Coisa estranha
Maurício Siaines (*)
Há um Brasil antiquado, preso a relações sociais e valores morais ultrapassados, e outro novo, que luta com dificuldades para nascer e respirar. E essas duas versões do país não são separadas fisicamente, parecem viver em cada um dos cidadãos mais ou menos intensamente. Este momento de transição é muito bem caracterizado pelo antropólogo por Roberto DaMatta.
O Brasil de hoje não tem mais escravos, mas ainda tem um sistema de favor, de deferências, de sujeições e desigualdades afinado com a escravidão. Com aquela escravidão que jamais discutimos e cuja memória enterramos com a pá de cal da nossa hipocrisia.
(Roberto DaMatta - O Globo, 16.3.2005)
Esse “sistema de favor, de deferências, de sujeições e desigualdades” manifestou-se escandalosamente nessa última embrulhada no Senado, envolvendo seu presidente, José Sarney. Aliás, na época em que ele foi presidente da República e queria conseguir que seu mandato fosse de cinco anos - objetivo que acabou atingindo -, houve farta distribuição de concessões de canais de televisão aos amigos que estivessem de acordo com os desejos do soberano.
As práticas dessa e de outras épocas da política brasileira fazem lembrar um pensador político português do século 15, o infante dom Pedro (1392-1449) que escreveu para uma época em que a dinastia de Avis lutava por se afirmar politicamente depois da formação do Estado nacional português, que tem como data de fundação o ano de 1143, com a expulsão dos árabes da parte da Península Ibérica, que hoje é Portugal.
Em seu Tratado da Virtuosa Benfeitoria (1418), o infante dom Pedro desenvolve uma visão comunitária daquilo que seria o que hoje chamamos de nação, que define como “ajuntamento de homens ligados por direito amigável”, explicando ainda que “O que faz a unidade dessas comunidades é o ajuntamento e a aliança: os ajuntamentos dos reinos e das comunidades que por direito racional e amigável têm aliança”. É interessante esta distinção entre direito amigável e direito racional. Amigável seria aquele que se ajustaria aos interesses e conveniências daquelas famílias nobres que haviam acabado de vencer os árabes, e racional poderia ser o direito tal como o entendemos hoje, isto é, universal e organizado por normas claras e públicas, introjetadas pelos cidadãos. O discurso do infante dom Pedro lembra aquela máxima de uma moralidade jurídica brasileira, que legitimava as ações dos coronéis, ao longo da história do Brasil, que diz: “aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei”. Sarney, com todas as peripécias de sua biografia, é uma encarnação desse tipo de política. Pode ser entendido, não só como um ser humano comum, mas também como representação de um modo de viver e fazer política. Ele é um signo de determinadas relações sociais e políticas comuns no Brasil, que insistem em sobreviver, apesar de tudo.
Da mesma maneira que podemos entender Sarney como um signo, podemos ver Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva igualmente como signos. Signos de mudanças no país, em função de suas histórias de vida e por suas ações. Se o primeiro é responsabilizado pela estabilização da moeda, através do Plano Real, com o acesso de intelectuais oriundos do mundo acadêmico à gestão econômica e administrativa, o segundo representa a chegada à pauta diária nacional de movimentos sociais, de questões relacionadas a diferenças sexuais, direitos de minorias, preservação ambiental. Ambos foram e são defensores incondicionais da democracia e do Estado de Direito.
Cada um deles foi portador de diferentes projetos de relações sociais mais justas, mais de acordo com normas de valor universal, mais modernas. FHC e Lula, embora nascidos no Rio de Janeiro, um, e em Pernambuco, o outro, são políticos paulistas de hoje. Não daquele São Paulo do início da República e da política do café com leite, mas do São Paulo engendrado durante e depois do regime militar de 1964-85. Um São Paulo que está no centro de um país capaz de produzir samba, frevo e forró e ainda se adaptar ao jazz, ao rock e até mesmo à valsa, um país com notável multiplicidade cultural representando uma sociedade complexa e variada.
As artes da política, no entanto, como se dominadas por um diabinho perverso, separou Lula de FHC. Chegando ao poder político, cada um deles foi obrigado a preocupar-se com a governabilidade e, em nome dela, aliaram-se ao que havia de mais atrasado, a políticos que já deveriam ser peças de museu e que ganharam novo vigor. Antônio Carlos Magalhães, prócer do coronelismo baiano, esteve com Fernando Henrique, enquanto José Sarney, hoje em cartaz por qualidades opostas a todo o movimento cultural que fez nascer o Partido dos Trabalhadores, é o grande parceiro de Lula.
É lamentável que tudo tenha acontecido dessa maneira: os impulsos de mudança associando-se ao atraso. Mas, por mais estranhas que as coisas pareçam, é preciso entender que a vida acontece como é possível e não segundo projetos ideais, por melhores que eles sejam.
(*) Jornalista
mauriciosiaines@gmail.com
Baterista friburguense integra banda que é destaque internacional
Após ser destaque de revistas e sites especializados em música do Brasil e do exterior, a banda Bastardz já foi chamada de “a maior banda de hard rock do Brasil” pela conceituada revista Whiplash. Juntando glamour, atitude e muito som a fim de promoverem uma musicalidade inovadora, o grupo já pode ser interpretado como sinônimo de sucesso, visto que sua música conta com reconhecimento internacional. O primeiro EP da banda, gravado em 2004, chamado No Ass No Pass, rendeu frutos, dois videoclipes produzidos pela Gasolina Filmes. O primeiro deles, Pills, teve veiculação na MTV, gerando inclusive um convite para que o grupo participasse do programa Supla apresenta uns videoclipes lá em casa, onde o grupo pôde conversar com o filho do senador Suplicy sobre sua carreira, além de apresentar os videoclipes que mais gostavam.
Em 2006 o Bastardz recebeu um convite para participar da 1ª Metal Sludge Xtravaganza Brazil, festa organizada pelo famoso site americano Metal Sludge, onde o grupo foi a banda de apoio dos vocalistas Steve Summers (Pretty Boy Floyd) e Stevie Rachelle (Tuff). O encontro que chegou a gerar o apelido de novo Guns N Roses para o grupo, também resultou em um dvd, lançado em 2007, chamado Sludge goes to the jungle, que além do próprio show, contém cenas de bastidores e adicionais sobre as três bandas.
Agora, o grupo que é formado Nat Reed nos vocais, Mid Nite no baixo e Danny Poison e Thomas Büttcher nas guitarras, ganha o reforço do friburguense L. C Batera. Antigo membro do grupo Obsexion, L.C Drager, como também é conhecido este jovem de 18 anos, que em sua certidão de nascimento traz o nome de Lucas Santos e Silva, agora se destaca com o lançamento do primeiro full lenght do Bastardz. Com o título Jungle Outlawz, o grupo apresenta doze músicas gravadas do jeito que gostam, ou seja, cercados por amigos, com muita diversão.
Distribuído nos EUA pela KOCH International e no Canadá pela Fontana North/Universal, o CD traz ainda duas músicas de L. C.
O grupo acabou de voltar de sua primeira turnê internacional pela Argentina, e em junho acompanhou a turnê brasileira do grupo sueco Crashdiet. Ou seja, é um gosto musical com muitos adeptos, que em breve deveremos notar pintando por aí.
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