Meio ambiente: Friburgo é pioneira em agricultura orgânica

Cidade fundou a Associação de Agricultores Biológicos do estado e lançou feirinha saudável nos anos 80
quarta-feira, 07 de junho de 2017
por Ana Borges
Sítio São Bernardo, da família Bicalho, em Cardinot (Fotos: Divulgação)
Sítio São Bernardo, da família Bicalho, em Cardinot (Fotos: Divulgação)

Cresce a olhos vistos o entendimento da população mundial em relação ao meio ambiente, à produção de alimentos, à preservação do planeta. A agricultura é uma das partes da cadeia que une todo esse sistema, em suas várias formas e métodos de plantio, responsável pela sobrevivência do ser humano. O mesmo acontece em Nova Friburgo, que conta com um solo fértil, clima bem definido e grande variedade de produtos hortifruti e hortaliças, da agricultura convencional à orgânica. Há muito o que se comemorar, o que vem ocorrendo em atividades por todo o país, promovidos por movimentos sociais, pelo poder público, privado, por comunidades, bairros, entre outros grupos. Como, por exemplo, este:

 “A Rocinha ficará mais verde a partir da próxima terça-feira, dia 6, em mais uma iniciativa que pretende sensibilizar e mobilizar moradores sobre a importância de preservar o meio ambiente. O 1º Mutirão de Plantio De Olho no Lixo, organizado pela Secretaria estadual do Ambiente em parceria com Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e o Viva Rio Socioambiental marcará as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho. Estudantes do Centro Integrado de Educação Pública Ayrton Senna e crianças do Instituto Reação vão se unir aos agentes socioambientais que trabalham no programa De Olho no Lixo Rocinha para plantar mudas frutíferas e de flores no terreno ao lado da Quadra da Roupa Suja.”

Nova Friburgo também teve atividades, entre elas o projeto ambiental Bomba de Sementes (nativas da Mata Atlântica) arremessadas do teleférico por estudantes, com a finalidade de ajudar o reflorestamento de áreas urbanas. As “bombas ecológicas”, compostas de argila, adubo orgânico, água, sementes e plântulas (embrião vegetal já desenvolvido), fizeram a alegria da criançada, ao mesmo tempo em que mostrou a importância da preservação das matas e florestas para as novas gerações. Lá como cá, bons exemplos.    

Cadê o sabor?

Mas os problemas ainda são imensos, há muito trabalho a ser feito, obstáculos a serem vencidos. Um dos problemas mais preocupantes no cenário mundial é a poluição, e no setor agrícola, o uso de agrotóxicos e fertilizantes. Para os engenheiros agrônomos Taila Guimarães e Daniel Dias, da Vertente Sul Engenharia, já avançamos nas duas questões, mas estamos longe do ideal.

“As pessoas sabem o que precisa ser feito, acompanham o noticiário e conhecem as campanhas de conscientização. Ainda assim, boa parte dessa mesma população continua jogando lixo nas ruas, nos rios, em qualquer lugar. Cabe às autoridades públicas não apenas elaborar campanhas, mas fiscalizar e punir. E aos moradores, mudar seu comportamento, já que o desrespeito é prática comum e contínua”, diz Taila.

No que diz respeito aos venenos, Daniel Dias ressalta:

“Falando de maneira coloquial, podemos dizer que o agrotóxico é o praguicida que elimina os insetos que atacam a lavoura, o herbicida age contra as ervas daninhas, e o fertilizante que é o adubo, é o que a planta come para se desenvolver. Muita gente reclama que o tomate não tem mais gosto de tomate e acha que a culpa é do agrotóxico. Nem sempre. O problema pode ser o adubo usado na agricultura convencional que tem uma alta solubilidade. Esse tipo de adubo é absorvido com facilidade pela planta, e isso certamente altera o gosto do produto”, explicou Daniel, que junto a Taila, são proprietários de um sítio onde cultivam orgânicos.

Abio nasceu em Friburgo

Na produção de orgânicos são usadas fontes diferentes de tratamento. A ureia, que é uma fonte de nitrogênio usada no adubo, é um derivado do petróleo, portanto, proibido na agricultura orgânica, onde são usadas outras fontes. São “pequenos” detalhes que fazem toda a diferença entre um tipo e outro de produção de alimentos. Na agricultura orgânica, por exemplo, usa-se resíduo de vegetal como fonte de nitrogênio, como a mamona, na quantidade correta do que a planta precisa, para não interferir no metabolismo dela. Todo esse conhecimento e cuidado devem ser considerados para o resultado que se quer alcançar”, argumentou Daniel.

Outra conquista importante foi a criação do Sistema Participativo de Garantia (SPG) através de lei aprovada em 2010, que prevê mecanismos de garantia da qualidade dos produtos orgânicos, com a Certificação por Auditoria e o Controle Social para Venda Direta, que deu uma alavancada nos negócios. O consumidor fica mais confiante e passa a ver com mais naturalidade esse tipo de cultivo.

“Esses mecanismos são formas de avaliar se os produtos foram produzidos de acordo com os regulamentos da agricultura orgânica”, explicou Taila, lembrando que esse controle e fiscalização são importantes para tranquilizar os consumidores quanto à qualidade e procedência do que está sendo adquirido.

Esse movimento em direção aos orgânicos tem uma história importante aqui no município, onde foi criada a Abio (Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro), em 1984. Um ano antes, um grupo de agricultores reuniu-se e decidiu implantar uma das primeiras feiras de produtos orgânicos do Brasil, a Feirinha da Saúde. No ano seguinte, esse mesmo grupo fundou a Abio, para expandir o movimento orgânico, na época pouco conhecida no Brasil.

Hoje, o Grupo Friburgo SPG da Abio conta com 16 produtores de cinco municípios: Nova Friburgo, Bom Jardim, Duas Barras, Cordeiro e Sumidouro. “Nossos escopos produtivos estão na produção primária vegetal (hortaliças e frutas) e processamento de produtos de origem vegetal (processamento mínimo, doces e compotas), produção primária animal (apicultura, avicultura postura) e processamento de produtos de origem animal (mel e ovos)”, enumera Taila.

Serviço

“A face de uma montanha voltada ao Sul/Sudeste é a que recebe diretamente os ventos do Atlântico e por isso apresenta maior umidade, biodiversidade de espécies, resiliência e vigor. Com esta inspiração, a Vertente Sul Engenharia foi criada em Nova Friburgo com a missão de promover serviços especializados de engenharia, topografia e meio ambiente sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável”. Mais informações no site: vertentesulengenharia.com.br.

Todo o trabalho da Vertente Sul de pesquisa com o grupo Friburgo SPG da Abio é realizado junto a Pesagro CEPH - Observatório da Agricultura Orgânica, projeto da pesquisadora Maria Fernanda de Albuquerque da Costa Fonseca.

  • O mapa da oferta de produtos orgânicos do grupo SPG Friburgo (Infografia: Maria Fernanda de Albuquerque da Costa Fonseca)

    O mapa da oferta de produtos orgânicos do grupo SPG Friburgo (Infografia: Maria Fernanda de Albuquerque da Costa Fonseca)

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