Porciana & Persianas Genealógicas
Marcia Frazão www.marciarfrazao.blogspot.com
Quando apareceu, optou pelos números. À direita, o número redondo da folha. À esquerda, escondido num canto iluminado pela tênue luz da lamparina, o número do termo. Muda, invisível, inodora, alheia ao tempo e à caligrafia rebuscada, quase apagada, do empertigado escrivão do cartório. “Moço esquisito”, pensou, sufocada pelas paredes amarelecidas da sala abafada, sem sol. Quis abrir as janelas, mas as trancas eram altas demais para sua altura pouca.
Invisível, se valeu desse estado e levantou a saia pesada, negra, sustentada por muitas anáguas. Recolheu as ondas do oceano de panos e esticou as pernas ávidas de sol. Seu marido não viu. O moço esquisito não viu. “Quem foi que disse que a morte não traz vantagens?”, pensou com os botões da blusa abotoada até o cume do pescoço.
No topo da montanha escarpada em curvas e grotas de carne, os botões abandonaram as casas, descendo pela encosta como alpinistas à frente de uma avalanche. Ninguém percebeu o imperceptível abalo nas tábuas enceradas do assoalho e com enfado o empertigado escrivão continuou a escrever que às nove horas da noite deste dia de mil novecentos e oito falleceu Porciana Roza de Jesus, de pneumonia, aparentando oitenta annos de idade. Pronto. A morte fora lavrada e assinada.
Livre da saia, das anáguas e da blusa, Porciana se exibiu para Deus exatamente como Ele gostava de espiá-la no riacho. Ergueu-se da cadeira à frente da mesa do moço esquisito e, esticando-se na ponta dos pés, finalmente conseguiu abrir a janela. Ninguém percebeu o imperceptível tornado que embaralhou as letras rebuscadas, quase apagadas, do termo de seu óbito para formar um cifrado recado: eu, Porciana Roza de Jesus (e de Deus), sua trisavó, declaro que dos pecados cometi todos; acumulei o brilho das estrelas no cofre da alma, emprestei amor a juros tão altos que poucos amantes puderam pagá-los, gemi de prazer a cada botão desabotoado, invejei todas as aves de migração, lambi cada torrão de açúcar como se fosse o último, cobicei a prata da lua e o marulho das ondas, amaldiçoei o Criador por não ter me feito sereia ... e que os “aparentes” oitenta anos declarados pelo doutor ficam por conta dos óleos com que ungi meu corpo nos meus noventa e sete anos de vida.
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Verdura boa e de graça cresce no mato da cidade
Em Nova Friburgo taioba dá em vaso, canteiro, no chão...
Tudo indica ser a China o berço de sua aculturação, não obstante a taioba já ser plantada em larga escala no Egito dos Faraós, com a denominação de Calquas ou Culcas. Taioba é um dos nomes que pode ter a planta de nome científico Xanthosoma sagittifolium Schott - que ainda é conhecida por orelha-de-elefante (principalmente como planta ornamental), macabo, mangarás, mangará-mirim, mangareto, mangarito ou yautia.
A taioba no Brasil é mais popular nos estados do Rio, Minas Gerais e Bahia. E aqui em Nova Friburgo ela dá no mato. Nativa, boa de ser colhida por quem passa. De graça! Para cultivar basta uma soquinha da planta e pronto: deixe-a lá, quieta, que ela vai virar uma toceira verde, com folhas lindas de se ver e... comer. Dá em vaso, canteiro, no chão.
A taioba é utilizada como digestivo, pois tem a propriedade de regularizar as funções intestinais. Em sua composição se encontram cálcio, fósforo, ferro, proteínas e uma grande quantidade de vitaminas: A, B1, B2 e C. Tanto o talo quanto as folhas apresentam os mesmos elementos, apenas em proporções diferentes. Nas folhas encontramos mais ferro e vitamina A. O valor energético para cada 100g de talo é de 24 calorias, enquanto que nas folhas há 31 calorias para as mesmas 100g.
Dica para diferenciar uma taioba boa de uma ruim (venenosa): siga o talo até o fim, se ele estiver formando um “Y”, coma sem medo, mas, se estiver quase formando um “T”, não coma, porque é a versão venenosa da taioba.
Por sua riqueza em amido, é um alimento importante para crianças, idosos, trabalhadores braçais, atletas, grávidas e mulheres que amamentam. Alguns chefes de cozinha descobriram a taioba e colocam suas belas e verdes folhas em pratos com carne de porco, camarão ou trouxinhas de palmito.
Para comer a taioba de forma simples e eficiente basta fazê-la como a couve. A cultura da taioba deveria receber maior incentivo, já que as qualidades das folhas como alimento são superiores ao espinafre em relação ao sabor e nutrientes.
A população do Brasil está mais velha
Thereza Freire Vieira
Quando se ouve dizer que o Brasil é um país jovem, não se percebe que, com a medicina preventiva diminuindo também o índice de mortalidade infantil e a mortalidade de um modo geral, a pessoa vai viver mais. Basta pensar que os que nasceram depois do término da Grande Guerra, em 1945, quando houve um rush de nascimentos, em 2010 terão 65 anos de idade.
Com a diminuição da natalidade, seremos um país de velhos.
É importante preparar esses jovens de hoje para a velhice de amanhã e ao mesmo tempo preparar os mais velhos, que já atingiram os 60 anos de idade, para se tornarem independentes, pois, se não acontecer, irão sobrecarregar os jovens e sobre eles recairá a responsabilidade sobre os idosos. Eles não terão condições de aguentar a sobrecarga sobre os ombros, o que acontecerá quando se virem abrigados a cuidar dos idosos.
Na sociedade atual, em que a maioria das pessoas é obrigada a trabalhar para sustentar a família, porque quase sempre os filhos também precisam entrar na luta pela sobrevivência, com o número de idosos aumentando continuamente, quem tomará conta deles?
Com o aumento da população idosa e a sobrecarga do trabalho dos mais jovens, nos próximos anos vai ser criado um grande problema para todas as faixas etárias. Como cuidar dos idosos da casa e trabalhar fora? Sendo que, na maioria das vezes, os seus velhos estão mais dependentes tanto financeira como emocionalmente, eles irão procurar meios de interná-los de acordo com a situação financeira, seja num hotel para idosos, numa clínica ou nos asilos.
O ideal seria que cada família pudesse cuidar de seus velhos; seria, de uma parte, um aprendizado com as pessoas idosas, e de outra parte, o idoso haveria de sentir-se melhor morando onde sempre morou e tendo o aconchego da família.
Mas nem sempre as pessoas que envelhecem têm condições de ajudar nas lides domésticas, cuidar dos netos e, às vezes, nem de si mesmos, e passam a ser um peso para a família.
O preparo das pessoas para o envelhecimento deveria acontecer com todas as pessoas, mesmo com os mais jovens que, assim, aceitariam melhor os problemas que vão surgindo com o tempo e aceitando melhor as suas deficiências.
(*) – Médica Geriatra e escritora colaboradora de jornais e revistas do país.
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