Memorial 12 de Janeiro: uma homenagem à memória dos que se foram tragicamente; um símbolo da volta por cima

quinta-feira, 02 de fevereiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Memorial 12 de Janeiro: uma homenagem à memória dos que se foram tragicamente; um símbolo da volta por cima
Memorial 12 de Janeiro: uma homenagem à memória dos que se foram tragicamente; um símbolo da volta por cima

Henrique Amorim

Quem dera que a vida fosse feita só de boas lembranças e bons acontecimentos. Os episódios tristes fazem parte do cotidiano de todos e precisam, também, ser lembrados. Fazem parte da história. É com essa filosofia que a instituição multicultural presente há 46 anos no município, o Grupo Arte, Movimento e Ação (Gama), criou, com a ajuda de parceiros, o Memorial 12 de Janeiro, que será inaugurado amanhã, 3, às 11h, no Largo Messias de Moraes Teixeira (a pracinha junto à calçada do edifício do Centro Médico), no Suspiro.

A obra é uma reverência às 426 pessoas que perderam suas vidas aqui em Nova Friburgo, de maneira trágica, com a tempestade do ano passado. Ao mesmo tempo, simboliza a força da população local na luta pela retomada de suas vidas e do cotidiano de Nova Friburgo. Em concreto armado e ferro, o monumento teve todo seu material doado pelas empresas locais do ramo de construção, Gemini, Pedrinco e Wermar, dos irmãos Joel, Joilson e Jairo Wermelinger, que abraçaram a ideia do Gama. A Prefeitura apenas cedeu o espaço público, sem injetar qualquer recurso público no empreendimento.

Antes mesmo da inauguração, o Memorial 12 de Janeiro já impressiona pela imponência—são 40 toneladas de concreto puro distribuídas em 11 metros de comprimento por três metros de largura. As estruturas de ferro bruto estilizam um desconhecido, símbolo da guerreira população friburguense, liberando a fênix ao universo. “É o retrato fiel desse povo que sofre, mas que em vez de desistir, não desanima nunca e busca sempre a retomada. O friburguense é um exemplo que deve ser valorizado”, reflete o executor do projeto arquitetônico do memorial, o artista plástico e diretor de artes visuais do Gama, João Baptista Felga de Moraes.

Do outro lado da estrutura observa-se um mosaico nas cores azul, branca e preta estilizando as curvas sinuosas—antiga marca das curvas do Rio Bengalas—em meio a silhuetas das cortinas de montanhas que circundam o eixo Olaria-Duas Pedras. Amanhã o memorial vai ganhar ainda mais beleza. Além do ajardinamento do entorno, o empreendimento contará com duas planópias para bandeiras do município, estado, Brasil, colônias fundadoras e também das bandas Euterpe e Campesina Friburguense, duas instituições centenárias símbolos da cultura local. Num piso base junto ao memorial serão instaladas esfinges dos brasões de Nova Friburgo, do Gama e da família Wermelinger.

Outro diferencial será a instalação de uma pira eletrônica junto à placa com a lista oficial dos nomes dos mortos na tragédia climática de 2011 que permanecerá acesa 24 horas por dia em homenagem à memória das vítimas, sem contar a instalação de uma placa no largo com o nome de Messias de Moraes Teixeira, professor e defensor público no município. “Este espaço será um lugar para as pessoas relembrarem os que se foram, relembrar o triste episódio das chuvas, não para se lamentar, mas para pensar em reerguer a cidade”, diz o presidente do Gama, Chico Figueiredo.

Ele destaca ainda que sofreu e se emocionou com o ocorrido na fatídica madrugada de 12 de janeiro de 2011, mas não pensou, jamais, em desistir. “Infelizmente aconteceu. Ninguém queria, mas é preciso registrar esse episódio e fazer algo para mudar Nova Friburgo. Para melhor. Esse memorial não é um artifício de publicidade. É uma homenagem. Foi erguido no centro da cidade, mas poderia ser em outro lugar. A Prefeitura foi sensível à causa e nos cedeu o espaço. Quem viveu o drama da tragédia, sabe bem o que é esse memorial: um resgate”, valoriza Chico.

Memorial é o quarto monumento erguido pelo Gama

O Memorial 12 de Janeiro integra um circuito de monumentos criados pelo Gama em prol da preservação da história e da memória friburguense. Os demais empreendimentos foram erguidos no—agora oficializado pela secretária de Turismo, Bianca Tempone—Circuito Turístico-Cultural do Parque Santa Eliza, onde se encontram a Praça da Criança—homenagem do Gama ao deputado federal Galdino do Valle Filho, autor do dia da criança—e os monumentos ao artista plástico friburguense Alberto da Veiga Guignard e ao Rei Dom João VI, que nos idos de 1818 autorizou a vinda de imigrantes europeus ao Brasil criando a Vila de Nova Friburgo.

O fundador do Gama, Júlio Cezar Seabra Cavalcanti, o Jaburu, festeja a nova criação do grupo: “O Memorial 12 de Janeiro é um grito de alerta para preservar e divulgar nossa história. Um povo sem memória e não conhecedor de sua história é um conjunto de ninguém”, filosofa ele lembrando que a ideia do memorial surgiu num rompante quando veio a sua mente a imagem do Memorial dos Bandeirantes, em São Paulo, misturando-se à imagem de um troféu do Grêmio Português.

“Pedindo licença a Arquimedes, gritamos: Eureca! Está aí o resultado respeitando-se a vida dos que sobreviveram a tragédia e reverenciando a memória dos que partiram, em nome da recuperação de Nova Friburgo”, diz Jaburu ante o memorial.

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