Adjetivos não bastam para definir a artista, militante incansável na avenida da vida e de todos os prazeres que ela sabe, como poucos, extrair. Ainda assim, não tem como deixar de citar sua autenticidade, personalidade e postura na sociedade em que vive. Uma dama, em todos os sentidos. Marly Pinel é o que é, o que vemos e o que sentimos quando estamos em sua companhia. E é esse ser complexo que ela carrega, com graça e beleza para o carnaval de Nova Friburgo.
Dizem que Nelson Rodrigues determinou que “toda a unanimidade é burra”. Nem tanto, amado mestre, nem tanto, porque isso aí não se aplica à nossa estrela. Para ela não tem tempo ruim. Nem obstáculos que a detenham. Como uma atleta de pentatlo, esta senhora prestes a completar 80 anos, está sempre testando seus limites, para ao fim demonstrar que sua resistência é incomum.
Ainda que não tenha a menor preocupação de provar nada, absolutamente nada. Ela é dona de si mesma. Assim vai Marly, uma unanimidade nada burra, construindo passo a passo a sua estrada, adepta da máxima de que é caminhando que cada um faz o seu caminho.
Agora, vamos ao que verdadeiramente interessa à nossa carnavalesca-mor, que é a folia de momo. Numa rápida visita à sua residência, para não atrapalhar seus afazeres com as inúmeras fantasias, vislumbramos o que ela vai apresentar para o seu fiel público, seu fã-clube. Para cada aparição, Marly Pinel tem o traje perfeito, o que significa um mínimo de 12 mudas de roupas, entre fantasias para as escolas e blocos, trajes para integrar o corpo de jurados de vários eventos, churrasco da Praça do Viagra, e o que mais aparecer.
Acostumada a ser convidada para abrilhantar festas por todo o município, ela se dá ao luxo - e como não? - de confeccionar trajes extras, que ficam reservados para qualquer eventualidade.
Esse gosto pela folia começou na infância, por volta dos 7 anos, quando o pai a levava para “brincar nas matinês”, no distrito de Conselheiro Paulino. “Minha mãe não gostava de carnaval mas fazia as minhas fantasias e meu pai me levava para brincar.
Depois, já adulta, levava meus filhos e com eles me divertia nos blocos e nos bailes do clube (de Xadrez)”, lembra.
As escolas entraram em sua vida já na fase adulta, em 1970, isto é, há exatamente há 45 anos. “Desde então, não parei mais. A cada ano me comprometia com mais escolas, com os blocos, depois com a programação carnavalesca, de modo geral. E hoje, desfilo em todas, não recuso convites”, conta, Marly.
Estreou como destaque no bloco de enredo Raio de Luar (1975) como a Branca de Neve. “Meus filhos saíram como dois dos anõezinhos. A cada ano, eu aumentava a minha participação e a nossa casa ficava parecendo um barracãozinho de escola. Depois tive que arrumar espaço para guardar tudo, inclusive troféus, certificados, premiações recebidas ao longo dos anos”, enumera Marly. O que é facilmente comprovado pela quantidade de fantasias, mantos, sandálias, uma parcela mínima de tudo que ela citou, espalhados pela sala. Todo o apartamento de Marly Pinel é um imenso closet carnavalesco. Mais colorido, impossível. A cara da dona.
“Quero o melhor da vida”
Para este ano, uma das fantasias de Marly é a da ala da Velha Guarda da Unidos da Saudade, a terceira escola a desfilar no domingo de carnaval, dia 7, com direção do figurinista Eduardo Rodrigues, grande amigo e companheiro de Marly, responsável também pela confecção de outras a fantasia de luxo que ela vai usar nas escolas.
Na sexta-feira, 5, ao meio-dia, Marly deu o ponta pé inicial de sua participação no carnaval rendendo homenagens à sua majestade, o Rei Momo, no churrasco do pessoal da Praça do Viagra. Em seguida, trocou de roupa e foi atrás dos blocos de embalo, como o das Piranhas, dos 9 aos 90 e Maluco Beleza. E nesse ritmo ela vai viver até quarta-feira, 10. Com a mesma disposição e alegria, emanando beleza e felicidade por onde quer que passe.
Se lhe perguntam sobre o segredo do brilho de seus olhos, de seu sorriso iluminado, de sua simpatia contagiante, Marly hesita em responder. Porque não vê segredo em nada disso. Para ela, é tudo muito natural, “sou assim”, reitera. É viver a vida da melhor maneira, ser feliz, ajudar quem precisa, dividir, praticar a generosidade. Ela acredita na lei do retorno, só deseja coisas boas para quem quer que seja. E quando a vida machuca, ela respeita o momento, vive o sofrimento, enterra, e segue em frente.
“A vida é preciosa, um bem sagrado e devemos agradecer tudo que recebemos, seja o que for, para o bem ou para o mal. Tudo vale a pena e eu quero o melhor da vida”, encerra a sábia Marly Pinel, pronta para nos dar o que ela tem de melhor, que é a sua bela presença.
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