Matérias - 14 de março

sexta-feira, 13 de março de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Amor pelo futebol

Mario de Moraes

Aquele brasileiro muito branco, alto e magro, criado na Inglaterra, quando desembarcou em 1894 no Brasil, nunca poderia imaginar a influência que teria para o esporte no país, devido a duas bolas de futebol que trazia debaixo dos braços.

Seu nome era Charles William Miller.

John, seu pai, era escocês, mas sua mãe era brasileira, com ascendência inglesa, chamada Carlota Fox. Charles nasceu no bairro paulistano do Brás, na Rua Monsenhor Andrade, na época um lugar de gente abastada. De tanto ouvir os avós e os pais falarem no Império Britânico, o ainda menino apaixonou-se por essa então potência europeia.

Por isso foi com imensa alegria que ele viajou para a Inglaterra aos 9 anos de idade, ansiando por conhecer todo o imenso domínio de um império que ia do Oceano Pacífico ao Índico, iniciando nas geleiras de Hudson Bay, no Canadá, até as distantes Índia, Austrália e Polinésia. Quando Charles desembarcou em Southampton, no extremo sul das ilhas britânicas, o guri não cabia de contente. Era como se tivesse realizado um sonho há muito acalentado.

Vivia-se a Revolução Industrial e a Grã-Bretanha exportava suas experiências para todo o mundo, entre elas, a construção de ferrovias e a tecnologia do gás a coque. Quanto aos jovens ingleses, orgulhosos do seu país, eles procuravam descarregar sua energia nos esportes, praticando críquete, tênis, hóquei, rúgbi, badminton e outros esportes menos populares. O futebol, na Inglaterra conhecido como soccer, além de já estar consolidado no Reino Unido, ia aos poucos tomando o lugar dos demais esportes e granjeando a simpatia dos jovens.

Nasce a Liga Inglesa de Futebol

Charles Miller estudava na Bannister Court School e desde logo demonstrou que havia nascido para a prática do futebol. Além de muito ágil e veloz, ele chutava forte com os dois pés.

Em 1846, representantes de seis universidades (Cambridge, Elton, Oxford, Harrow, Westminster e Winchester) haviam se reunido para padronizar as regras do futebol. Em 1863, numa reunião na Freenason’s Tavern, em Londres, um dos presentes sugeriu que deviam fundar a Liga Inglesa de Futebol. Nove anos mais tarde foi realizada a primeira Copa da Inglaterra, vencida pelo time do Wanderers.

Enquanto isso, o menino Charles Miller, cada vez mais apaixonado pelo futebol, mal podia aguardar na escola a hora do recreio, quando jogava animadas peladas.Segundo o escritor inglês Dave Jason, a escola onde Charles estudava era ideal para ele, uma vez que ela fazia sucesso na categoria adulta da liga de futebol de Hampshire. Seu time possuía ótimos jogadores, sendo formado por professores e alunos.

Um ano depois da chegada do menino Charles Miller à Inglaterra foi fundado o St. Mary’s Football Club, que tempos depois trocou o nome para Southampton F. C. Em 1891, o St. Mary’s inscreveu-se para disputar a Copa da Inglaterra. Sentindo que seu time era muito fraco, incapaz de disputar de igual para igual com os adversários, o St. Mary’s procurou convocar bons jogadores.

Por essa época Charles Miller estava com 17 anos e já era considerado um craque. Por isso foi chamado para atuar pelo St. Mary’s. E jogou pela primeira vez por esse time contra o time do Exército da Divisão de Aldershot. Embora Charles Miller tenha atuado muito bem, marcando o único gol do seu time, eles perderam por 3 a 1. Na temporada de 93/94, Charles jogou 34 partidas pela Bannister; School. E comprovando sua excelente qualidade de artilheiro, marcou 51 gols. Atuando por outros clubes ingleses, ora como titular, ora como convidado, Charles sempre deixou sua marca no arco adversário.

Volta ao Brasil

Charles Miller retornou ao Brasil no dia 18 de fevereiro de 1894, para trabalhar na São Paulo Railway Company (mais tarde rebatizada como Estrada de Ferro Santos-Jundiaí), ao mesmo tempo em que era correspondente da Coroa Britânica em nosso país, além de vice-cônsul inglês, em 1904.

Ele estava presente na primeira partida de futebol realizada em nosso país no dia 14 de abril de 1895, na Várzea do Carmo (SP), entre o São Paulo Railway e a Companhia de Gás, vencida pelo primeiro time por 4 a 2.

Charles Miller continuava apaixonado pelo futebol, esporte que ele desejava expandir por todo o Brasil. Foi assim que, ao lado de alguns companheiros, liderou a montagem do time do São Paulo Athletic Club (Spac) e ajudou a fundar a Liga Paulista de Futebol, a primeira a ser organizada em nosso país. Considerado o melhor artilheiro do Spac, foi o maior responsável pelos títulos paulistas de 1902, 1903 e 1904. Em 1910, resolveu, de forma surpreendente, abandonar a carreira de jogador e tornar-se árbitro de futebol.

Charles Miller combatia tenazmente a profissionalização, acreditando que ela destruiria o futebol. Para ele, os jogadores deviam atuar por amor ao clube e não por dinheiro. O Corinthian da Inglaterra foi um dos últimos clubes a aceitar o profissionalismo no Reino Unido. Existem algumas curiosidades em relação a esse clube. A principal delas era nunca agredir o adversário, nem receber qualquer espécie de prêmio ou recompensa. Tempos depois isto teve que ser revogado, a fim de que o Corinthian pudesse participar de jogos beneficentes e da Copa da Inglaterra. Havia uma restrição, no entanto, que custou a ser revogada e hoje parece piada: quando o jogador adversário fosse bater um pênalti, feito pelo goleiro, este tinha que ficar estático. A falta máxima foi introduzida no futebol em 1891 e a explicação para essa inusitada atitude, criada pelas autoridades esportivas inglesas, é que o goleiro devia ser condenado por ter recorrido a uma infração às regras do futebol.

Propagando o futebol no Brasil

Charles Miller foi quase tudo no futebol, atuando como jogador, árbitro e dirigente desde o princípio da sua carreira, restringindo-se no fim apenas às duas últimas atividades. Ele era um esportista nato. Ao mesmo tempo em que propagava o futebol em nosso país, fundava a Associação Paulista de Tênis e divertia-se jogando golfe.

Todos os cronistas esportivos que o viram jogar e mais tarde escreveram a respeito garantiam que Charles Miller podia ser equiparado a outros monstros sagrados daquela época, como Arthur Friedennreich, Belfort Duarte, Luís Fabi e Hans Nobiling.

Quando Charles Miller voltou ao Brasil em 1894, ele estava certo que aqui o futebol tinha a mesma popularidade da Inglaterra e em outras nações européias. Além das duas bolas, na sua mala vinham uma bomba e agulha para inflá-las, além de dois uniformes dos times que havia defendido.Quando percebeu que em nosso país não havia nenhuma organização em torno do futebol, Charles Miller, primeiro, passou a difundi-lo entre a colônia inglesa e, mais tarde, entre os brasileiros, a quem ensinava todos os truques de um bom jogador. Uma de suas jogadas características, a de driblar com a parte de trás da chuteira, foi batizada de charles, mais tarde rebatizada como chaleira.

Charles Miller faleceu no dia 30 de junho de 1953, aos 79 anos de idade, em sua casa no bairro paulistano de Jardim América. Ele deixou uma imensa prole, constituída de dois filhos, seis netos, 11 bisnetos e seis tataranetos.

Foram escritas várias biografias sobre Charles Miller, mas a melhor delas, concordam os entendidos, é de autoria do historiador inglês John Mills, que traz detalhes inéditos da carreira do jogador.

Ovo perde a fama de vilão e passa a

ser considerado um superalimento

Dalva Ventura

O ovo passou décadas com a fama de vilão, mas finalmente está sendo absolvido das inúmeras acusações que pesavam contra ele. A principal diz respeito ao aumento do colesterol, a gordura acumulada no sangue que causa tantos problemas cardiovasculares. Alguns estudos sérios chegam a provar que o ovo, além de não fazer mal, pode até proteger o coração.

Um dos motivos da má reputação do ovo é sua quantidade de colesterol – uma única gema contém 213mg por unidade, aumentando, assim, o risco de doenças cardiovasculares. Vale lembrar que os médicos preveem uma ingestão diária de colesterol de, no máximo, 300mg/dia. Os especialistas acham, porém, que o consumo de ovos não pode ser responsabilizado pelo aumento do colesterol e, consequentemente, de distúrbios cardiovasculares. “A gema transporta o LDL, isto é, o mau colesterol, mas as partículas formadas são grandes e muito menos perigosas que a gordura animal saturada, por exemplo”, afirma a nutricionista do Hospital São Lucas, Thelma Cintra.

Além disso, ressalta, estudos recentes apontam que as recomendações para prevenir doenças cardiovasculares se concentram num conjunto de ações. Entre elas, uma alimentação equilibrada e a prática de exercícios físicos, assim como não fumar e consumir bebidas alcoólicas moderadamente.

Algumas pesquisas estão mostrando também que o ovo é um alimento poderoso até para quem quer perder peso. “Sacia a fome e, com isso, a gente acaba comendo menos. Daí a vantagem de ingerir ovos cozidos no café da manhã”, lembra Thelma.

A nutricionista afirma que o ovo é um alimento versátil, barato e nutritivo. A gema é fonte de zinco, vitaminas A, D e E, do complexo B. O ovo também contém ferro, fósforo, cálcio, zinco, selênio, enfim, diversos minerais e proteínas necessários ao crescimento, à restauração dos tecidos e à produção de novas células. Até a casca do ovo pode ser usada na prevenção da osteoporose. Moída ou triturada no liquidificador, vira uma farinha que não tem gosto de nada, mas enriquece muito a dieta.

A gema do ovo contém grande quantidade de colina, substância essencial para a produção de novas células cerebrais e o reparo das membranas celulares lesadas. Ingerir ovo é importante, portanto, para a formação de novos neurônios, contribuindo para ativar a memória e o desenvolvimento intelectual.

Esta substância é tão ou mais importante do que o ácido fólico durante a gestação, sendo essencial para o desenvolvimento cerebral do feto. Ingerir alimentos ricos em colina é fundamental durante toda a infância, especialmente na idade pré-escolar e escolar, quando a fala, a acuidade visual e outras estruturas cognitivas estão se consolidando. Ao que parece, a colina teria efeitos positivos até sobre a evolução de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

Mesmo assim, é bom ir devagar. Pesquisadores não sabem a origem da crença de boa parte da população mundial, de que é preciso limitar o consumo de ovos em três a quatro por semana, no máximo. Embora não seja bom abusar, esta tese já foi devidamente contestada, tanto que hoje em dia médicos e nutricionistas passaram a indicar o consumo de um ovo por dia.

E mais: a não ser que haja alguma contraindicação, como no caso de pessoas com colesterol elevado, o ovo pode ser consumido inteiro, clara e gema. Mas é fundamental ficar de olho no modo de preparo. O ideal é ingerir o ovo cozido ou mexido, mas caso prefira consumi-lo frito, use azeite de oliva extra-virgem.

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