POE E O CORVO
Mario de Moraes
Há 200 anos (19 de janeiro de 1809, em Boston) nascia Edgar Allan Poe, escritor, poeta, romancista, crítico literário e editor. Considerado pela quase unanimidade dos intelectuais, juntamente com Júlio Verne, um dos introdutores das literaturas científica e fantástica, apesar de ter escrito muitas e famosas obras, é mais citado no mundo literário como o autor do poema O Corvo.
Falecido aos 40 anos em Baltimore, nos Estados Unidos, em 7 de outubro de 1849, alguns dos seus livros, como Os Crimes da Rua Morgue, A Carta Roubada e O Mistério de Maria Roget são considerados como as primeiras obras policiais. Importantes intelectuais dos Estados Unidos vão mais longe, colocando Edgar Allan Poe como o iniciador da verdadeira literatura norte-americana.
Membro de uma família escocesa-irlandesa, ele era filho do ator David Poe Jr. – que abandonou a família quando Poe tinha um ano de idade. Sua mãe era a atriz Elizabeth Arnold Hopkins Poe, que ficou tuberculosa e faleceu um ano depois. John Allan, um próspero mercador de tabaco de Richmond, e sua esposa Francis Allan o adotaram. Embora lhe dessem o sobrenome, nunca o fizeram legalmente, inclusive o registraram erradamente, como Allen. O casal fez questão de dar ao filho adotivo a melhor educação possível, matriculando-o na sofisticada escola de Miss Duborg, em Londres. E, posteriormente, na Manor School, em Stoke Newington. Em 1820 ele regressou com sua família para Richmond e seis anos depois entrou para a Universidade da Virgínia, que frequentou apenas um ano, já que foi expulso por muitas más ações que praticou.
Em casa as brigas eram constantes, já que seu padrasto não suportava ter que pagar as dívidas de jogo feitas por Poe. Em 1827, ele resolveu alistar-se nas forças armadas, com o nome de Edgar A. Perry. Nesse mesmo ano Poe demonstrou seus dotes literários, lançando seu primeiro livro (Tamerlane and Other Poems). Depois de cumprir dois anos de serviço militar, ele foi dispensado. Em 1829, sua madrasta faleceu e Poe fez as pazes com o padrasto, que o auxiliou a entrar para a Academia Militar de West Point.
Arruaceiro, Poe não poderia ficar muito tempo numa academia que primava pela ordem e obediência. Por isso, em 1831, o expulsaram dela. Por essa altura ele já havia lançado seu segundo livro, Al Aaraf. Devido à expulsão de West Point, seu padrasto cortou para sempre relações com ele.
Sua tia viúva, Maria Clemm, e sua filha Virgínia, que moravam em Baltimore, o acolheram, mas Poe participava das despesas da casa escrevendo para jornais. Em 1835, tornou-se editor do jornal Sothern Literary Messenger, de Richmond, ocupando o cargo até 1837. Foi nessa época (1836) que ele casou em segredo com uma prima, Virgínia, de 13 anos. No ano seguinte mudou-se para Nova York, onde nada produziu durante 15 meses. Foi, então, para a Filadélfia, onde pouco depois lançou a obra The Narrative of Arthur Gordon Pym. Seu nome já começava a ser conhecido nos meios literários e, em 1839, tornou-se editor assistente da BurtonGentleman´s Magazine, onde deu vazão a sua ânsia de escritor, assinando diversas crônicas, artigos e críticas.
Foi nesse mesmo ano que Poe publicou, em dois volumes, a sua coleção Tales of the Grotesque and Arabesque, que o poeta Charles Baudelaire (1821-1867) traduziu para o francês com o título Histoires Extraordinaires, no Brasil sendo publicada como Histórias Extraordinárias. Embora considerada um marco da literatura dos Estados Unidos, não teve o esperado sucesso de vendas.
Enquanto isso, Poe enfrentava um terrível drama familiar, que o desgastava a cada dia. Sua esposa ficou tuberculosa, inválida e acabou falecendo. Isso levou-o ao desespero e Poe procurou alívio no álcool, o que o fez deixar o emprego na Burton’s e procurar uma nova colocação. Para tanto voltou a Nova York, onde empregou-se, por pouco tempo, no Evening Mirror. Logo a seguir foi aceito como editor do Broadway Journal.
Em 1845, acontece, possivelmente, o fato mais marcante em sua vida de escritor: publica no jornal Evening Mirror um poema popular, The Raven (em português O Corvo), que termina conhecido, traduzido e vendido praticamente em todo o mundo literário.
Com a falência do Broadway Journal, Poe muda-se para uma casa no Bronx. Hoje esse prédio, conhecido como Poe Cottage, está aberto à visitação pública. Foi justamente um ano após a mudança que sua esposa morreu. Poe caiu em profunda depressão e tentou esquecer a falecida namorando a poetisa Sarah Helen Whitman, com quem ficou noivo. Mas o casamento não se realizou, entre outros motivos porque Poe vivia bêbado e a mãe de Sarah foi contra a união.
De acordo com ele mesmo e totalmente fora de si, Poe tentou o suicídio, tomando uma fortíssima dose de láudano (medicamento cuja base é o ópio), mas se salvou e regressou a Richmond, onde passou a namorar uma amiga de infância, a viúva Sarah Elmira Royster.
Segundo estudiosos da sua obra, Edgar Allan Poe, ao contrário da maioria dos autores de obras de terror, usava uma espécie de terror psicológico, seus personagens oscilando entre a lucidez e a loucura, na maioria das vezes cometendo atos infames ou padecendo de alguma grave moléstia. Seus contos têm uma característica: são sempre narrados na primeira pessoa. Normalmente os temas de seus livros e contos tratam de questões da morte, como a reanimação de pseudofalecidos e o luto, apresentado sempre de forma trágica.
Poe, no entanto, não escreveu apenas contos e romances de terror, mas também críticas. Metzengerstein foi a primeira história de terror escrita por Poe, que também reinventou a ficção científica. Sua morte constitui um mistério até hoje. No dia 3 de outubro de 1849 ele é encontrado caído numa das ruas de Baltimore, em estado de delirium tremens (perturbação mental que pode ocorrer com alcoólatras) e o levam para o Washington College Hospital, onde morre quatro dias depois. O mais estranho é que ele vestia roupas que não eram as suas.
Apesar do seu estado etílico, aparentemente, explicar a causa da sua morte, isso nunca foi aceito pelos médicos que lhe atenderam. Surgiram muitas hipóteses, como diabetes, sífilis, raiva e doença cerebral, mas nenhuma foi comprovada.
Delícia de verão
Consumo de sorvete é um dos hábitos da estação
Flávia Namen
Com a estação mais quente do ano o consumo de sorvete aumenta significativamente entre pessoas de todas as idades. Nutritivo, saboroso e barato, o alimento é uma das melhores opções para quem quer refrescar o organismo. Em Nova Friburgo o movimento tem sido intenso nas sorveterias e lojas de fast-food da cidade, comprovando que o consumo do produto é um dos hábitos principais do verão.
O alto valor nutritivo do alimento deve-se aos ingredientes à base de leite e açúcares. O sorvete de massa, por exemplo, contém proteínas em sua composição, o que garante também o aporte de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e hidrossolúveis (vitaminas do complexo B), além de minerais, como o cálcio, que é essencial durante a fase de crescimento de crianças e para a manutenção da saúde óssea de adultos e de idosos.
Para quem acha que o sorvete tem alto valor calórico, uma boa opção é a linha light. Atualmente existe no mercado uma série de opções industrializadas e artesanais de sorvetes com baixo teor de gordura e açúcar e tão saborosos quanto os tradicionais.
E tudo começou com sorvetes de neve...
Segundo relatos, o sorvete foi criado pelos chineses – e não pelos ocidentais – há mais de mil anos e era bem diferente do sorvete consumido hoje. Parecido com a raspadinha, muito popular no Nordeste, o alimento era produzido com o gelo trazido das montanhas nevadas, ao qual eram adicionados mel, frutas frescas e néctar.
Foi Marco Polo, um explorador veneziano, que levou o sorvete para a Itália, onde o alimento foi aprimorado e, depois, levado para outros países. Contam também que um italiano chamado Bernardo Buontalenti, no século 16, inventou o sorvete à base de leite, tornando o produto mais macio e nutritivo.
No século seguinte a primeira máquina de fazer sorvete foi construída e o alimento passou a ser produzido em escala industrial. No Brasil o sorvete foi trazido pelos portugueses no fim do século 18, sendo os baianos os primeiros contemplados a degustarem o alimento.
Testemunhos do gelo
Diego Aguiar
A pesquisadora especializada em geologia e geomorfologia Rosemary Vieira atualmente goza de férias merecidas em seu sítio em Três Picos. A carioca e moradora de Nova Friburgo desde os 7 anos de idade voltou recentemente de sua terceira viagem à Antártida. Ela esteve em uma temporada de expedição científica nos Patriot Hills (Montes Patriotas), onde ficou acampada cerca de 20 dias.
Rosemary integrou o acampamento do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas (Nupac), do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). A equipe de oito pessoas – cinco pesquisadores da UFGRS, dois da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e um chileno da Universidad de Magallanes – estudou a reconstrução do comportamento do manto de gelo, através dos vestígios deixados pelo tempo, nos depósitos de sedimentos e feições de relevo. “O que fazemos é trabalhar com a reconstrução do passado, para inferir como será o futuro”, explica.
A pesquisa de Rosemary se concentra nas alterações climáticas provocadas pelas ações do homem ao longo do tempo. “No gelo podem ser encontradas, por exemplo, vestígios de queimadas, explosões atômicas – de testes realizados durante a Guerra Fria –, em suma, os efeitos dos eventos da história humana sobre a Terra”, conta a geógrafa, lembrando a importância da observação destes e de outros eventos.
As mudanças observadas no manto de gelo servem para se compreender o comportamento do meio ambiente diante das agressões sofridas. “Para a escala de tempo humana, que é muito curta, não há grandes riscos para nossa geração. Quero dizer, as geleiras não derreterão em semanas, o continente antártico tem uma espessura média de até 2,5km e uma máxima de 5km. Ou seja, não corremos risco de assistir ao fim do mundo, nem nada parecido. Mas o derretimento das geleiras é um fato e pode provocar mudanças no clima, algo que já percebemos”, alerta Rosemary, referindo-se principalmente ao sul do Brasil, onde essas variáveis se fazem ainda mais claras. “Nossa falha é que temos uma visão temporal e espacial muito estreitas. Temos que ter consciência dos reflexos de nossos atos e de como eles podem afetar a longo prazo o mundo que habitamos”.
Rosemary também lembra que o trabalho realizado pelo Nupac é de grande importância. “Quando se pensa em preservação ambiental, normalmente fala-se da Amazônia, mas o que não se sabe é que a Antártica tem a mesma importância. A Amazônia e a Antártica formam os dois polos climáticos de grande influência no território brasileiro”, esclarece.
Rosemary fez seu mestrado no Chile, onde trabalhou durante quatro anos na Cordilheira dos Andes e na Patagônia. Agora, já cursando seu pós-doutorado, faz parte do Instituto de Geociências da UFGRS, onde ingressou, indicada por seu orientador, o professor Jefferson Cardia Simões, no Programa Antártica (Proantar), onde ele é um dos coordenadores. Jefferson também é chefe coordenador do Nupac, que possibilitou a nova viagem até a Antártica. “O Brasil tem cerca de 25 anos de estudos sobre a Antártica, não é um trabalho novo”, deixa claro.
A primeira das viagens de Rosemary para a Antártica foi entre 2003 e 2004, quando ficou na Ilha Rei George, na Geleira Ecology. Sua segunda viagem ocorreu entre 2007 e 2008, desta vez na Geleira Wanda, já como coordenadora de acampamento. Agora, em sua última viagem, que durou de 29 de novembro do ano passado até 12 de janeiro deste ano, dez dias depois do previsto, chegou a experimentar um frio de até -35º.
Apaixonada por ambientes frios, Rosemary garante que este não é um problema. Alias, segundo ela, não há problema algum em uma viagem desse tipo. “Acampar em um ambiente hostil, onde o vento só faz aumentar a sensação de frio, é, sem dúvida, um trabalho duro, e aquele que decidir ir, deve estar disposto a reconhecer os próprios limites, porque é tudo muito limitado. Caminhar sozinho é impossível, as condições do tempo muitas vezes impedem o trabalho”, diz, lembrando-se de uma frase comum no acampamento: “O clima é que dá o tom”. Ela também deixa claro que há marcas que o frio pode deixar: “Estou com queimaduras por conta do frio”.
Esse tipo de viagem não é fácil. Para se ter uma ideia, antes de embarcar, quem vai pela primeira vez à Antártica tem de fazer um curso na Restinga da Marambaia, no litoral do Rio. O Treinamento Pré-Antártica (TPA) é conduzido pela Marinha e tem como objetivo capacitar e adequar os indivíduos às condições que irão encontrar no continente gelado.
O isolamento, as limitações, palestras sobre as mais diversas áreas, tudo isso é apresentado no treinamento, “mas é no campo que você conhece seus limites”, diz Rosemary. “O frio oferece situações complicadas de serem contornadas, mas não impossíveis. O estranhamento inicial em relação, por exemplo, às 24 horas de luz, logo dá lugar à comodidade. Para tudo se encontra um jeito, até para se ir ao banheiro”, conta, rindo.
Rosemary tem diversas publicações em revistas especializadas no Brasil e no Chile, além de apresentar palestras sobre as diferentes áreas de pesquisa. Seu trabalho é constante, e a produção de resultados pode levar anos, até. Por isso a captação de recursos se baseia na elaboração de projetos e em sua relevância. “O estudo das camadas do gelo nos possibilita observar os diferentes estágios do clima. Podemos voltar até 700 mil anos na história do mundo. Este é o testemunho do gelo”, relata.
Por fim, Rosemary afirma que uma experiência dessas é de enorme significância para o autoconhecimento, para a relação com as outras pessoas e uma ótima oportunidade para se repensar questões de grande importância individuais. Além disso, ela mal pode esperar para voltar.
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