Penúlthimas Nothas
* João Carlos Moura
Naquele tempo farmácia se escrevia com ph: pharmacia. Portanto, voltemos àqueles tempos (sem correção ortográfica) que dom Sobrinho, talvez ainda seminarista, amava – na surdina, entre amores proibidos e poluções noturnas... àqueles tempos... de mistérios gozosos.
Dom Helder? Ele odiava, mas amava às escondidas Hitler e os Rolling Stones... Mussolini pra ele talvez fosse (quando seminarista, o que se pode inferir agora) um dos grandes homens da história muderna (assim como ele mesmo fala) em que se meteu o mundo... e outros padrastos se meteram... ou só meteram... com o perdão da igreja de dom Sobrinho.
O seu mundo, o seu fundo, de poupança ou de Madoff (e outros mundos e fundos) se perderam... ou sifu...
Os fundos de Madoff foram para que mundos?
Nunca vi ninguém condenado a mais de cem anos de prisão estar tão calmo, seguuro e feliz como Merdoff – o canalha rico.
Fala Merdoff, fala: onde você meteu aquela grana? Que m... você fez com tanto dinheiro?
Em que mundo e fundos?
Ronaldo – o Fenômeno faz gol. Isso no campeonato brasileiro é um fenômeno: o gol.
Por causa disso (um gol) ganha quatrocentos mil reais por mês no Curintians. Para fazer um gol. O Senac e o Sesi deviam fazer cursos para a garotada desempregada: como fazer um gol e ganhar milhões às custas de bobalhões...
A natureza e suas surpresas
Aprendi com Burle Marx, no sítio dele, que as plantas precisam ser regadas pelo menos uma vez por semana (ele me falava e regava as plantas) “como se tivesse uma chuvarada”. Lavar as folhas, essencial para a nutrição delas, respiram com liberdade (sem a sujeira, como o cigarro faz no pulmão) e assim ficam mais exuberantes. Algumas plantas de interior podemos lavar com leite (as folhas), porque ficam limpas e brilham.
Peixes, épocas e seus nomes
Certa vez recebi uma encomenda para levar uns peixes de Búzios para o Rio. Não tinha no mercado os tais peixes, estava fora de época. Quem me ensinou foi o Zezinho, pescador nos Ossos (Búzios): peixe é como fruta... seu João... tem a época certa para dar.
Em Maceió vi uns peixes avermelhados. Lá chamam de cioba e em Búzios de vermelho: assim também acontece com certas plantas, que mudam de nome, depende da região em que estão.
*Psicanalista e artista plástico
NOVA ORTOGRAFIA, DÚVIDAS DEMAIS
Acordo da língua portuguesa ainda promove debates entre acadêmicos e população
Por Orlando Castor (Universidade Candido Mendes - Jornalismo - 7º período)
Desde 1º de janeiro deste ano, todos os países que falam português estão sob novas regras ortográficas através de um acordo discutido desde 1995 pela CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Com isso a população de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Timor Leste e São Tomé e Príncipe devem prestar muita atenção na hora de escrever desde um simples bilhete até documentos acadêmicos e obras literárias.
Segundo a Academia Brasileira de Letras, a reforma é pequena no Brasil: cerca de 0,6% das palavras sofreram algum tipo de alteração. Entretanto, em Portugal e nos demais países as mudanças foram mais radicais, atingindo 1,7% dos vocábulos.
“Houve necessidade de uma reforma para unificarmos cada vez mais a língua portuguesa e torná-la mais forte internacionalmente, ampliando a produção literária e acadêmica. Em Portugal as modificações foram bem maiores, e por isso eles dizem que trata-se de uma imposição brasileira, o que não é verdade”, explica a professora Cristiane Hetom, mestre e doutoranda em Língua Portuguesa.
O alfabeto é o primeiro sistema a passar por mudanças, e passa a ter 26 letras, introduzindo-se oficialmente K, W e Y. As demais modificações do novo acordo se deram no modo de escrever, como o trema (¨), sinal colocado sobre a letra U e que deixa de existir. Dessa maneira, passamos a escrever linguiça, sequência, ensanguentado etc. Em Portugal, a nova ortografia trouxe a extinção de letras em várias palavras: actor agora se escreve ator, Egipto agora é Egito, húmido escreve-se agora úmido etc.
Em todo o sistema linguístico as dúvidas dos alunos aparecem nas regras de acentuação, que para nós, brasileiros, passam a ser iguais àquelas já usadas em Portugal, Angola e Moçambique.
Por isso, é bom prestar atenção:
- Não se usa mais o acento nos ditongos abertos éi e ói das palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba, as paroxítonas. Exemplo: alcateia, assembleia, boia, Coreia, estreia, ideia, joia, plateia etc.
- O acento também não se aplica nas letras i e u em palavras paroxítonas quando vierem depois de ditongos. Exemplo: bocaiuva, feiura etc.
- Não se usa mais o acento em palavras terminadas em eem, oo e oos. Exemplo: abençoo, creem, enjoo, leem, voos, zoo etc.
- Não se usa mais o acento que diferenciava algumas palavras. Exemplo: para (verbo parar), pelo (substantivo), polo, pera etc.
Outro dispositivo do acordo ortográfico estabelece uma série de regras em relação ao hífen. Dúvida entre profissionais do texto, professores e alunos, algumas palavras foram aglutinadas, outras separadas e demais ganharam o pequeno sinal.
“Em relação ao hífen, são mais de 12 regras específicas para cada caso. Acredito que, por aí, a pessoa tenha paciência e leve um tempo um pouco maior para se acostumar a esse novo jeito de escrever determinadas palavras. O exemplo da mudança é a palavra micro-ondas, agora escrita dessa forma”, esclarece a professora Cristiane.
Com o início do ano letivo de 2009, os alunos tiveram que integrar ao material escolar mais um livro: o dicionário atualizado com as regras e palavras do novo acordo ortográfico – utensílio essencial também para os universitários, afinal, algumas faculdades públicas do país já pedem artigos, monografias, teses e dissertações afinadas com as regras mais recentes da língua portuguesa.
“É bom ter calma e não é preciso ter pressa. Recomendo, principalmente aos universitários, que no tempo livre olhem o dicionário do novo acordo e comecem a agregar as novas palavras. Provas de concursos e vestibulares é que trabalharão muito essa dúvida e podem fazer pegadinhas, principalmente com o hífen. É bom estar de olhos bem abertos”, conclui Cristiane Hetom.
Entre muitas dúvidas, vale ressaltar que, por enquanto, as duas ortografias ainda são aceitas nas escolas, universidades e instituições públicas. O Brasil tem quatro anos para se adaptar totalmente, enquanto que os demais países têm seis anos de vantagem.
Cariocas & Ostras
Marcia Frazão
Quando as primeiras palavras brotaram da minha boca, o “s” saiu aconchegado e embrulhado dentro de uma ostra; um “s” redondo e chiado como as ondas de Copacabana. A princípio não me dei conta do clausuro aquático da letra e pensei que todos nós, brasileiros, éramos filhos de Afrodite e Posídon....
O tempo foi passando dependurado no bonde que ligava a cidade ao Flamengo. Vez por outra era cortado por um negro táxi guiado por manuéis ou joaquins. Táxis que se pegavam no ponto e que tiquetaqueavam como relógios escondidos bem atrás do taxímetro... O Rio era então uma enorme ostra que arredondava os s e badalava sinos nos bondes e tiquetaqueava relógios nos taxímetros...
Nesse tempo não havia tempo para sermos violentos e inseguros. A violência não combinava com os ruídos, e vamos convir que não se pode ser inseguro dentro do aconchego das ostras. E mesmo quando o mesmo ultrapassava os trilhos dos bondes e assumia a face do improvável, mesmo assim o inesperado, por mais bizarro que fosse, travestia-se de romance. E foi assim, entre o desvio do mesmo e os travestimentos, que me deparei com a primeira violência : A fera da Penha. Mas as ostras teimam em transformar as impurezas em pérolas, e a fera, por acaso ou sina, transformou-se em romance.
A professora feiosa, leitora de fotonovelas e romances, confundiu-se entre a piedade e o ódio. A vítima, uma menina de cachinhos negros, num piscar de olhos virou santa. Depois, ávida pelos dramas e santificações, vi Mineirinho, um bandido baixinho e simpático, vestir a roupa de Robin Hood e se juntar ao bando dos desvalidos. Sucedeu-lhe Cara de Cavalo, o centauro.
Naquela época éramos ainda amantes do belo e costumávamos nos divertir no carnaval. Costurávamos estrelas no céu e os barracões tinham tetos de estrelas. Dizíamos bom-dia aos vizinhos e desconhecidos e nunca esquecíamos os nomes dos porteiros. Éramos pérolas polidas pela polidez das virtudes. Não éramos ingênuos. Não, foi muito depois que a generosidade travestiu-se em ingenuidade. Éramos gentis e redondos como as pérolas. Tínhamos o dom de transmutar o feio e torná-lo romance. O tempo passou e pensamos que ele correu depressa demais. E começamos a correr como loucos. Esquecemos o bom-dia e os romances. Caímos na armadilha. Mas... o Rio continua lindo, esperando pelos romances. E aos pessimistas ele diz: só as pérolas conhecem o segredo da transmutação do impuro.
Marcia Frazão www.marciarfrazao.blogspot.com
Velhice com boa saúde
Thereza Freire Vieira*
Se as pessoas pensassem na importância de chegar à velhice com boa saúde!
Há os que se queixam de que não têm tempo, de que trabalham muito; outros dizem que não estão velhos e pensarão melhor quando chegarem lá. Eles se esquecem de que a cada dia que passa estamos um dia mais velhos. E, quando esses que se julgam jovens chegarem lá, bem pouca coisa poderá ser feita.
O que devia ser feito é geriatria preventiva. O envelhecimento se dá no dia a dia da existência e, sendo assim, deveria ser acompanhada em todas as fases da vida e aos poucos ir-se corrigindo o que de errado fosse acontecendo.
Se procurassem periodicamente um serviço médico para uma avaliação, saberiam realmente como estão e o que poderia ser feito para prevenir complicações futuras.
Já não enxergam bem há muito tempo, sempre colocando o que leem cada vez mais afastado dos olhos. Muitas vezes não enxergam bem de perto nem de longe e dizem que é problema de velhice; quando chegam a procurar apoio médico, é porque estão com perda total da visão e se desesperam quando o profissional confirma um diagnóstico de doença incurável que não oderá ser resolvida com óculos ou com cirurgia.
Todos que estão ao seu redor estão vendo seus olhos ficarem brancos e insistem para que procure um oculista, mas ele diz que está bem e que está enxergndo. O idoso não aceita que está com catarata e que deve procurar ajuda profissional.
E a diabete, quando surge, como são escassos os sintomas, não procuram o médico, que apenas com um simples exame de laboratório poderia orientá-los e apenas com uma dieta se teria o problema controlado.
Muitas doenças femininas podem ser prevenidas apenas com uma consulta periódica ao ginecologista, um exame preventivo de câncer de colo uterino, como o papanicolau, completamente indolor e que na maioria dos postos de saúde é feito gratuitamente. O exame frequente das mamas pode indicar um nódulo, um tumor que, se tratado, extirpado logo, podeira ser curado e trazer mais tranquilidade.
Todas as doenças, pelo menos a maioria, se decobertas em tempo, podem ser curadas definitivamente.
* Médica Geriatra e escritora, colaboradora de jornais e revistas.
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