Maternidade – Filhos depois dos 40 (entrevista)

Diversos fatores influenciam atualmente a tomada de decisão acerca do momento mais oportuno para a maternidade. Porém, a gravidez não programada em mulheres na faixa dos 40 também ocorre com frequência
sexta-feira, 08 de maio de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Maritza Bezerra Jurberg e sua filha (Arquivo pessoal)
Maritza Bezerra Jurberg e sua filha (Arquivo pessoal)

Segundo especialistas, mães maduras estão mais preparadas psicologicamente, e se sentem mais tranquilas para assumir a gravidez e a maternidade. Também dizem que há menos conflitos emocionais, maior planejamento relacionado ao momento de ser mãe, mais desejo de se dedicar àquela nova vida que chega. Na prática, observamos que o recém-nascido é aguardado como um privilégio e um presente, proporcionando uma grande dose de felicidade aos pais, e por extensão, às famílias. O fenômeno do adiamento da maternidade tem a ver com o processo de mudança nos padrões familiares, que vem ocorrendo no mundo em todas as esferas da vida cotidiana, inclusive no contexto sociofamiliar brasileiro. A inserção crescente da mulher no mercado de trabalho, a decisão de melhorar o currículo escolar, as novas técnicas de controle da fertilidade são fatores que atualmente influenciam a tomada de decisão acerca do momento mais oportuno para a mulher tornar-se mãe. Porém, nem sempre o planejamento é uma opção segura. A gravidez não programada em mulheres na faixa dos 40 anos é um fato que ocorre com frequência também. Conheça aqui dois destes casos, nas entrevistas com Maritza Jurberg e Aline Braga.    

Maritza Bezerra Jurberg é professora de artes do ensino fundamental e tutora à distância de Artes Visuais. Ficou grávida aos 43 anos, e hoje é mãe de Marina. Ela é carioca, mora no Rio, e adora animais: “Tenho duas cachorras velhinhas e um casal de gatos que até pouco tempo atrás pensava ser meus únicos filhos. Eles continuam a ser mimados, mas agora eles têm uma irmãzinha, que dorme abraçada com eles, puxa seus rabos e quando dividem o mesmo biscoito vira a maior bagunça”, conta ela, divertida. 

Light – Como você reagiu quando soube que estava grávida?
Maritza – Como a gravidez não foi programada, tomamos um susto. Quando descobrimos já estava grávida há quase três meses. Eu tinha um cisto, estava tendo muita cólica, mas achei que a menstruação irregular era por causa disso. A princípio, eu e meu namorado ficamos apavorados. Ele sempre quis ter filhos, é apaixonado por crianças e eu costumava dizer, brincando, que ele teria que arranjar outra namorada para realizar o sonho de ser pai. Então, quando soubemos, foi uma chuva de sentimentos, preocupações e emoções. Já tinha desistido e me conformado de não ter filhos. Daí, quantos questionamentos, inseguranças... Não tinha ideia de como seria minha vida dali em diante. ‘Passaria por muitas transformações? E quando minha filha tiver 20 anos? Terei 64...’, lembrei. Mas, tudo passou. Hoje em dia penso pouco nisso e aprendi a curtir cada novidade da Marina. 

Como foi a gestação?
De muita preocupação e exames por ser uma gravidez de risco, por causa da idade. Mas foi tranquila até a 28ª semana. Até que, numa consulta de rotina, embora os exames indicassem que estava bem, havia também um pouco de inchaço, entre outros sinais, mas nada grave. Estávamos em dezembro e o calor não ajudava. Então, dois dias depois minha pressão subiu muito e fui internada na UTI. Fiquei duas semanas entre a UTI e o quarto, com risco tanto para o bebê como pra mim. Passei Natal, Ano Novo e meu aniversário internada, até que no dia 7 de janeiro um exame detectou que a alimentação do neném estava prejudicada e a cesária foi marcada para aquele mesmo dia. Ficamos nervosos, pois tinha acabado de completar 30 semanas e sabia que o bebê ainda estava muito pequeno. Enfim, Marina nasceu com 1,200kg. Nasceu chorando, como todo bebê, mas foi direto para a UTI neonatal. Seu quadro era bom, não teve complicação nenhuma e após 45 dias, já com 2.500kg, fomos para casa.

Se pudesse escolher, como seria o parto?
Sempre quis o melhor para o bebê, parto normal se desse, mas sabia que talvez tivesse que fazer cesária. 

Você escolheu o nome antes ou depois de ver a carinha dela?
O nome foi escolhido logo que descobrimos, sempre achamos que seria menina. Marina era o nome da minha avó materna e da avó materna do pai também. Nossas mães ficaram nas nuvens!
  
Você acha importante a mulher ter filhos ou vê com naturalidade a opção de não tê-los? 
Acho normal a opção por não ter, apesar de ainda haver cobrança nesse sentido, mas depois dos 40, ela diminui. Eu estava bem com o fato de não ter filhos e depois sempre considerei a adoção uma opção válida.

No seu entendimento, as mulheres estão priorizando outros interesses, investindo na profissão, querendo mais independência, viagens, liberdade? 
Acho que sim. Filho depois dos 40 acarreta grandes mudanças na vida da gente. Nosso corpo não está preparado, como aos 20 anos, para noites sem dormir, com o peso e posições para trocar fraldas, banhos, costas sempre doloridas e um enorme cansaço, tudo resultado da idade. E para piorar, claro que as avós também estão mais cansadas para ajudar. Nossas mães têm mais de 74 anos e não dá para deixar com elas uma criança que não para, com pouco mais de um ano de idade. Não é nada fácil ficar correndo atrás o tempo todo, levantar 10 quilos do chão para trocar fralda. Se é cansativo para mim, imagina para elas. Mesmo assim, elas ajudam muito, mas não posso deixar a Marina o dia todo com as avós. 

Como você vê o papel de mãe? Hoje é diferente de outros tempos?
Mãe é igual, sempre. Zelamos por nossos filhos, não importa a religião, rezamos para que tenham saúde e sejam felizes. Hoje temos menos tempo, a vida é mais corrida, mas acho que a base de ser mãe é a mesma, em qualquer época.

Você se preocupa com o futuro de seu filho? Ou prefere não pensar nisso agora?
Me preocupo, mas prefiro viver um dia de cada vez. Aliás, um dia depois do outro, com muitas noites mal dormidas no meio (risos). Naturalmente, tento fazer um futuro melhor para ela, a cada dia, mas sem pensar muito em como vai ser daqui a 10 ou 20 anos.

Aline Braga da Silva é friburguense, 43 anos, formada em administração de empresas. É representante comercial e no momento se prepara para fazer concurso público. Aline deu à luz Antonia aos 40, fruto de uma gravidez não programada, mas que lhe trouxe muitas alegrias. 

Light - O que sentiu quando soube que estava grávida?  
Aline - No início fiquei assustada, com medo, pois não era casada com o pai de Antonia, apesar de na época estar com ele há quatro anos. Hoje somos amigos.

Como foi a gestação? 
Foi excelente. Frequento academia desde os 15 anos e em nada mudou minha rotina nos treinos.

O parto foi normal ou cesariana?  
Foi cesária, mas tinha optado pelo normal. No entanto, quando chegou a hora do parto não tive dilatação suficiente e a médica até induziu, mas não foi suficiente.

Você escolheu o nome do seu seu bebê antes ou depois de ver a carinha dela? 
Escolhi antes de ver a carinha dela, quando soube que era menina. Coloquei esse nome em homenagem ao meu pai Antonio, falecido há 15 anos.

Acha importante a mulher ter filhos ou vê com naturalidade a opção de não tê-los?
Acho importante a mulher ter filhos, porém não vejo nenhum problema naquelas que não queiram. 

No seu entendimento, as mulheres estão priorizando outros interesses, investindo na profissão, querendo mais independência, viagens, liberdade? 
Sim, estão em busca de novos desafios e deixando para ser mães mais tarde, quando o desejo materno é naturalmente despertado. Penso que na maturidade a mulher está mais preparada para encarar a missão dando valor também ao aspecto divertido de ser mãe.

Como você vê o papel de mãe? Hoje é diferente de outros tempos? 
Vejo como um exemplo de caráter e bons costumes em toda a educação e acho que não há diferença entre hoje e ontem. A mãe que ama quer o melhor para seus filhos. A forma de educar pode até ser diferente, com mais liberdade e acesso a mais informações, porém o amor é o mesmo.

Você se preocupa com o futuro de seu filho? Ou prefere não pensar nisso agora?
De certa forma sim, mas não deixo isso ser relevante agora. O futuro a Deus pertence. O melhor é descansar no Senhor. 

 

Foto da galeria
Aline Braga da Silva e a filha (Arquivo pessoal)
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