A crise financeira no divã
Carlos Pires Leal*
Concordo com a opinião de vários analistas financeiros de que é necessário um outro tipo de analista – o analista da alma ou psicanalista – para tentar compreender a crise financeira internacional em curso. A racionalidade deixa bons pedaços de sua história na sombra. Sendo psicanalista, tento uma aproximação diversa da questão. Que leve menos em conta os cifrões e mais os entes e as instituições que os acumulam. Em suas insondáveis motivações.
A sensação de irrompimento súbito e surpreendente poderia ser um ponto de partida para uma psicanálise da crise financeira internacional. Como se ela não decorresse de um processo e uma história observáveis com clareza para quem pudesse vê-los. Doutor, o meu marido era a pessoa mais feliz do mundo até tentar o suicídio! Tem gente – e como tem! – que só consegue se dar conta da realidade quando ela berra com estridência; quando o estrago se instala irremediável e catastroficamente. Assim parece ter ocorrido com a crise financeira. Seu ponto de partida mais visível foi a descoberta tardia da inviabilidade das práticas de financiamento do mercado imobiliário norte-americano. Apesar da alta qualificação técnica dos agentes financeiros, eles não se aperceberam que os papéis com os quais negociavam não tinham lastro. Nada mais eram do que... papéis!
Os agentes e instituições financeiras internacionais mostraram uma capacidade notável para ludibriar – ludibriando-se prévia ou simultaneamente. A paixão e o desejo desmedidos pela riqueza material enodoaram ou simplesmente excluíram a realidade de consideração. Não se levou em conta que o dinheiro não é mais que um símbolo abstrato cujo valor precisa ter alguma – ainda que complexa – ancoragem na realidade dos fatos, na produção efetiva de riqueza. Assim como não mato a fome com a palavra comida não enriqueço acumulando títulos hipotecários se eles não forem resgatáveis: terem credibilidade por estarem lastreados em riqueza real. Um equívoco – com paralelos amplos na psicopatologia – foi tomar a representação da coisa pela coisa em si. A falta de sustentação mínima na realidade fez com que o castelo de cartas desabasse. E, pelo efeito tsunâmico que vem provocando, revelasse ruidosa e catastroficamente a base infantilizada e doentia na qual se assenta a cultura contemporânea.
Esta é a face mais interessante e promissora da crise: converter o atordoamento e o pânico em curiosidade e reflexão sobre o enredo contido nas suas entrelinhas. A sobrevivência da cultura – assentada na voracidade pelo dinheiro e o que se possa comprar com ele – dependerá do nosso interesse e da nossa determinação em recolocar o homem e a humanização da vida coletiva no centro do debate.
Como pode o homem mais feliz do mundo do exemplo acima tentar, subitamente, acabar com a própria vida? Simplesmente porque a felicidade superlativa, incondicional e permanente que ele ostentava não passava de um engodo no qual se enredara e aos que o circundavam. O jogo simulava o triunfo sobre a dor inevitável que sua humana fragilidade lhe impingia. Uma pena que tudo só pudesse ter sido revelado quando já era tarde demais... O acúmulo eufórico de riqueza financeira e sua perversa concentração – a tradução numérica desta realidade é estarrecedora! – denota uma tendência suicida da civilização, sendo o ataque impetuoso e renitente ao meio ambiente um seu correlato.
Preocupa a obstinação de algumas das lideranças mais significativas do cenário nacional e internacional insistirem em ver na crise financeira internacional apenas... uma crise financeira internacional. Vejam só: nosso presidente prescreve o consumo como forma de combatê-la e minorar suas consequências! Barack Obama, mesmo antes da posse, teve êxito na aprovação da liberação de um pacote anticrise de meio bilhão de dólares. Muitos o veem como o grande líder salvador do imbróglio financeiro internacional. Simultaneamente a ONU se esvazia como fórum de discussão privilegiada das grandes questões coletivas planetárias. Justamente em um momento em que ela se mostra enormemente necessária. A crise sendo vista tão-somente como... uma crise financeira internacional.
Nas próximas semanas (e meses) sentiremos crescentemente em nossas peles mais que o Sol merecido do Verão. A crise financeira já bateu em nossas portas e seremos convocados a enfrentá-la. Ela deixou de ser uma ocorrência longínqua dos noticiários da tevê para se tornar uma experiência amarga do nosso cotidiano. Distinguir seus componentes e alcance (para a cultura) não a tornará menos impactante. A história do suicida e da crise financeira ensinam que, a pretexto de evitarmos a dor e o contato com a realidade, encurtamos o caminho em direção aos becos (sem saída?) da existência pessoal e coletiva.
*Carlos Pires Leal é psiquiatra e psicanalista www.carlospiresleal.com
Em busca da excelência na odontologia (1)
David Massena
les têm muitas coisas em comum. São jovens, empreendedores, formados pela antiga Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo (Fonf), atual Universidade Federal Fluminense (UFF). Cada qual foi buscar em uma especialidade a melhor formação. E não pararam por aí. A cada dia procuram o aprimoramento profissional. Renata Levy tem 36 anos, é especialista em periodontia, área da odontologia que trata muito além das doenças gengivais, pela Faculdade São Leopoldo Mandic; Rafael Erthal, 34 anos, é especialista em implantes dentários pela Unigranrio, em radiologia oral pela Faculdade São Leopoldo Mandic, pós-graduado em Implantes Dentários pela USP e em cirurgia plástica periodontal em Campinas, tendo ainda participado do Curso Internacional de Implantes Dentários na Universidade de Gotemburgo – Suécia; e Gustavo Alves, de 38 anos, é mestre e especialista em ortodontia, coordenador e professor do curso de ortodontia do Cito Niterói.
Reunidos para um bate-papo informal, eles falaram sobre os avanços da odontologia no Brasil e a importância dos cuidados com a saúde bucal.
LIGHT – Quais são os
avanços da Odontologia
na área específica
de cada um de vocês?
GUSTAVO ALVES – Na ortodontia, a meu ver, foi a utilização das ligas metálicas desenvolvidas pela Nasa para produzir as antenas das naves espaciais na confecção de fios ortodônticos. A partir daí houve um grande salto na ortodontia. O aço inoxidável, utilizado anteriormente, produzia fortes tensões sobre os dentes, o que motivava frequentes queixas de dor e excesso de mobilidade dentária. A partir da liga do níquel com o titânio se evidenciaram duas propriedades: a resistência e a flexibilidade. Esses fios produzem forças suaves e contínuas, que são mais confortáveis para os pacientes. Além, é claro, dos aparelhos estéticos (na cor dos dentes), transparentes e os mini-implantes ortodônticos – pequenos parafusos instalados na cavidade bucal, que auxiliam e aceleram o tratamento e depois são removidos. Tudo isso em um procedimento simples, rápido e indolor.
RENATA LEVY – Nos últimos anos a periodontia tem tido avanços dos mais significativos. Hoje não se limita apenas ao tratamento das doenças gengivais (gengivite e periodontite), há uma gama de especialidades, como a cirurgia plástica periodontal, que corrige defeitos da gengiva e tecidos moles em regiões que apresentem comprometimento estético para o paciente, como retrações gengivais. Outro exemplo é a medicina periodontal que relaciona doenças periodontais com alterações sistêmicas, como doenças cardiovasculares isquêmicas, doenças respiratórias, diabetes mellitus e o nascimento de crianças prematuras e com baixo peso, além de pesquisas na área de biomateriais, microbiologia e imunologia.
RAFAEL ERTHAL – Eu entendo que, buscando o conforto, estética e qualidade de vida, a odontologia de modo geral evoluiu sobremaneira na última década. Mas, para mim, a grande evolução foram os implantes dentários, a chamada terceira dentição. Podemos implantar um dente ou uma boca inteira da noite para o dia, devolvendo os dentes perdidos em 24 horas. Isso é possível através de uma técnica específica, que é chamada Carga Imediata.
LIGHT – Com todos esses
avanços ainda há pacientes
que resistam aos
tratamentos por medo?
RENATA LEVY – Apesar dos avanços em todas as áreas de conhecimento, em especial nas auxiliares da periodontia, sabe-se que a alta prevalência da doença periodontal está na falta de informação dos indivíduos com relação à origem e ao desenvolvimento das periodontopatias. Outros fatores que influenciam a não procura pelo serviço especializado reside nas questões financeiras e no medo que muitos têm do tratamento odontológico.
LIGHT – O que seria um
tratamento de excelência
na área específica de cada
um de vocês?
RAFAEL ERTHAL – Acho que o mais relevante é um tratamento integrado com as diversas especialidades médicas e odontológicas, em que o mais importante não é um dente, e sim, o paciente como um todo.
GUSTAVO ALVES – Atingir a excelência deve ser uma busca constante para todos nós. As referências que norteiam essa excelência se baseiam em atingir resultados estéticos e funcionais adequados. No campo da estética existem padrões de beleza que nos ajudam a direcionar um tratamento. Mas o importante mesmo é ouvir e atender os anseios dos clientes. A chave da porta da excelência está nas mãos do profissional que consegue atingir a melhor relação entre estética e função, na área da ortodontia, principalmente.
RENATA LEVY – Creio que o importante é oferecer ao paciente que nos procura as melhores soluções para os seus problemas de saúde bucal. Um tratamento ganha excelência quando é completo e eficiente. Isso só é possível e só deverá ser iniciado quando toda a informação necessária for coletada, o que chamamos de diagnóstico. Os objetivos e expectativas do paciente devem ser totalmente entendidos e o caso deverá ser discutido em profundidade por todos os profissionais envolvidos, para que sejam apresentadas ao paciente todas as opções de tratamento, satisfazendo, ou mesmo superando, suas expectativas.
LIGHT – É possível traçar um
paralelo entre qualidade
de vida e saúde bucal?
GUSTAVO ALVES – Não há dúvidas de que a saúde começa pela boca. Este é o primeiro contato que temos com os alimentos e daí em diante todo o processo digestivo se desencadeia. Sendo assim, para que tenhamos uma boa qualidade de vida precisamos ter dentes sadios, gengivas saudáveis, para podermos mastigar bem os alimentos e engoli-los com naturalidade.
RAFAEL ERTHAL – Ter qualidade de vida é ter saúde bucal, comer, falar, amar e prosperar, sempre com um sorriso. O sorriso agrega, multiplica, alegra, traz paz e é um excelente remédio para o corpo e a mente. E o mundo anda precisando de sorrisos.
RENATA LEVY – Além de tudo o que foi dito pelos colegas, entendo que a saúde resulta do equilíbrio do organismo como um todo. Com a promoção da saúde bucal, nós, profissionais da área, buscamos garantir bem-estar, melhoria da qualidade de vida e da autoestima. Por trás desses conceitos estão a qualidade da mastigação, a estética e a possibilidade da comunicação. A noção de que uma saúde geral debilitada pode causar alterações na boca é evidente. Porém, a possibilidade de desordens na boca, como porta de entrada para o organismo, nem sempre é reconhecida.
RAFAEL ERTHAL – É verdade. E a má condição de saúde bucal pode desencadear ou agravar condições sistêmicas, como problemas cardiovasculares e diabetes, entre outros. Por isso é necessário manter a saúde da boca, dos dentes e gengivas em qualquer idade. E os cuidados devem começar bem cedo e estender-se por toda a vida.
A insegurança das obras de arte
Mario de Moraes
Quando se fala em museus famosos, como o francês Louvre, que guardam obras de muito valor, pensa-se logo num sistema de segurança praticamente inexpugnável. O que, infelizmente, não acontece, já que constantemente vêm sendo praticados furtos de quadros valiosos, muitas vezes os ladrões saindo com eles até debaixo do braço e pela porta da frente do museu.
Recentemente, larápios entraram numa galeria de arte de Berlim durante a noite e levaram toda a coleção que estava exposta, no valor de 180 mil euros (R$ 583 mil). Entre as obras roubadas encontravam-se uma valiosa tela de Pablo Picasso e outra de Henri Matisse.
Mas o que dizer do roubo daquele que é considerado o quadro mais valioso do mundo, a Mona Lisa? Pois aconteceu em 1911, quando o levaram calmamente do Louvre, onde fica exposto. A mais famosa obra de Leonardo da Vinci (1452-1519) foi retirada da moldura e carregada debaixo da capa de um ladrão, de acordo com as investigações policiais. Só dois anos mais tarde, o Louvre conseguiu recuperá-lo.
O roubo da Mona Lisa demonstrou que, por mais vigiadas que sejam as obras de arte, ladrões profissionais sabem como levá-las, mesmo num museu como o Louvre de Paris, que recebe milhões de visitantes anualmente. Num só ano, de 1994 a 1995, seis valiosas obras de seu acervo foram roubadas ou destruídas. Na época o Louvre contava com 950 vigilantes, dos quais 240 estavam de plantão nos dias dos roubos. Numa semana (por mais incrível que isso pareça!) os amigos do alheio carregaram uma escultura do século 17, com 17 kg de peso e 1,12 m de altura, arrancada de um conjunto de bronze.
A audácia dos ladrões de obras de arte não tem limites. Estima-se que, nos últimos trinta e poucos anos, mais de quatro mil obras foram surrupiadas apenas na Itália, e só metade recuperada. A Itália detém perto de 60% do patrimônio artístico mundial.
Existem, também, os vândalos, cujo insano objetivo é apenas destruir as obras de arte. Em dezembro de 1997, um deles decapitou uma estátua de 2450 antes de Cristo.
Em maio de 1998, dois quadros a óleo do pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) e um do francês Paul Cézanne (1839-1906) foram levados da Galeria de Arte Moderna, em Roma, onde se encontravam três seguranças. As obras, na época, foram avaliadas em mais de US$ 100 milhões.
A polícia romana, no entanto, acabou encontrando os quadros no esconderijo dos larápios, na periferia de Roma. Após muita investigação as obras de arte foram descobertas bem danificadas, no canto de uma cozinha, misturadas a panelas e vassouras.
O centro mundial da arte roubada é Londres, na Inglaterra. É para lá que os ladrões levam a maior parte dos quadros, antiguidades e tapeçarias surrupiadas no mundo inteiro, transformando a capital inglesa num paraíso para esse tipo de comércio ilegal. Existe, no entanto, a contrapartida: 30% das obras roubadas são recuperadas pela polícia londrina.
Geralmente os ladrões entram em contato com as seguradoras e pedem um resgate pela devolução da obra. Se a seguradora não concorda, os bandidos vendem o roubo a um intermediário por um preço bem abaixo do seu valor e este aguarda o momento apropriado para passá-la adiante nos mercados abertos.
O Brasil também não está livre desses ladrões especializados em roubar obras de arte. Uma imensa quantidade de obras sacras, retiradas das antigas igrejas de Minas Gerais, formam valiosas coleções de inescrupulosos colecionadores brasileiros. Egoístas, eles não pensam em vendê-las, mas guardá-las escondidas em casa, para o seu e o deleite de seus amigos.
Em 2006, ladrões invadiram o Museu da Chácara do Céu, no Rio, levando dele obras de Monet, Matisse e Dali, avaliadas em US$ 50 milhões. Nenhuma foi recuperada até hoje.
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