Matérias - 29 de novembro

sexta-feira, 28 de novembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

A história dos 90 anos de dom Helder Câmara se confunde com a história do Brasil

Nunca um brasileiro chegou tão próximo de ganhar um Nobel como dom Helder Câmara. Por quatro anos esteve na lista dos favoritos. Mas várias manobras elaboradas pelo regime militar impediram que o prêmio fosse dado ao ‘Profeta da Paz’.

Em clima de Natal, chega às livrarias a biografia Dom Helder Camara – o profeta da paz, escrita pelos historiadores Nelson Piletti e Walter Praxedes e relançada pela Editora Contexto às portas do centenário daquele que era o Irmão dos Pobres, nascido em fevereiro de 1909. Uma das novidades dessa edição está no último capítulo, A grande viagem, que descreve a repercussão da sua morte. A obra é muito mais que um retrato de um líder religioso, que moveu multidões, fundou a CNBB e ajudou o Brasil na luta contra a desigualdade social. É a história do Brasil narrada através de um personagem carismático e polêmico, que dividiu opiniões na Igreja e na sociedade, foi amigo de quatro papas, diversos presidentes da República e líderes mundiais, tendo enfrentado a ditadura militar, além de ter quase sido o primeiro brasileiro a receber o Nobel da Paz.

Nobel da Paz – O livro está dividido em três períodos: Anos Verdes, Anos Dourados e Anos Vermelhos. Esse último foi o mais intenso politicamente e o projetou no cenário mundial por sua luta a favor dos direitos humanos. Entre 1970 e 1973, o seu nome estava sempre na lista dos indicados para receber o Prêmio Nobel. Mas uma forte campanha articulada pelo regime militar movimentou céus e terras para impedir tal conquista.

O Prêmio Nobel da Paz esteve tão perto do Brasil, mas não chegou às mãos daquele menino que nascera em Fortaleza no começo do século 20, que ainda criança brincava de ser padre e ajudar o próximo. Criado entre seis irmãos, por uma mãe professora e um pai com amigos influentes na política cearense e ligados ao integralismo. O jovem Helder seguiria o ideal integralista por boa parte da sua vida, mesmo após entrar para o seminário, em 1923. E aos 22 anos e meio se tornaria padre.

1936–1964 – Os Anos Dourados apresentam a trajetória desse padre que, em 1936, desembarca no Rio de Janeiro para dar continuidade aos seus ideais religiosos e assumir um cargo público no Ministério da Educação. Iniciava ali uma carreira que seria marcada pela inteligência e pela enorme vontade de ajudar os mais carentes. Mas as manobras e os conchavos políticos acabam desanimando o padre, que prefere se dedicar aos estudos, à atividade profissional dentro da Igreja e a seu apostolado. Logo se afastaria também do movimento integralista.

A experiência política e as habilidades com a oratória e a escrita lhe deram várias oportunidades. À frente da Ação Católica, organizou vários seminários e eventos para reerguer a Igreja, que havia perdido espaço para outras religiões. Já sagrado bispo, se torna um dos grandes idealizadores e fundadores da Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB), criada em outubro de 1952. Três anos mais tarde foi escolhido para presidir a comissão organizadora do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, que reuniria no Rio de Janeiro a cúpula católica do mundo inteiro.

Tocado pelo conselho de um amigo, idealizou a Cruzada São Sebastião, que consistia acabar com as favelas do Rio de Janeiro em um prazo de dez anos. Na esteira da empreitada, cria o Banco da Providência. Mais uma vez dom Helder estava entre os pobres, a política e a religião. Suas idéias e convicções o estavam afastando cada vez mais da cúpula católica instalada no Rio de Janeiro, que providenciaram uma transferência de dom Helder para o Maranhão.

Em Roma recebeu a notícia do falecimento do arcebispo de Olinda e Recife e lá mesmo, no dia 12 de março de 1964, soube que não iria mais para a capital maranhense, e sim para Pernambuco. No dia seguinte foi recebido pelo Papa Paulo VI como amigo querido. Nessa época o Brasil estava mergulhado numa crise política, com João Goulart prestes a ser deposto. Poucos dias antes do golpe militar, dom Helder almoça com Jango para alertá-lo do perigo que corria.

1964–1999 – Tanto a saída do Rio de Janeiro quanto a chegada ao Recife foram emocionantes. Mas o clima no país não estava nada bom. As idéias de dom Helder eram interpretadas como as de um marxista: “Quando dou de comer aos pobres, chamam-me santo, quando respondo porque é que os pobres têm fome – chamam-me comunista”. Nos Anos Vermelhos o leitor verá que os jornais evitavam publicar suas declarações. Dentro da Igreja cresciam as críticas à sua posição política e à sua ajuda aos perseguidos pelos militares.

A maioria dos homens influentes do clero defendia a revolução. Para eles era uma maneira de combater o comunismo. Ao mesmo tempo em que dom Helder fazia inimigos no governo e na sociedade conservadora, fazia novos amigos na luta contra a tortura e a favor dos direitos humanos. Nomes como Carlos Lacerda, que um dia foi seu amigo, depois seu inimigo declarado, agora voltava a ficar ao seu lado.

Militares e religiosos tinham dom Helder como um problema grave e conseguiam muitas vitórias na forte campanha para manchar sua imagem, mas só dentro do Brasil e em algumas camadas do Vaticano. Seu nome continuava forte pelo mundo e não foram poucos os prêmios internacionais. Por onde passava e palestrava recebia alguma menção sobre seu engajamento a favor dos pobres, sempre através da paz para alcançar a justiça social.

A grande viagem – Os anos de chumbo estavam se amenizando e a abertura política era uma realidade no início dos anos 1980. Tinha-se João Paulo II como papa e o nome de dom Helder não representava mais um sinônimo de subversão. Mesmo após a aposentadoria, dom Helder não parava de ser homenageado. Aos 80 anos, o Padre Vermelho não era mais uma ameaça, mas um batalhador, um brasileiro que não desistiu dos necessitados. Estava chegando ao fim a trajetória do Profeta da Paz.

Essa última parte do livro ganhou um capítulo inédito que fala da repercussão da sua morte, em 22 de agosto de 1999. Inúmeras manifestações, comoção nacional e depoimentos de várias personalidades artísticas e políticas apareciam nos jornais, rádios e TVs. Nomes como o do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, Frei Betto e Chico Buarque expressavam sua admiração e fatos que compartilharam com o Irmão dos Pobres.

Em 90 anos de história, dom Helder publicou quase 20 livros e foi tema em mais de 52 obras no Brasil e no mundo. Foi agraciado com 32 títulos de Doutor Honoris Causa, nos quatro cantos da Terra. Somando os prêmios e distinções foram 33, dados por comitês internacionais e organizações como a ONU. Esteve próximo de conquistar o Prêmio Nobel da Paz por quatro vezes. Entre os oitos papas que comandaram a Igreja Católica durante a sua vida, conquistou a simpatia de todos com quem conviveu. O último deles, João Paulo II, um dia disse: “Pai, muito obrigado por haver na Igreja filhos seus como madre Teresa e dom Helder”.

Serviço

Livro: Dom Helder Câmara – o profeta da paz

Autores: Nelson Piletti e Walter Praxedes

Formato: 16 x 23 cm; 400 páginas

Preço: R$ 49,90

Nelson Piletti é graduado em Filosofia, Pedagogia e Jornalismo. Mestre, doutor e livre-docente em História da Educação Brasileira. Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Autor de vários livros nas áreas de História e Educação.

Walter Praxedes é graduado em Ciências Sociais pela USP, pós-graduado em História e Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da mesma universidade. Professor de Sociologia e Ciência Política da Universidade Estadual de Maringá.

Bobinarte: um novo começo para o fim

Fotógrafo cria projeto em prol do meio ambiente

Reciclar é a palavra do momento. Pauta de grandes discussões nos veículos de comunicação mundiais, a preservação ambiental é fato preocupante e que deve ser adotada por todos nos dias atuais, desde os pequenos fabricantes que utilizam o leite condensado para produzir deliciosos doces e vender nos pontos de ônibus da cidade, gerando muitas latas e/ou embalagens Tetra Pak do produto, até as grandes indústrias. Mas o que fazer com os resíduos? Muitas são as possibilidades.

O que falta, na verdade, é atentar para as questões ecológicas no mundo e investimentos políticos que façam com que o assunto seja disseminado em projetos conscientes e viáveis, para tornar a educação ambiental um exercício diário. Pensar num futuro em que a natureza proporcione vida e beleza abundantes é começar a agir desde agora. Para isso é necessário que cada habitante do gigantesco lar Terra cumpra com seu papel de não poluir, não desmatar e desenvolver pequenos hábitos que contribuam com um amanhã melhor.

O Bobinarte surgiu com estes conceitos: conscientização sobre a importância das riquezas naturais e utilização da arte como ferramenta estratégica para dar vida ao que, de fato, já estava morto. Tudo começou quando Alex Sandro Santos estava numa aula de fotografias no Senac e o assunto predominante foi o filme fotográfico. “Fiquei sabendo um pouco mais sobre os grãos de prata, a película e o pequeno reservatório metálico onde o filme é armazenado, longe do alcance da luz, quando não utilizado. A bobina fotográfica se divide em várias partes, ou seja: invólucro (parte metálica onde se encontra o código DX e a marca do fabricante), carretel (onde o filme é anexado e enrolado dentro da bobina) e a tampa (círculo de metal que une o invólucro ao carretel). Utilizando-me destas partes, desmontando, recortando, torcendo, colando, queimando, pintando, comecei a desenvolver pequenos personagens que, com o passar do tempo, foram evoluindo, nascendo outros e se tornando preciosas obras, que me envolveram de modo divertido, prazeroso, um ponto de escape para sair da rotina agitada. Eles me serviram sempre como bons objetos decorativos para presentear os amigos. Hoje os vejo, em sonho, como integrantes de propagandas e publicidade ligadas ao meio ambiente”, conta Alex Sandro.

Durante um bom período ele pediu às lojas de revelações fotográficas da cidade para que não jogassem as bobinas e potinhos plásticos no lixo e semanalmente recolhia todo esse material. “Este procedimento intrigante levou os lojistas e atendentes a me apelidarem como o catador de bobinas. Agradeço muito, pois sem eles certamente nada disso teria evoluído”, lembra o fotógrafo.

Como sempre utilizou filme para produzir suas belas fotos da natureza, Alex Sandro teve a consciência de desenvolver um meio artístico para reciclar tais bobinas. “Meu ângulo de visão é o meio ambiente, então, como poderia clicar uma paisagem belamente preservada e depois poluí-la com o mesmo material usado para registrá-la? Não teria lógica alguma”, justifica.

O trabalho de reciclagem lhe rendeu uma pauta jornalística na revista Fhox (especializada em fotografias) e Alex Sandro foi convidado pelo programa Mosaico de Educação Ambiental, da Petrobras, para produzir uma oficina na cidade de Arraial do Cabo (RJ).

“Atualmente vivenciamos o avanço tecnológico do digital, que ano após ano vem abraçando o cenário fotográfico com unhas e dentes. Mas ainda existem os profissionais que não abandonam um bom filme. E, se o filme vai ou não acabar, o que realmente importa é que não podemos cruzar os braços e ver tantos resíduos soltos por aí e um consumo desenfreado de produtos, cujas empresas sequer manifestam em suas embalagens o tempo de decomposição do material”, alerta o fotógrafo. Por isso mesmo, o maior objetivo do Bobinarte é conscientizar os empresários de que reciclar o próprio lixo é tão importante quanto faturar.

Quem desejar saber um pouco mais sobre o tempo de decomposição de alguns detritos pode acessar www.alexsandrofotos.blogspot.com. E quem quiser contatar o fotógrafo Alex Sandro Santos pode enviar e-mail para alex.sandro. fotografias@gmail.com.

Quanto vale seu lixo?

Criada pelo sistema Firjan, a Bolsa de Resíduos é um excelente negócio para as empresas negociarem o lixo. Resumidamente, se a empresa gera muitos resíduos e o proprietário não sabe o que fazer nem a quem vender ou descartar, basta entrar no site www.firjan.com.br, ir ao link Bolsa de Resíduos, cadastrar gratuitamente os dados da empresa e informar o lixo gerado. Neste espaço virtual pessoas de todas as partes do estado do Rio podem negociar a compra e venda de detritos. Outro site que também disponibiliza serviço idêntico é o do Sistema Fiep – www.bolsafiep.com.br – intitulado Bolsa de reciclagem.

Co-processamento sem danos ao meio ambiente

Método que vem sendo cada vez mais utilizado no mundo inteiro, o co-processamento garante a destruição completa das escórias, sem gerar quaisquer danos ao meio ambiente. Os resíduos industriais são destruídos nos fornos das indústrias de cimento, que se utilizam desta metodologia para manter funcionando a todo o vapor suas grandes fornalhas. É um processo em que tudo é devidamente calculado, monitorado e garantido pelas leis ambientais, seguro para os trabalhadores e a comunidade.

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