Material eletrônico descartado se transforma em novos computadores

Equipamentos são montados e doados a pessoas e instituições
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
por Eloir Perdigão
Material eletrônico descartado se transforma em novos computadores
Material eletrônico descartado se transforma em novos computadores

Uma ajuda e tanto para os setores social e ecológico oferecida por um técnico em informática. Ele é Antônio Gilson Rodrigues de Oliveira, que em sua oficina, em casa, no Catarcione, desde 2004 transforma um monte de quinquilharias, que a princípio não valia mais nada, em novos computadores. O que não dá para aproveitar mais na oficina, mesmo assim, não é jogado fora, é separado e enviado para reciclagem, através de um amigo que leva esse material para um depósito na cidade do Rio de Janeiro. Gilson inicia a entrevista entre risos, contando suas peripécias, e encerra emocionado, relatando a ajuda que dá a quem realmente precisa.

DO RIO PARA A OFICINA – Gilson destinou o terraço de sua casa, no Catarcione, para sua oficina de reciclagem do chamado lixo eletrônico. Ali é possível ver pilhas de componentes eletrônicos que contêm materiais como plástico, chumbo, mercúrio, ouro, prata, entre outros metais pesados altamente poluentes.

Gilson conta que o número de computadores só aumenta. São milhões e milhões. E o descarte também vai aumentando. Nos Estados Unidos o tempo de uso de um computador é de 12 a 24 meses, e no Brasil é de três a quatro anos. E o que se vê—timidamente—é o recolhimento de baterias, o que é muito pouco se comparado à montanha de lixo eletrônico. E ele dá sua contribuição: recicla não só o computador em si, como também impressoras, no-breaks, monitores, roteadores, celulares, caixas de som, quase tudo. E afirma: aproveita 90% do material recolhido. E ele não se constrange. Já retirou um gabinete de computador do leito do Rio Bengalas. As pessoas que presenciaram a cena pensavam que ele estava pegando algum bicho (risos).

COMPUTADORES E CESTAS BÁSICAS – Gilson é integrante da Associação Fraternal Todos pela Caridade, presidida pelo pastor Luiz Borges, da Igreja Pentecostal Caminho Santo, do próprio bairro Catarcione, através da qual ajuda a fazer doações de cestas básicas a pessoas carentes. Durante as visitas ele aproveita para observar A situação das pessoas beneficiadas.

Ao pesquisar e constatar que uma família não tem computador, mas tem vontade de ter e não possui condições, Gilson faz a doação de um computador reciclado, um kit completo (monitor, impressora, cartucho, caixas de som). E pede para que esse computador seja repassado a outra pessoa quando não precisar mais dele. Ou devolvê-lo. Gilson doa de seis a oito computadores por ano, a maioria na época do Natal. Ele também faz doações de computadores a instituições, consertos (cobra cestas básicas para doações) e alguns ele até vende—em média por R$ 450—e reverte o dinheiro em cestas básicas.

HAJA TEMPO! – Gilson trabalha numa loja de computadores no Centro. E aproveita todo o material descartado. Nas horas vagas—pela manhã, almoço e à noite—faz a reciclagem dos computadores.

Mas Gilson não abre mão de dar atenção à família—esposa (que trabalha fora) e três filhos, de 5, 7 e 14 anos. Arruma tempo para todos, passeia, leva no colégio, dá almoço para o mais novo. E ele não para por aí. É diácono de sua igreja, onde prega e se reúne com o fiéis às terças e sextas-feiras e domingos, das 19h30 às 21h. Juntou sua profissão com as partes religiosa, social e ecológica. “É o meio que eu tenho de viver e ajudar”, diz, garantindo que assim se sente realizado, feliz, satisfeito. “Se precisasse começaria tudo de novo”, salienta, mesmo sem apoio, só com a vontade própria e a fé em Deus. Deixa a todos admirados com sua organização pessoal. “É o meio que eu tenho de viver e ajudar”, comenta, com toda simplicidade.

Gilson frisa, emocionado, que veio de família pobre e foi adotado por outra família, com mais recursos, que lhe deu tudo. Sabe o que é as pessoas passarem necessidade. Viveu os dois lados da moeda. Já precisou de ajuda e hoje é ele que está ajudando. Inclusive o meio ambiente.

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TAGS: Lixo | lixo eletrônico | descarte
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