Matérias - 24 de outubro

sexta-feira, 23 de outubro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Uma feliz Natal

*João Carlos Moura

Pareço um gringo desejando um feliz Natal. A frase foi feita para expressar de fato a impressão favorável – e amorosa - que tive dessa encantadora e feiticeira cidade ao norte do Brasil.

Quando era muito pequeno, estive lá e lembro-me de uma foto que depois circulou na família, onde aparecíamos na volta de navio para o Rio, ao lado de Câmara Cascudo, potiguar (quem é do R.G.do Norte), o maior folclorista do Brasil, com mais de cem livros publicados.

Havia também alguma coisa que se dizia entre nós que Cascudinho (como o tratavam em casa) era primo de minha avó materna, Da Engracia, cujo marido, vovô Firmo era poeta e escritor em estado permanente de poesia. Ele quem lia sempre a noite histórias para mim, acho que vem daí o meu amor pelos livros.

Onde está essa foto com Cascudinho? Eu estava de tênis novo (Kédis), lembro-me bem do cheiro de borracha o que me faz também associar ao enjôo por conta daquele cheiro de comida de navio, saindo das chaminés no convés.

Tenho ainda foto-grafadas em minha memória - quase sempre mais visual que auditiva ou literária - algumas coisas que senti como se já tivesse estado lá. Estive sim, aos quatro ou cinco anos de idade, e o que veio forte na lembrança agora, estando lá , foram as areias, as dunas, as cores do mar, o cheiro das frutas, e as paisagens que persigo até hoje, e se desdobram na pintura que faço: o mar, as frutas e as paisagens marinhas de Natal.

Não veio por acaso a fama que agora tem a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. De beleza única, uma gente superamável, hospitaleira, simpática.

Pareceu-me que lá estão fundando e construindo uma civilização nova no Brasil: cidade limpa, respeito ao meio ambiente, gente calma, acolhedora e cordata.

Uma ida à Natal é lição para ninguém do Rio ou São Paulo botar defeito.

Em Natal lembrei-me do nosso querido amigo Titto Rosemberg, um dos pioneiros – também – da luta ecológica pelo bem do Brasil, diferente dos caiados ou caídos pelo mato ou mar adentro.

Titto, que hoje mora em Pipa, saiu de Búzios imaginando em suas lúcidas-alucinações, que teríamos na península buziana – agora no horário nobre de novela – uma casa colada na outra a tomar conta de toda a paisagem.

Em Búzios isso não aconteceu, mas infelizmente na mudernidade de uma parte de Natal tem um prédio ao lado do outro, como em Copacabana, que foi modelo negativo para o Brasil, muito copiado - um paredão de concreto.

Ainda dá tempo de segurar a belíssima paisagem costeira de Natal. Também se vê lá como em outras partes, prédios com cores, edifícios novinhos, reluzentes, bonitos, vistosos, sem aquele vidro fumê e mármore branco que tomou conta da Barra da Tijuca e que jamais deveria ter em cidades serranas. Como ver a paisagem na serra entre vidro fumê e névoa?

Mas a decepção veio: a praia de Pipa não devia ter a fama que tem. O mesmo de Bonito em Mato Grosso do Sul. Muita badalação e nada que mereça destaque. Se em Bonito há poucas árvores no centro da cidade, por exemplo, Pipa não tem praias tão belas que façam jus à propaganda que se faz dela. Juro que foi decepcionante ir a Pipa. Nada de impactante como se vê, por exemplo, em outras belíssimas praias, principalmente às do litoral norte em Natal. Pipa fica no litoral sul.

Em resumo: Natal merece uma visita. Ou várias visitas. Há o que se ver, onde comer muito bem e passear tranquilamente, como em poucas cidades do Brasil hoje em dia. Natal é um show!  Não era à toa que minha mãe (Dona Lourdes, com 89 anos) falava sempre da Ridinha como se fosse o paraíso na Terra. Ela estava certa. Hoje na Redinha se concentra quem quer ver o pôr do sol mais bonito da cidade. É a atração com direito a outdoor. Feliz Natal, para sempre, é o que desejo! 

* Artista plástico

De bem consigo mesmo

Thereza Freire Vieira (*)

Para se viver bem consigo mesmo, é importante ter essa confiança. A maioria das pessoas, com predominância dos que envelhecem, querem despertar interesse e compaixão nas outras pessoas e de um modo especial entre seus familiares. Acham que, falando das suas doenças, dos seus problemas, sentindo-se as mais infelizes das criaturas, estarão despertando o interesse das que as ouvem. A pior coisa que pode acontecer é perguntar para essas pessoas como estão se sentindo. Vão desfilando minuciosamente um rosário de malsucedidos, de sintomas, de doenças. Esquecer-se-iam um pouco de seus problemas se pensassem nas outras pessoas que sofrem muito mais, porém, isso nunca seria possível, pois sempre acharão que sofrem mais que o resto da humanidade. Não adianta contemporizar, esses idosos são persistentes e continuam a sua ladainha interminável.

Não querem compreender que são cansativos, que estão saturando a família com suas queixas e com o seu pessimismo. Não seria melhor se procurassem ajuda de um psiquiatra ou psicólogo? Podem ser vítimas de depressão e de muito seriam aliviadas com acompanhamento especializado e se necessário com antidepressivos.

A maioria dessas pessoas pessimistas, a quem nada causa alegria e que não suportam um ambiente barulhento, com crianças e adolescentes, deviam pensar que, se não mudarem, se não ficarem de bem com a vida, vão constituir-se em um peso pesado para os seus cuidadores, sejam parentes, filhos, netos ou profissionais contratados, num futuro não muito distante.

A reeducação é importante em qualquer idade e a vida seria muito melhor para ela e as pessoas que com ela convivem.

(*) – Médica Geriatra e escritora,

colaboradora de jornais e revistas.

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