Menino pobre evolui para emprego em multinacional e mestrado na Europa
Apoio integral de programa social privado muda realidade de aluno de escola pública municipal, custeando ensino de qualidade
O administrador de empresas curitibano Diego Bergamini, de 24 anos, acaba de dar mais um passo importante na carreira, graças a um programa socioeducacional criado por uma empresa privada, no qual foi selecionado há 15 anos. Na época, Diego e a mãe sobreviviam com uma renda mensal de apenas R$ 300. Foi em 1994 que o menino teve sua grande chance de romper o bloqueio social quando se destacou pelo desempenho em uma escola da rede municipal de ensino de Curitiba e acabou sendo escolhido para receber benefícios do Programa Bom Aluno, criado pela empresa BS Colway Pneus através do Instituto Bom Aluno do Brasil (IBAB). Hoje ele é coordenador de trade marketing da indústria alimentícia multinacional Kraft Foods, em São Paulo, responsável pelo atendimento do Wal Mart, a maior rede de supermercados do mundo.
Agora ele surpreendeu novamente pelo desempenho. Diego conseguiu uma bolsa de estudos para fazer mestrado em marketing management em uma das melhores universidades do mundo na área, a Università Commerciale Luigi Bocconi, em Milão, na Itália. O curitibano está iniciando uma jornada de dois anos no exterior, recebendo instruções em inglês, idioma que aprendeu graças ao programa social. “Seria impossível ter acesso a atividades extracurriculares com a condição de vida que a minha família tinha”, disse Diego.
Na quinta série Diego ingressou no Bom Aluno. “Tenho saudade daqueles tempos. Impossível esquecer o piá ranhento fazendo testes de raciocínio lógico e entrevistas. Eu estava ali, magrelo, sem entender o porquê das coisas. Mais tarde os meus companheiros do Bom Aluno viraram alguns de meus melhores amigos”, relembrou.
Até a oitava série Diego permaneceu em escolas públicas, mas recebendo apoio do programa social, que lhe oferecia transporte, material escolar, uniformes, aulas extraclasse de matemática, inglês e português, além de um curso preparatório para o segundo grau técnico. Depois que passou para o ensino médio o aluno recebeu apoio integral com escola particular, preparação para o vestibular, aulas de redação, inglês e acompanhamento pedagógico. O resultado não poderia ser diferente: Diego passou na Universidade Federal do Paraná e ingressou no curso de Administração Internacional de Negócios. Durante o terceiro grau ele ainda teve apoio com um curso de espanhol e outro voltado para o desenvolvimento de seu perfil profissional.
Após a colação de grau, em 2005, o Bom Aluno manteve o apoio financiando coaching professional (treinamento personalizado e específico para a área de atuação), curso de marketing pessoal e de administração financeira pessoal. Em todas as fases do programa Diego recebeu material didático. “Simplesmente enumerar todas essas modalidades de apoio que o Bom Aluno proporcionou seria olhar a coisa toda de uma maneira simplista, ter uma visão míope. Na verdade houve grande suporte de toda uma equipe para o meu desenvolvimento pessoal, acadêmico e até profissional”, explicou o bolsista. “Eles sempre estavam de olho em nosso desempenho acadêmico, dando todo o suporte quando passávamos por alguma dificuldade”.
No dia 14 de setembro Diego iniciou as aulas em Milão. No ranking da QS, empresa internacional que promove o encontro entre profissionais e empresas, a Università Commerciale Luigi Bocconi figura como a instituição que tem a quarta melhor especialização em marketing do mundo. A Bocconi fica atrás apenas da Northwestern University (EUA), University of Cambridge (Reino Unido) e University of California (EUA). “A escola conta com professores que já ganharam o prêmio Nobel”, comemora Diego.
O Bom Aluno é um dos programas assistenciais do Ibab e foi criado em 1993, em Curitiba, para proporcionar educação de qualidade a crianças e jovens carentes que tenham bom desempenho nas redes públicas de ensino. Atualmente o programa tem 217 alunos. Segundo o diretor do programa, Ozil Pedro Coelho Neto, 107 estão cursando universidades no momento e 118 já entraram no mercado de trabalho depois de concluir o ensino superior. Este ano outros 33 prestarão vestibular.
Uma parceria do Ibab com a Companhia de Eletrificação do Paraná (Copel), estabelecida em junho último, vai repassar R$ 1,5 milhão em dois anos para o Grupo Escoteiro Guardião das Águas, um dos braços do Ibab que desenvolve a consciência socioambiental, ocupa crianças em situação de risco social e protege áreas de manancial da região de Curitiba. Além da BS Colway Pneus, várias outras empresas apadrinham os estudantes do projeto: Amil, Firenzzi Centro Automotivo, Instituto HSBC Solidariedade, Landis Gyr, Lume Tecnologia, Prodata, Racional Estruturas, Regional Imóveis, TBG Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A., Vipal e Rede Paranaense de Comunicação (RPC).
Qualquer pessoa ou empresa pode adotar um estudante carente. Mais informações podem ser fornecidas pelo telefone (41) 3034-8498 ou pelo website www.bomaluno.com.br.
Conversa de índio
Dicionário de Palavras Brasileiras
de Origem Indígena resgata um importante patrimônio cultural do país
Outrora cultura dominante em todo o país, não foi sem esforço que civilizações indígenas inteiras foram dizimadas ao longo de 500 anos de colonização e políticas governamentais míopes de expansionismo e povoamento. Hoje, espalhadas pelo território brasileiro, restam cerca de apenas 210 etnias em uma terra que, um dia, contou com 1300 dialetos diferentes.
Atualmente existem 180 línguas remanescentes, sua grande maioria localizada na região amazônica, divididas em 350 mil falantes de 41 famílias (que têm origens mais recentes, com grandes semelhanças entre elas) e dois troncos (com origens comuns há milhares de anos, com diferenças bem sutis entre elas), sendo que algumas têm um número de conhecedores que chega a dez ou vinte mil, a média é de menos de 200 falantes por língua, com algumas contando com apenas dois ou três índios restantes. No entanto, ainda que as epidemias, extermínios e ações de integração e assimilação da cultura indígena pela nossa tenham constantemente obtido êxito, é inegável que sua língua permanece em nosso cotidiano.
Foi a partir da curiosidade em conferir, conhecer e resgatar este importante patrimônio cultural do país que o médico Clóvis Chiaradia providenciou, nos últimos vinte anos, uma investigação profunda, na intenção de colher e recolher palavras de origens indígenas e sua utilização nos mais diversos cantos do país, entre plantas, animais, estradas, rios, municípios e eventos históricos, a maioria de origem tupi-guarani, mas também das línguas aruák, caribe (karíb) e macro-jê. Com cerca de 30 mil verbetes, o Dicionário de Palavras Brasileiras de Origem Indígena escrito por Clóvis, mescla o erudito e o curioso, tratando-se não de um trabalho acadêmico, mas de um “sentimento de brasilidade”, conforme explica o autor em uma nota no início de seu dicionário, “porque grande parte das nossas palavras indígenas ainda não foi estudada como merece”.
Prefaciado por Marco Frenette, o dicionário escrito por Clóvis pretende não apenas relacionar os diversos significados que cada palavra pode ter ao ser empregada em todo o território nacional e sul-americano, mas também no despertar da descoberta da influência que as línguas indígenas brasileiras têm no país. Influências estas que são verificadas em diversos níveis, desde gírias como ir para a cucuia, que em tupi quer dizer decadência, até palavras bem comuns, como jacaré, que no dicionário de Clóvis tem 96 definições diferentes, entre as quais, “torto, sinuoso, colher de pedreiro, uma lagoa no Rio Grande do Sul, diversas ilhas e cachoeiras espalhadas pelo país, goteiras e até os répteis crocodilianos aos quais estão mais comumente associados”.
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