entrevista
“Um arquiteto tem sempre que surpreender o cliente”
Friburguense Duda Porto comanda equipe de arquitetura no maior polo de decoração e design da América Latina
Dalva Ventura
Desde criança, todo mundo o conhece como Duda, mas seu nome de verdade é Marcelo Porto Soares. Este premiadíssimo arquiteto friburguense comanda uma equipe de dez pessoas na 2D Arquitetura, localizada no Casa Shopping, o maior polo de decoração e design da América Latina. No momento a 2D está tocando cerca de 60 projetos, muitos deles no exterior.
Desde o ano passado seu escritório está participando do Casa Cor, que é disparado a maior vitrine e o maior evento de arquitetura do país. Recentemente Duda ganhou um Chrysler Cruiser zerinho do Núcleo Carioca de Decoração, como o arquiteto de maior destaque em 2008, competindo com seis mil profissionais. Colecionador de prêmios, acaba de chegar da Feira de Milão, onde foi conferir as novidades do setor, e já está de malas prontas novamente, desta vez para participar da Feira de Chicago.
Filho do conhecido seu Raimundo, da Panino, falecido há cerca de um ano, Duda sobe a serra quase todo final de semana, com a esposa Flávia, e os filhos Caio, de 3 anos, e Lara, de sete meses. No momento o arquiteto está, inclusive, com grandes projetos na cidade, entre eles, dois lançamentos imobiliários, um edifício na Rua Monsenhor Miranda, um nas Braunes e um terceiro, por enquanto, secreto, que está em fase de estudo de viabilidade.
Nesta entrevista, o friburguense Duda Porto fala de sua trajetória profissional, da descaracterização da cidade do ponto de vista arquitetônico, de sustentabilidade e, sobretudo, desmistifica a ideia de que contratar um arquiteto para projetar e acompanhar uma obra é coisa só para bacanas.
LIGHT - Então, estão começando a ressurgir os lançamentos imobiliários em Nova Friburgo?
DUDA PORTO: Sim, basta observar. Há quanto tempo não se ouvia um bate-estacas na cidade? Pois agora a gente voltou a escutar. Na minha opinião, Friburgo está começando a se recuperar economicamente.
LIGHT - Em sua opinião, há alguma perspectiva de se pensar Nova Friburgo arquitetonicamente?
Duda: Acho que agora o município está bem assessorado em termos de planejamento. O Luiz Cláudio Ferreira, atual diretor da Empresa Municipal de Habitação, tem algumas ideias boas para a cidade e, com certeza, estamos precisando realmente de uma fisionomia. Porque Friburgo perdeu sua identidade ao longo dos anos. A cidade se descaracterizou de conceito, de estilo, de tudo. Nós que somos daqui e temos amor por isso aqui fechamos os olhos para os problemas. Mas uma pessoa que não conhece a cidade ou ficou 15, 20 anos sem vir aqui, fica mal impressionado. Para tanto, precisamos, sobretudo, ter nas mãos o controle de um Plano Diretor bem elaborado, não permitindo invasões e a descaracterização dos nossos prédios.
LIGHT - Como foi que surgiu esse interesse pela arquitetura?
Duda: Com certeza, através de meu pai, que apesar de não ser formado, intuitivamente era um arquiteto. Foi ele, por exemplo, que fez a maquete da nossa casa em papel, no maior capricho, toda certinha. A decoração da Panino, a distribuição dos espaços, a logomarca, tudo isso foi ele quem criou. Papai sempre teve este gosto pela arquitetura, o que despertou em mim o interesse pela profissão. Tem até uma passagem interessante. Papai sempre gostou muito de Portugal e um dia ele me chamou no computador para me mostrar Luanda, onde havia passado sua lua de mel e que estava sendo reconstruída e mudando muito. Pois uma semana depois recebi um cliente de lá, deste primeiro projeto surgiram outros, principalmente em Luanda Sul, onde estão surgindo muitos condomínios novos. Fiz também o projeto de um hotel que está sendo construído dentro da ilha de Luanda, o Golden Sambala. Para o papai, que amava Portugal, isso era uma realização. Hoje em dia, temos tantos projetos em Luanda que estamos abrindo uma filial lá.
LIGHT - Seu escritório é um dos mais badalados do Rio, não?
Duda: Sem falsa modéstia, é, sim. Embora a gente esteja apenas começando esta caminhada, já conseguimos ser reconhecidos no mercado, o que é extremamente difícil até porque este é um segmento muito, muito competitivo. Mas não chegamos nem perto de onde queremos chegar.
LIGHT - A crise econômica atingiu os escritórios de arquitetura?
Duda: No nosso caso, acho que a situação ficou um pouco estranha no início do ano, quando senti que algumas coisas deram uma freada. Mas não demorou muito e o mercado reagiu.
LIGHT - Como você definiria seu trabalho?
Duda: Sou adepto do estilo contemporâneo. Sempre confiro aos meus projetos uma limpeza de traços, espelhando funcionalidade e arrojo. Também faço questão de surpreender o cliente, porque a gente trabalha, antes de mais nada, com o sonho das pessoas. O arquiteto tem esta missão, a de se colocar na frente do cliente para poder lhe proporcionar aquilo que ele quer antes mesmo dele saber o que é. De uma certa forma, temos de funcionar um pouco como psicólogos.
LIGHT - Como assim?
Duda: O arquiteto tem de ir muito a fundo na vida da pessoa, porque estou construindo para ela. Não estou fazendo uma mostra, uma exposição. Se você vai construir uma casa, tem de me passar exatamente tudo o que quer, mas isso só não basta. Preciso conhecer seu estilo de vida, como você vive, seus gostos. E, detalhe, os mesmos conceitos que uso para construir uma residência uso para desenhar uma cadeira, para projetar uma cidade. O caminho é o mesmo, a proporção é que é diferente.
LIGHT - Conforto em primeiro lugar?
Duda: Não, primeiro a funcionalidade, isto é, a circulação, o uso do espaço. A diferença é que o conforto é mais palpável, você pode oferecer conforto só através de um determinado material. A funcionalidade é muito mais do que isso porque todos os espaços são preciosos e precisam ser cem por cento utilizáveis. Antigamente, as pessoas construíam casas para não usar. A sala de estar era só para as festas e o Natal. Se uma criança entrasse, levava bronca. Hoje em dia, tudo tem que ser funcional. Até porque, mais do que nunca, as construções devem estar dentro de uma linha ecologicamente correta, de sustentabilidade. Muito mais do que a preocupação em construir uma parede com material reciclado, devemos observar se esta parede ou mesmo se aquele cômodo são, realmente, necessários.
LIGHT - Você se preocupa muito com esta questão do ecologicamente correto, não?
Duda: Com certeza. Hoje em dia, em toda a residência que a gente constrói aproveitamos a água da chuva e a energia solar. Este conceito de utilização correta de água e energia é básico. Além de ser mais barato, funciona muito bem. Eu acho que toda casa deveria ser obrigada a ter isso. Mas, para tanto, é preciso mudar algumas leis e exigir mais das construções. Se não for através de lei, só quem for consciente vai aplicar. Quem não é...
LIGHT - Este conceito de sustentabilidade pode ser transposto para construções populares?
Duda: Com certeza. Aliás, principalmente para estas construções. Já trabalhamos num projeto de bairros populares com sustentabilidade tanto na questão de uso do material como também na questão do trabalho. O conceito é semelhante ao das comunidades produtivas. Em vez de criar casas populares afastadas dos locais de trabalho, elas estarão inseridas nos locais já existentes. Claro que a aplicabilidade destes conceitos ainda é microscópica, está numa fase muito rudimentar, mas todos estão pensando da mesma maneira.
LIGHT - Você está trabalhando num grande projeto, um complexo de condomínios que vai ocupar uma área gigantesca, do tamanho de uma cidade? Poderia dar mais detalhes sobre isso?
DUDA: Por enquanto não. Já está bem desenvolvido, mas depende de algumas aprovações. Posso garantir, porém, que será uma coisa muito impactante. Serão cinco condomínios residenciais envolvendo uma área de nove milhões de metros. Todas as construções obedecerão aos conceitos do ecologicamente correto. Projetamos um cinturão verde em torno deste condomínio e ao redor dele, um manancial de água com filtro natural para quem vai morar ali. Estamos usando, realmente, todos os recursos possíveis para transformá-lo num lugar perfeito em todos os sentidos, principalmente em termos de vida e de renovação de ar.
LIGHT - Um projeto seu ou de outro arquiteto de seu nível é viável para pessoas assim da classe média ou é coisa só para bacanas?
Duda: As pessoas tendem a achar que o preço cobrado pelos arquitetos é inviável, que contratar um arquiteto encarece a obra, quando o que acontece é exatamente o contrário. Em princípio, você não precisa de um arquiteto para construir, mas é este profissional que vai garantir a funcionalidade da construção. Nós vamos direcionar o cliente pois sabemos melhor do que ele onde comprar por um preço melhor, o que é ou não é viável, o que vai ficar bom e o que não vai. Nossa missão é fazer com que, dentro de seus recursos, o cliente consiga obter os melhores resultados. Muitas vezes a pessoa começa a construir sem uma orientação e muda no meio, o que encarece e torna tudo muito mais complicado. Acho que as pessoas devem sempre contratar um arquiteto, seja para decorar um apartamento, para construir, reformar. Para tudo o que se faz é necessário buscar os profissionais certos, não tem jeito.
LIGHT - Você quer dizer que quem contrata um arquiteto acaba economizando...
Duda: Com certeza. É difícil das pessoas entenderem, mas se você observar o custo total da obra e os benefícios que o arquiteto trouxe, verá que vale a pena. Repito, contratar um bom arquiteto não é algo inviável, não fica caro, pelo contrário. O que sai caro é começar a construir antes de ter um projeto perfeito nas mãos, porque são as mudanças que encarecem as obras. Aquele negócio do ‘já que fez isso, vamos quebrar ali e colocar mais aquilo’, isso sim, é inviável.
Geriatria: cuidados com a saúde
Thereza Freire Vieira (*)
Vamos analisar o ser humano como se fosse uma casa. Devemos estar preparados para fazer as reformas na hora certa e saber todos os pontos que precisam de reparo. Se notarmos que uma telha está fora de lugar, é urgente que seja recolocada e, se quebrada, comprar outra para substituir a estragada. Também é importante que aproveitemos o bom tempo para pôr ordem no telhado. Depois de dias de chuva, é até perigoso subir na casa para consertar, trocar as telhas, pois poderemos cair e ter fraturas, o que seria um perigo, mas, aproveitando o bom tempo, o trabalho será bem feito.
É importante uma vigilância permanente, pois, se chover dentro de casa, mesmo que não seja um temporal, os móveis poderão se estragar e o piso apodrecer.
O mesmo acontece com a pintura da casa: se já está manchada, arranhada, esfolada, ao mesmo tempo destrói-se a imagem de sua residência.
Para que tenhamos uma casa em ordem, necessitamos de manutenção, do pedreiro, do pintor, do encanador, do eletricista e, cada um fazendo o que sabe e o melhor que pode, a nossa casa estará sempre parecendo nova, não importam os anos que ela tenha. É preciso, para cada lugar estragado, chamar o técnico especializado para descobrir o defeito e consertá-lo.
Por que o ser humano não faz o mesmo com o seu corpo? É muito mais valioso, muito mais importante que a sua casa.
Para não deixar a pele ressecar-se, sua adiposidade deformar o seu corpo, bastaria muitas vezes uma boa dieta alimentar, com as vitaminas necessárias para corrigir esse problema e, se quiser melhor ainda, por que não deixar a poltrona e sair para fazer uma caminhada?
Muitos não fazem um exame de sangue para saber como se encontram o colesterol, a glicose, o hemograma, e surpreendem-se quando se apresentam estes problemas e a bomba-relógio chamada coração explode.
Há muitas pessoas que não têm condições de procurar um médico em seu consultório e acham que nos postos de saúde demoram muito para marcar a consulta e se cansam de esperar. Realmente seria mais fácil se aumentasse o número de médicos ou o número de atendimentos diários.
(*) Médica Geriátrica e escritora, colaboradora de jornais e revistas do país.
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