Médicos voltam a alertar para riscos do cigarro

quarta-feira, 03 de setembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a cada ano o cigarro provoca 200 mil mortes no Brasil. Há mais de 50 doenças relacionadas ao consumo de tabaco. Por isso os médicos redobram o alerta: até aqueles que não fumam podem ter problemas de saúde.

A aposentada Lúcia Sotelinho de Sá revela que fumou escondido até dentro do hospital, enquanto se preparava para a cirurgia no pulmão, há 12 anos. Só teve um jeito de ela parar: “Eu perdi um pulmão. Infelizmente, foi uma coisa muito ingrata da minha parte, ter que chegar a esse ponto para parar de fumar”, admite.

A pneumologista Cristina Cantarino, que atendeu Lúcia, diz que só 25% dos pacientes são tratados no estágio inicial da doença, o que facilita. “O que acontece é que, apesar de todos os avanços em quimioterapia e radioterapia, o tratamento cirúrgico ainda continua sendo a melhor opção, que fornece maior chance de cura do câncer de pulmão”, diz Cristina Cantarino.

A fumaça pode ser fatal também para quem não fuma. Um estudo feito pelo Inca mostra que todo dia morrem no Brasil pelo menos sete pessoas de doenças provocadas pelo chamado fumo passivo. O Instituto Nacional do Câncer caracteriza como fumante passivo a pessoa que nunca fumou e mora com pelo menos um fumante no mesmo domicílio. Mais de 23 mil pessoas foram avaliadas pela pesquisa no país.

O número de mulheres com câncer de pulmão também está aumentando, segundo o Inca. A esteticista Mayara Marques fumou um maço de cigarros por dia, durante 40 anos. Ela teve que se afastar da direção da clínica de estética que montou para ser operada, há quatro meses. “O câncer é um desafio. Às vezes estou em um lugar, a pessoa vai comprar um cigarro, eu falo: ‘Desculpe, mas não compre cigarro. Se soubesse como dói um câncer de pulmão’. O bem mais precioso do mundo é a saúde. Acho que realmente você colocar uma fumaça para dentro e depois soprar não vale a pena de jeito nenhum”, comenta a esteticista.

Nem sempre é fácil se livrar do vício. Cristina sugere um ponto de partida: “A primeira mensagem que eu gostaria de deixar é que a fissura, aquela vontade intensa de fumar, dura no máximo cinco minutos. Todo fumante fuma muito mais do que realmente deseja. É uma dica simples que pode ajudar muita gente”, ensina a pneumologista.

Um vício que começa cedo

O avô da jovem fumante Larissa Loverro morreu por causa de um câncer no pulmão. “A doença do meu avô foi uma das piores coisas que eu já vi, não quero presenciar isso nunca mais. Hoje, vejo que começar a fumar foi uma estupidez”, lamenta a garota, de 16 anos. O vício dela começou com o desejo de novas experiências, sentimento típico da adolescência.

A história de Larissa ilustra o que as pesquisas mostram: as meninas estão fumando mais, e cada vez mais cedo. Elas já representam 54% dos jovens que usam o cigarro como uma espécie de muleta para as inseguranças da idade.

Os pesquisadores também descobriram que a dependência do cigarro atinge de forma diferente meninos e meninas. Nos garotos a dependência costuma ser física – ou seja, o prazer vicia; nas meninas, o tabaco costuma pegar pelo lado emocional. “Daqui para frente vai haver uma necessidade de pensar em abordagens diferentes em campanhas de controle do tabagismo”, acredita a médica cardiologista Silvia Cury Ismael.

Larissa já decidiu: vai parar de fumar. “Fumar é gostoso, mas tem outras coisas na vida que dão prazer e não matam”, justifica.

Cai número de fumantes brasileiros

O número de fumantes brasileiros está caindo, mas, mesmo assim, 200 mil pessoas são mortas pelo cigarro todos os anos. A campanha contra o cigarro no país é considerada vitoriosa pelas organizações internacionais. Nos últimos 19 anos, o número de fumantes diminuiu de 32% para 20% da população.

“O Brasil é um dos poucos países que oferecem tratamento na rede pública de saúde”, diz o pneumologista Alberto José Araújo. Mas os efeitos causados pela fumaça ainda não deixaram de pesar nos gastos com a saúde. Em 12 meses são R$ 500 milhões só para tratar ex-fumantes.

Dos males diretamente causados pelo tabagismo, um dos mais perigosos é o enfisema pulmonar, também conhecido como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Calcula-se que, por hora, quatro brasileiros morram vítimas do problema. Especialistas alertam que pelo menos 80% das pessoas que têm a doença não estão diagnosticadas corretamente.

“As pessoas precisam estar atentas aos primeiros sintomas da DPOC, que são tosse com catarro. Em pouco tempo esse quadro pode evoluir para cansaço e falta de ar. O sujeito sobe um lance de escada e já fica exausto. Muitas vezes, uma simples radiografia do pulmão não é suficiente para detectar o problema”, afirma o pneumologista Miguel Aidé.

A Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Nova Friburgo está se preparando para tratar as pessoas que querem parar de fumar. É que está sendo implantado no município o Programa de Controle do Tabagismo. As equipes já estão sendo treinadas para o atendimento e ainda este mês chegarão os produtos como medicamentos, gomas de mascar e adesivos para auxiliar no tratamento.

Das pessoas que buscam ajuda, 70% são mulheres acima dos 40 anos. Na maioria das vezes elas têm mais dificuldade para abandonar o cigarro e mais facilidade para adoecer. A maioria dos participantes de programas que auxiliam a abandonar o vício de fumar já tem uma ou mais das 55 doenças que podem ser provocadas pelo hábito de fumar.

Paulo Venceslau, José Maria Roubby, Vilma de Aquino e Newton Riffin perderam a conta de quantas vezes juraram parar nos últimos 40 anos. Mesmo doentes, fracassaram. A esperança deles é de que com a implantação do Programa de Controle do Tabagismo no município, eles possam enfim conquistar a libertação do vício. “Acredito que o acompanhamento do programa ajudará. Além disso, tem os grupos de ajuda que servem de incentivo, pois um dá força para o outro. Mas, na verdade, o que tem que ter mesmo é muita força de vontade para parar de fumar”, atesta Paulo.

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