Sexo sem limites
(um tanto quanto despudorado, mas ainda assim o tipo de assunto preferido quando discutido à miúda)
Além das fronteiras do imaginável, distante das barreiras físicas que nos prendem, existem limites ainda mais perigosos impostos pelos homens. A sexualidade, tema do texto que segue, parece ainda ser tabu em muitos meios. Questões como homossexualidade, por exemplo, não são facilmente divulgadas na mídia – à exceção de bandeiras levantadas, normalmente com um estardalhaço incomum, na intenção de tornar natural algo que já deveria ter deixado de ser estranho há muito tempo. Há de se admitir também (e os culpados aqui são todos, tanto do lado de cá, quanto do lado de lá), que não é de hoje que liberdade e libertinagem se confundem no imaginário popular.
E ainda há, claro, o maior culpado de toda a confusão: o moralismo, que talvez seja a incapacidade de se lidar com os próprios desejos, ainda mais com os do próximo. Sejamos honestos: com a censura fora de moda é muito mais prático absorver uma ideia, transformá-la num estereótipo mesquinho e insatisfatório e, após ter mutilado qualquer traço de dignidade de tal personagem, devolvê-la ao público, que por sua vez se deliciará com mais uma bobagem. Refiro-me, claro, a personagens como Piti-Bicha, entre tantos outros gays marginalizados nas noites em família que a TV costuma fabricar. O falecido comediante Jorge Lafond, por sua vez, ia num outro extremo, tornando-se uma rara e saudosa exceção no mar de besteiras que toma a programação televisiva – a violência era parte importantíssima de sua personagem Vera Verão; sua sexualidade, longe de ser escondida, era celebrada.
Sim, porque é muito mais fácil tornar a realidade algo agridoce, capaz de tirar risos até do mais ranzinza dos vovôs. Na mesma corrente é engraçado observar como mestres despudorados da literatura e do comportamento, como Marquês de Sade e Henry Miller, acabam condenados à leitura escondida, quase envergonhada, quando, muito mais do que a boa e velha sacanagem, esses autores também se preocupam em enfiar pregos nas solas dos sapatos da sociedade, incomodar antes que sejam incomodados. O caos escondido em linhas de devassidão: somente assim a liberdade pode ser alcançada.
É na arte que a redenção é descoberta. E, no sexo, também. O tantrismo, por exemplo, é uma prática milenar, que encontra na conjunção dos corpos dos amantes o mais alto grau de sensibilidade e ascetismo entre os métodos de meditação existentes. Está claro que não se trata de uma discussão em que se tenham vencedores ou perdedores. Tampouco pode-se avaliar quem é mais coerente ou decente em relação a sexo: Ocidente ou Oriente. Afinal, se existe uma indústria do sexo, ela não se apresenta com bons modos – e quando se apresenta, o glamour e o luxo estão muito mais preocupados em arrancar dinheiro de potenciais investidores do que agradar a seu público-alvo. Isto se ficarmos apenas no setor das produções de vídeo, atualmente tão em voga na mídia brasileira, graças às pseudocelebridades que vez ou outra estrelam alguma fita do gênero.
Mas o pornô não é apenas brilho. Não é preciso se esmerar muito para encontrar histórias de ex-estrelas do gênero que acabaram sufocadas (e não pelo que as mentes sujas possam pensar, creiam-me). Um dos casos mais famosos é a estrela do cult Atrás da Porta Verde, Marylin Chambers, que acabou se tornando uma voz ativa nos movimentos anti-pornografia. Atualmente, a ex-atriz pornô Tracy Lords brilha estrelando produções de comédia nos EUA, enquanto alega sistematicamente que não voltará ao gênero que a consagrou.
As histórias em quadrinhos, outra mídia bem receptiva aos desejos e impulsos constantes da sexualidade, acabou encontrando em autores como o italiano Milo Manara e o brasileiro Carlos Zéfiro toda a habilidade necessária para povoar as mentes de crianças dos oito aos oitenta. Sem exageros – a qualidade do material é gritante, e arte não é nem de longe um conceito assustador quando nos referimos ao trabalho realizado por estes indivíduos.
No Japão, infelizmente, a arte não tem a mesma respeitabilidade. Quadrinhos eróticos, lá conhecidos como hentai, têm de se certificar de que pelos pubianos e órgãos sexuais masculinos não sejam expostos (mamilos, então, são uma incógnita!). Ainda assim é possível encontrar artigos como bonecas da personagem Sailor Moon evacuando os próprios intestinos. Uma imagem nada agradável, mas, vá entender...
A internet também é um prato cheio para todos os gostos. Dos mais simples às situações como two girls and a cup. Se não sabe do que se trata, aconselho prudência ao caçar este título nos googles da vida.
É a grande rede que também nos fornece as imagens que ilustram este artigo, sobre um parque temático sexual, inaugurado há pouco tempo na China. A Love Land ainda é um mistério, ainda que tenha atrações tão convidativas quanto às de Disney World. Não dá para saber, sequer, se o turismo na China crescerá com isso. E, claro, não serei eu o primeiro a discorrer sobre as incongruências de um país comunista, com todos os seus óbvios defeitos e erros, a investir num mercado como esse.
Mas, podemos arriscar uma ou outra piada infame: “É um negócio da China”, ou, “Isto é que é turismo sexual...”
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