A cidade mais
fria do mundo
Mario de Moraes
Fotos de Shaun Walker e outros
Num dos meus passeios diários pela internet, encontrei um texto dos mais curiosos, escrito pelo jornalista Shaun Walker e publicado no jornal britânico The Independent. Pedindo licença para divulgar alguns dos seus trechos, eu os coloco numa cidade, Yakutsk, considerada a mais fria do mundo. Nós, brasileiros, que vimos reclamando do frio que vem acometendo as principais cidades do país, até mesmo a ensolarada Rio de Janeiro, parecendo estarmos vivendo num eterno inverno, ficamos surpresos com as informações dadas por Shaun Walker.
“Yakutsk é uma cidade remota da Sibéria Oriental, com uma população de 200 mil habitantes, famosa por ser considerada a cidade mais fria da Terra. Em janeiro a média fica em torno de 40º C negativos. A névoa que cobre a cidade registra a visibilidade a dez metros”, informa Walker, que passou algum tempo em Yakutsk fazendo uma dolorosa reportagem. Ela é a capital de Yakutia, região que abrange mais de 2,6 milhões de quilômetros quadrados e fica a seis fusos horários de Moscou. A viagem até lá leva seis horas num antigo avião Tupolev. A passagem custa cerca de 1,8 mil reais, ida e volta, muito barata num país cujo salário médio é de 930 reais mensais. Não há ferrovias na cidade e as outras opções de chegar a Yakutsk são uma viagem de 1,6 mil quilômetros de barco subindo o Rio Lena, nos poucos meses em que ele não está congelado, ou então a Estrada dos Ossos, uma rodovia de dois mil quilômetros construída por prisioneiros do Gulag, o sistema penal soviético.
Entre muitas informações, Shaun Walker revela que abaixo de 45º C negativos é impossível usar óculos, porque o metal gruda no rosto e nas orelhas e rasga pedaços da pele quando for tirá-los. Os habitantes de Yakutsk acham 40º C negativos frio, mas “não muito frio”. Em sua primeira saída do hotel, Walker preveniu-se do frio vestindo um par de meias de algodão com um par de meias térmicas por cima, um par de botas, ceroulas térmicas, uma calça jeans, uma camiseta térmica, uma camiseta de mangas compridas, um suéter justo de cachemira, um abrigo esportivo, um casaco de inverno com capuz, um par de luvas finas de lã – para não expor a pele quando tirar a luva externa para fazer as fotos –, um par de luvas de lã, um cachecol de lã e um boné também revestido de lã.
Walker saiu pensando estar bem agasalhado e até sentiu uma sensação agradável, “mas em poucos minutos, porém, o clima gélido passou a se impor. A pele exposta começou a dar pontadas e depois ficou adormecida, o que podia ser perigoso, porque significava que o fluxo sanguíneo no local havia parado. Então o frio penetrou através da dupla camada de luvas e congelou meus dedos. O boné e o capuz tampouco foram páreo para os 43º C negativos e minhas orelhas começaram a pinicar. Em seguida as pernas sucumbiram. Finalmente, me vi com dores agudas pelo corpo e tive que voltar para um ambiente fechado. Olhei o relógio. Ficara ao ar livre por míseros 13 minutos...”, espanta-se o repórter inglês.
Os carros usados pelos habitantes são importados do Japão, já que eles resistem mais ao frio do que os russos. Comumente, a fim de que eles funcionem após estacionados, seus proprietários deixam os motores ligados. E é a fumaça dos escapamentos que contribui para a névoa que cobre a cidade.
Inicialmente, Yakutsk foi conquistada pelos russos na década de 1630, sendo que, no século 19, foi utilizada como prisão para dissidentes políticos. Lênin e Stalin lá estiveram exilados. Os soviéticos transformaram a cidade num importante centro regional, já que ela é rica em ouro e diamantes. Os operários que trabalham na cidade ganham bons salários e continuam suas funções até que a temperatura atinja 50º C negativos, já que abaixo disso o metal se torna quebradiço.
As aulas das escolas de Yakutsk são suspensas quando a temperatura cai abaixo de 55 graus Celsius. Menos, os corajosos alunos agüentam, já que estão acostumados àquela situação.
Alguém se habilita a uma viagem a Yakutsk?
televisão
Destinos cruzados
A estreante Larissa Maciel revive a cantora Maysa na minissérie homônima
por Carla Neves / PopTevê
Há 31 anos, mais exatamente no dia 22 de janeiro de 1977, morria a cantora capixaba Maysa Figueira Monjardim Matarazzo em um acidente de carro na ponte Rio-Niterói, no Rio. Um ano depois, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, nascia a atriz Larissa Maciel. Os dois destinos, que, aparentemente, não deveriam ter qualquer ligação, hoje se cruzam na produção da minissérie “Maysa”, que estréia no dia 5 de janeiro na Globo. Tudo porque Larissa foi escolhida entre mais de 200 atrizes para viver a cantora na tevê. “Antes da minissérie, só sabia que a Maysa era cantora de ‘Meu Mundo Caiu’ e ‘Ouça’”, confessa Larissa.
Mas a falta de conhecimento sobre a carreira da cantora, que poderia ser um obstáculo, serviu de aliada para a atriz. Afinal, desde o dia que soube que tinha desbancado outras 200 atrizes e conseguido o papel-título da minissérie, Larissa mergulhou na biografia de Maysa. Além de ler todos os textos que recebeu de Jayme Monjardim – diretor da minissérie e filho da cantora –, Larissa ouviu todos os discos e assistiu a todos os shows em vídeo da cantora. “Acredito que tenha visto todo o material disponível sobre a Maysa. Aliás, acho que não ficou nada que não tenha visto mais de uma vez”, revela.
Como, na trama de Manoel Carlos, Larissa vai viver Maysa em quatro etapas de vida diferentes, dos 15 aos 40 anos, ela se esforçou para interpretar a cantora da forma mais perfeita possível. Por conta disso, teve uma sofisticada preparação corporal e vocal. Além, é claro, das constantes aulas de canto e das minuciosas sessões de fonoaudiologia que continua tendo. “Também li todos os diários e tudo o que saiu a respeito dela na imprensa. Teve um ano em que todos os dias saía alguma notícia sobre ela em algum jornal ou revista”, surprende-se.
Apesar de estar fazendo um mergulho intenso no universo da cantora, Larissa não vai imitá-la na minissérie. Aliás, essa foi uma das recomendações de Jayme Monjardim, que pretende fazer uma releitura da vida da mãe, de acordo com a interpretação de Larissa e do texto de Manoel Carlos. “É uma homenagem a ela. É o que o Manoel Carlos falou: uma vida aprisionada. Ele aprisionou a Maysa em nove capítulos”, conta ela, que se achava fisicamente muito diferente da cantora antes de se ver caracterizada por Fernando Torquatto. “Quando o Torquatto acabou a minha caracterização, tive um choque. Me vi no espelho e pensei: como assim?”, lembra a estreante, aos risos.
Nascida em Porto Alegre, Larissa faz teatro amador desde pequena. Na adolescência, resolveu estudar Interpretação Teatral na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se formou há oito anos. Desde então, não parou mais. Fez diversas peças profissionais no Sul e participou de curtas e projetos de dramaturgia na RBS, emissora afiliada da Globo. Foi lá que conheceu Léo Gama, produtor de elenco que indicou seu nome para o teste da minissérie. “O Léo já tinha assistido a alguns trabalhos meus na RBS e me chamou. Fiz e fui aprovada”, orgulha-se.
Mesmo estando ciente da responsabilidade que é estrear como o papel-título de uma minissérie da Globo, e com o agravante de estar sendo dirigida pelo filho da homenageada na produção, Larissa não tem medo das críticas. “Nesse momento, não estou pensando nisso. Por enquanto, toda a minha energia e a minha atenção estão voltadas para dar o melhor de mim, para fazer jus ao papel para o qual fui escolhida”, assegura ela.
Linhaça:
uma revolução na alimentação dos cavalos
Um poderoso nutriente na alimentação de animais tem ganhado espaço nos diversos haras e fazendas espalhados pelo país. Trata-se da farinha de linhaça integral e do óleo de linhaça. Além dos bovinos, os grandes beneficiados com estes componentes na dieta são os eqüinos, sobretudo, por apresentarem um aparelho digestivo mais complexo e preparado para digerir fibras e pastagem, mas, que nos últimos tempos, têm enfrentado constantes mudanças no cardápio. O resultado é que, muitas vezes, o organismo destes animais não tem se adaptado a essas mudanças. Como conseqüências passam a apresentar as temidas cólicas, dores abdominais responsáveis pela maior causa mortis de eqüinos, apesar de não existirem estatísticas a respeito. Haras que passaram a adotar a linhaça na alimentação diária reduziram drasticamente os índices de cólicas na tropa.
Nos últimos anos inúmeras pesquisas passaram a indicar ser a gordura vegetal a mais segura forma de alimentar cavalos com energia concentrada. A confirmação desta informação representa uma verdadeira revolução na alimentação eqüina. A revista americana EQUUS publicou um importante artigo de capa que quebra antigos paradigmas da alimentação eqüina e não deixa dúvidas de que a cólica e a laminte – doença causadora de degeneração, necrose e inflamação dos cascos de cavalos e maior abreviadora de carreiras atléticas entre estes animais – estão com os dias contados nos haras e complexos eqüestres que implementarem a nova dieta.
Nos Estados Unidos, as primeiras experiências com gordura na alimentação eqüina se limitaram a despejar óleo de soja ou de milho por cima da ração diária dos animais. No Brasil descobriu-se que para incluir gordura na dieta do cavalo, um excelente suplemento seria a farinha de linhaça integral, que, além do alto teor de gordura, é um poderoso antioxidante e dos poucos alimentos a oferecer Omega 3 e 6 na sua composição. Quem recomenda a gordura vegetal na dieta dos eqüinos é o dr. Gustavo Braune, médico veterinário e importante estudioso brasileiro de alimentação eqüina. Segundo ele, em todos os casos em que a farinha de linhaça entrou na dieta dos cavalos a saúde e o desempenho dos animais melhoraram e o custo da alimentação caiu.
Segundo estudiosos, a gordura na alimentação do cavalo tem inúmeras vantagens. Além de ser de fácil digestão, é uma fonte de energia mais eficiente do que proteínas ou açúcar, e pequenas quantidades de gordura podem substituir grandes quantidades de grãos. A digestão de gordura requer menos água, produz menos calor, libera menos ácido e água nos intestinos, tudo isso contribuindo para aumentar o desempenho de cavalos de corrida, salto, adestramento, rédeas, enduro e concursos de marcha.
“Um santo remédio”
A linhaça nada mais é que uma planta herbácea que produz uma semente oleaginosa com altos teores de gordura vegetal e impressionantemente superiores a todos os vegetais e comparáveis apenas a alguns peixes de água gelada como o salmão. Vale ressaltar que a linhaça tem 38% de gordura vegetal, enquanto a aveia tem 4,7% e o milho, 3,9%.
Conceição Trucom, bacharel em Química pela UFRJ desde 1977 e estudiosa do assunto, elucida no seu livro A Importância da Linhaça na Saúde que esta planta tem uma relação histórica com os cavalos: “Tem (a linhaça) origem histórica na Ásia e no norte da África, onde os animais de grande porte como o cavalo, por quase dois milhões de anos, elegeram-na como alimento hiperconcentrado de energia e valor protéico, possibilitando que sobrevivessem aos mais rigorosos invernos”.
Na alimentação do gado, Conceição Trucom relata em seu livro que “por suas propriedades diuréticas, o farelo (de linhaça) costuma ser direcionado também para a alimentação do gado leiteiro, objetivando o aumento da produção de leite. Outro aspecto interessante é que o gado tratado com o farelo produz uma manteiga de melhor qualidade, de textura mais macia e cremosa, além de mais saborosa”.
Para os animais, a linhaça vem sendo administrada na forma de farinha integral ou óleo prensado a frio, o que significa com raras exceções que o processo industrial possa ser denominado justa e seguramente como beneficiamento, já que mantém intactas suas qualidades nutricionais. O ideal é que ambos, tanto na forma líquida como sólida, sejam fornecidos em pequenas doses misturados à ração, cada um na sua devida proporção.
Na avaliação de Braune, a linhaça pode se configurar num “santo remédio” para quem precisa trabalhar a curto prazo animais que estão em regime de pasto para participarem, por exemplo, de leilões. “Por mais que eles estejam gozando de plena saúde, nunca estão prontos para a festa. Falta um pouco de carne ou uma musculatura mais definida. Crinas, cauda e cascos normalmente não apresentam o viço necessário.” Se um animal precisa em média de três meses na baia com trato especial para chegar lá, Braune garante que com a linhaça em farinha mais o óleo é possível abreviar este tempo de recuperação do animal para 45 dias, inclusive com o melhoramento nos aspectos dos pêlos.
Na prática
Quem conhece bem as vantagens de se usar a linhaça no trato diário de cavalos é a criadora de Mangalarga Marchador Mara Rink, coordenadora da Escola Desempenho de Equitação, em Cachoeiras de Macacu. “Os 50 cavalos e éguas da nossa escola são muito queridos (quase todos nasceram aqui), vivem vida de cavalo (pouco confinamento), mas trabalham bastante. Treinam e dão aulas de equitação, adestramento e salto diariamente. Fazem longas trilhas e expedições freqüentemente. Muitos estão incluídos na nossa equipe de salto e competem o ano todo. Por causa do nosso manejo extensivo, as cólicas e gastrites sempre foram raras por aqui. Nosso problema veterinário sempre foram as lesões nos locomotores que afetam todos os atletas.”
Mas esta dura realidade na Coudelaria Desempenho teve seus dias contados, quando Mara, há cinco anos, começou a administrar diariamente 300 g de farinha de linhaça integral na alimentação de cada um dos animais. “O número de manqueiras foi drasticamente reduzido. Hoje o percentual caiu para cerca de 1% e a recuperação é muito mais rápida. Podemos debitar este sucesso ao uso da linhaça, pois foi a única variável que mudou no nosso manejo – os animais e suas rotinas são os mesmos. Só este seria um motivo para grande satisfação. Mas, além disto, houve uma redução nos custos de alimentação e uma melhora no peso, na disposição e no brilho do pêlo da tropa. Nenhum outro suplemento alimentar teve resultado tão surpreendente nestes 20 anos que alimentamos nossos animais,” admitiu a criadora.
José Augusto Garcia Leal, proprietário do Haras Guairá, em Altinópolis (SP), é outro que aderiu à linhaça na alimentação de seus cavalos da raça Mangalarga Machador. Segundo ele, os resultados são fantásticos na tropa, desde a melhoria na pelagem aos benefícios que o produto pode promover em se tratando de musculatura do animal. “A diferença é que a base de energia da linhaça é a gordura e a base de energia do milho é o amido. O amido tem um processo digestivo complicado, ao contrário da gordura, que é de fácil digestão para os animais e sem risco para a saúde. Com a linhaça os cavalos se mostram bem mais saudáveis”, relatou.
A linhaça vem sendo muito usada na alimentação de humanos, trazendo amplos benefícios, como a sua capacidade de regular as funções intestinais, auxiliar no tratamento da diabetes e diminuição do risco de doenças cardiovasculares. Também atua no crescimento e desenvolvimento infantil, no equilíbrio hormonal, na melhora de aspecto de cabelos, pele e unhas, bem como tem apresentado bons resultados na prevenção de câncer de mama e próstata.
A farinha de linhaça integral é industrializada no Brasil exclusivamente pela Cisbra, no Rio Grande do Sul, que não a distribui para uso animal. Para que os proprietários de cavalos e veterinários possam ter fácil acesso ao produto, a distribuidora de produtos veterinários Marca Forte está montando uma rede de distribuição nacional do óleo e da farinha de linhaça integral.
Sorvete, Jóias & Freud
Marcia Frazão - www.marciarfrazao.blogspot.com.br
Aos sábados, pela manhã, Nazair me levava para tomar sorvete na Colombo. Depois, empanzinada de caramelos, calda de morango, cobertura de chocolate, marshmallow coroado por rubra cereja, eu a seguia pelas vielas estreitas do centro da cidade num cortejo bizarro de experimentações de chapéus cujas plumas me provocavam espirros, vestidos negros de lantejouladas transparências, sapatos suspensos por agulhas que quase alcançavam o céu. A cidade era então um mistério acetinado, um enorme rolo de tecido prestes a rolar do balcão e cobrir a gigantesca Avenida Rio Branco, que por sua vez não era um rio nem era branca.
A peregrinação se aproximava da hora do a qualquer momento quando Nazair gentilmente, com a característica displicência dos ricos de bolso e espírito, empurrava uma transparente porta de vidro decorada por floreados e letras douradas. Nessa hora meus olhos ardiam como se mirassem o sol, um sol travestido de diamantes, esmeraldas, trançados de fios de ouro e platina que languidamente penetravam pelos dedos, punhos, colo e orelhas de Nazair. Mesmo sem ter a mínima idéia do que era sexo, rotulei-o como uma porta de cristal aberta para languidíssimos movimentos de gemas. Sexo era isso e ponto final.
Alheia às minhas conjeturas eróticas, Nazair escolhia algumas jóias que ritualisticamente eram colocadas em caixas de couro negro estofadas com cetim. As jóias eram cadáveres de belas adormecidas em ataúdes escuros, à espera de um beijo. Morte e sexo se trançavam num mesmo nó, num instante de gozo e desfalecimento, numa porta que se abria para uma caixa que se fechava. E eu ainda nem tinha lido Freud...
Se você quiser conhecer um pouco mais de Nazair, dê uma lida em meu livro ‘Guadalupe e as Bruxas’, publicado pela Editora Planeta.
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