Matérias - 31 de outubro

sexta-feira, 30 de outubro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Willard Wigan: a arte em miniatura

(pesquisa de Mario de Moraes)

Willard Wigan, o micro escultor”, vive em Jersey,na Inglaterra. Ele produz as menores obras do mundo. Trabalha até tarde da noite criando entre uma batida e outra do coração.

A maior parte de suas obras cabe no buraco de uma agulha.

Desde menino era disléxico, porém mais tarde tornou-se o mais famoso microminiaturista do mundo, capaz de criar a beleza a partir de um grão de pó.

Willard pode esculpir uma obra-prima no buraco de uma agulha, sobre a cabeça de um prego, sobre a ponta dos cílios ou sobre um grão de areia. Algumas são menores que o ponto desta frase.

Embora autodidata, Wigan tem atraído para si a atenção dos mais famosos microcirurgiões. As obras de Wigan se encontram dentro de empresas mais pioneiras por sua beleza fascinante que, por um lado encantam o homem com sua simplicidade e por outro lado provam que se pode realizar o impossível, demonstrando que em cada um de nós oculta-se a capacidade para realizar os nossos sonhos.

Dependendo do tipo da obra, Wigan reduz a respiração e as batidas de seu coração drasticamente com a ajuda de uma técnica especial de meditação. Alcança a harmonia entre o corpo e alma, começa a pintar ou esculpir entre duas batidas do coração para garantir a firmeza de sua mão.

De acordo com Wigan, a sua arte pode-se comparar com a tentativa de furar uma bexiga sem deixá-la explodir.

Tudo no buraco de uma agulha.

Afinando as emoções

Musicoterapia ajuda a ter mais saúde e qualidade de vida

Wllysses D’Avila

Thiago tem 20 anos, é portador de Síndrome de Down e utiliza a musicoterapia como tratamento. Sua mãe, a funcionária pública Fátima Santos, procurava algo relacionado à música para matricular seu filho, pois ele gostava muito de cantar. Apesar de já ter ouvido falar em musicoterapia, não sabia exatamente do que se tratava. Achava que ele iria aprender música. Ficou feliz em saber que, durante as aulas, a música seria associada à terapia e se surpreendeu mais ainda ao constatar que Thiago adorou o tratamento desde o primeiro dia. “Apesar de ser um pouco acomodado e às vezes relutar em fazer os exercícios em casa, adora as consultas e tem uma ótima relação com a terapeuta”, diz.

Thiago não se esquece dela em nenhum momento importante de sua vida, como os aniversários, por exemplo. Fátima conta que antes ele falava gritando, cantava sem ordem e sem ritmo, hoje até seu tom de voz melhorou. Os benefícios maiores, porém, são os limites, a disciplina e a educação. Durante as aulas, ele extravasa suas energias. “Hoje ele até consegue ouvir um CD sem gritar”, diz. “A terapia foi de encontro à realidade de meu filho talvez porque trabalha com um tipo de música que ele gosta de ouvir”, destaca. Thiago era muito desordenado, mas agora está mais situado, sem falar nos benefícios na parte motora e na postura.

Mas a musicoterapia não é útil só para crianças ou para quem tem alguma deficiência. Silvia da Silva, costureira e cantora, retornou a Friburgo contra sua vontade, depois de morar três anos na Bahia. Ela teve de enfrentar diversos problemas na vida, tornando-se uma pessoa nervosa, agressiva e desastrada. Vivia na defensiva e seus relacionamentos eram marcados pelo medo e pela insegurança. Passou a tomar ansiolíticos, remédios contra depressão e, além disso, vivia no cardiologista.

Através de um amigo, que é maestro, chegou à musicoterapia. Os benefícios começaram no emocional. Passou a se sentir mais tranquila e a perceber sua parcela de responsabilidade nos acontecimentos. Assim, aos poucos, foi descobrindo o que realmente estava acontecendo com sua vida. Para ela, a música representa um mecanismo de autoconhecimento. “Trata-se de uma técnica boa, suave. Através dela descobri o que gosto e preciso, o que eu faço de bom e de ruim para mim mesma”, disse.

Silvia não toma mais calmantes, está mais equilibrada, calma e segura. “Tomei decisões fantásticas na minha vida, fiz vários investimentos, alguns deram certo, outros não, mas encaro tudo como uma coisa positiva”, afirmou.

Um tratamento que utiliza todo tipo de som

Para a musicoterapeuta Edna Santos, o envolvimento com a música é algo que vai muito além da parte orgânica, fisiológica. O mais importante, aliás, é seu aspecto emocional. “O ser humano é um grande instrumento musical que reproduz sons. Trabalhar com o humano é trabalhar com música”, afirmou.

Durante as seções, ela nem sempre coloca música para o paciente escutar ou mesmo pede que ele toque algum instrumento. Muitos, aliás, não sabem tocar nada, mas cantam, conversam, tamborilam com os dedos, batem os pés. Mas são estimulados a escolher algum instrumento e este poderá até se transformar num mediador durante a terapia.

Mas, atenção. O tratamento só pode ser feito por um musicoterapeuta qualificado, o que nem sempre acontece. “Não basta ser músico para ser musicoterapeuta”, diz. Por outro lado, o simples fato de um terapeuta usar música durante o atendimento não significa que ele esteja aplicando a musicoterapia. Segundo Edna, este é um tratamento que utiliza todo tipo de fonte sonora e, por isso mesmo, seria melhor até que fosse chamado de ‘sonoroterapia’. A musicoterapeuta tem que perceber os códigos de seus pacientes para poder respeitá-los. “Existem pessoas que respondem positivamente a um determinado estímulo musical, enquanto outras não. Os instrumentos de sopro, por exemplo, podem acalmar algumas pessoas e irritar outras”, diz.

Formada pelo Conservatório Brasileiro de Música, onde, além de música, estuda-se psicologia, neurologia, anatomia, fisiatria e farmacologia, entre outras matérias, Edna estagiou em quatro áreas específicas: deficiência mental, educação musical, psiquiatria e reabilitação motora. Ela explica que existem coisas usualmente chamadas de sons ou ruídos, mas que para a musicoterapia representam uma forma musical do paciente contar ao terapeuta seus sentimentos, medos, relacionamentos, interações sociais e emoções.

A musicoterapia é indicada para tudo, desde auto-conhecimento, estimulação essencial com bebês, tratamento para gestantes, todas as formas de síndromes, autismo e até para pessoas que tiveram um acidente vascular cerebral. Também é muito útil para despertar a criatividade, a concentração, o conhecimento, a capacidade de percepção. Da mesma forma, é indicada para a terceira idade, especialmente para quem sofre de mal de Alzheimer. A musicoterapia também ocupa lugar de destaque nas clínicas psiquiátricas.

Infelizmente, a terapia acabou sendo muito estigmatizada no Brasil, por ser tida como uma técnica alternativa, mas existem pesquisas cientificas comprovando sua eficácia. Nem é preciso ir tão longe. Determinadas músicas alteram o fluxo sanguíneo, os batimentos cardíacos e a pressão arterial, assim como podem baixar a pressão ou causar relaxamento. Para ela, a falta de conhecimento acerca da musicoterapia está diretamente relacionada à falta de informação e acesso ao método, o que não acontece em outros países, onde é muito valorizado.

Segundo a terapeuta, é preciso cuidado na forma como utilizamos a música. “Ela burla a razão e através da emoção, diz o que você quer dizer, da mesma forma como fazemos sons com as mão ou com os pés para espantar o medo”, diz Edna. Ela lembra que todos nós temos uma história musical ao longo da vida. “Em cada etapa, a cada relacionamento, vamos criando nossa trilha sonora, que é gigante, variada e fala muito sobre nossas particularidades”, diz.

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