido. A escola utiliza material diferenciado, assim como a outra unidade pública Waldorf na cidade. Já me coloquei a disposição para que sejam preparadas as especificações desses materiais para solicitarmos na próxima licitação de material de didático”, esclarece Renato Satyro.

Ele continua afirmando: “A minha visão, como secretário, é que a única fonte de recurso que a Escola Cecília Meireles poderia precisar dessas doações é em melhorias e investimentos no prédio, já que ele não é de responsabilidade da prefeitura. De qualquer forma, essas doações estão proibidas dentro da unidade escolar”, finaliza o secretário.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Educação | Escola Cecília Meirelles
Publicidade