Neste sábado,8, Marlon Moraes, também conhecido no mundo da luta como “Magic Marlon”, tem o desafio mais importante de sua carreira. A luta contra o americano Henry Cejudo vai valer o tão sonhado cinturão do peso-galo. Caso conquiste, Marlon será o primeiro friburguense a alcançar a glória dos grandes campeões do torneio e o Brasil voltará a ter um campeão masculino. José Aldo foi o último a ser destaque no peso leve. Atualmente, apenas a brasileira Amanda Nunes representa o Brasil no hall dos campeões do UFC.
Uma grande festa com food trucks e cervejas artesanais está sendo preparada na Praça Dermeval Barbosa Moreira, onde um telão transmitirá a luta, a partir das 20h.
Cria do bairro Cordoeira, ex-aluno do Centro Municipal de Educação e Saúde Padre Rafael, Marlinho, como é conhecido em Friburgo, era uma criança agitada, desde cedo se apaixonou pelos esportes e sempre foi muito querido por todos. Antes de vestir luvas, ele calçava chuteiras. Fez parte do time de juniores do Friburguense, lateral esquerdo, jogava com a perna direita, dono de uma velocidade quase inalcançável, jogando no estilo do ídolo do Flamengo, o maestro Júnior. Há quem diga que mesmo após um fim de semana competindo nas lutas, Marlon chegava para o treino no Friburguense cheio de hematomas e treinava normalmente em campo.
Tímido, mas determinado, caseiro, focado, avesso às baladas e adepto dos treinos. Assim familiares e amigos definem a formação do homem e atleta Marlon Moraes. “Ele na escola só tirava notão, mas era um menino agitado, gostava de uma bagunça. O pai dele dizia que iria colocar de castigo, dar um corretivo e o Marlon respondia: “Pode bater, mas bate bem, bate que eu não vou sentir nada”, lembrou aos risos a mãe do lutador, Terezinha Moraes (foto). “Quando garoto, o Marlon gostava de jogar muito futebol e jogava bem. Eu achava que ele ia despontar no futebol e não nas lutas”, disse um de seus melhores amigos, Hudson Muniz.
Magic Marlon pelos amigos
Nossa equipe foi atrás de personagens importantes na vida de Marlon. São lembranças marcantes da época de infância que fizeram do então menino, um postulante ao título de campeão do UFC. Gualter Moraes, pai de Marlon (foto abaixo), conta que o filho, já experiente em luta, foi convidado junto a outros atletas para uma tarde de treinos no quartel da PM e deu trabalho aos homens da lei. “Perguntaram aos policiais quem eles queriam enfrentar primeiro e o policial escolheu o Marlon por ser o mais baixinho. Marlon jogou ele longe”, contou aos risos.
A mãe dele, de tão nervosa, nunca assistiu a uma luta do filho. Durante todo o momento em que Marlon está no octógono, ela fica num cantinho em oração. Seu Gualter assiste a todas as lutas, mas do sofá da sala. Nunca viu ao vivo e prefere assim. E como time que ganha, não se mexe, neste sábado, o ritual será seguido.
“Eu não consigo assistir a luta, eu fico o tempo todo em oração. E eu não fico pedindo para ele ganhar e sim para ele não se machucar e esse sábado, vai ser a mesma coisa”, falou a mãe. “Eu nunca vi o Marlon tão tranquilo para uma luta como ele está desta vez. E olha que foi uma semana de perda de peso, dieta rigorosa, a pessoa fica de mau humor. Ele está bem focado”, contou o pai.
Diariamente eles se falam via Whatsapp. Além dos conselhos naturais de pais, não tem como fugir do assunto principal que é a luta. Os pais afirmam que Marlon está bem tranquilo, mais até do que em outros momentos.
“O coração está batendo muito forte, mas tenho certeza que ele vai trazer o cinturão para o Brasil. A gente se fala todos os dias e sempre no dia da luta, momentos antes, as palavras são sempre as mesmas: ‘Fica tranquila que vai dar tudo certo’”, falou a mãe. “O que vier tá bom. Eu vejo o Marlon bem completo e pronto para encarar o estilo de luta que for. Ele me disse essa semana “não tem mais bobo pra essa luta’, ou seja, os dois sabem tudo um do outro. Tenho mais fé no meu garoto”, disse Gualter.
Brincalhão
“Marlon sempre foi mala, cara”, afirmou o amigo Hudson. Segundo ele, o perfil agitado do lutador, também fez revelar durante a infância uma pessoa bem humorada e muito brincalhona. “Ele era menor que eu, pegava uma cordas e me amarrava, amarrava outros lutadores. Marlon pregava umas peças na gente que era coisa de doido. Treinávamos em uma academia em Conselheiro Paulino, íamos de Fusca, tinha dia que colocávamos umas sete pessoas dentro do carro e íamos para o treino e o Marlon sempre bem humorado, zoando geral”, contou o amigo (foto acima).
“O Marlon sempre foi muito atentado, para segurar aquele moleque não era fácil, não. Sempre foi muito agitado, elétrico. Ele entrou no esporte certo, porque para gastar toda aquela energia, somente no muay thai mesmo”, brincou Pablo Barros, amigo de infância.
Começo escondido
“Quando Marlon começou a lutar, o pai não sabia, eu sabia de tudo. Eu dei muita força pra ele. Ele disputava lutas escondido do pai e treinava dando soco no azulejo do banheiro, vivia quebrando esses azulejos”, confidenciou Terezinha. “Era difícil imaginar, naquela época, que o Marlon iria chegar onde chegou. Ele teve medo de falar para o pai que estava treinando luta, então só a mãe dele sabia. Mas depois que tudo ficou às claras, os dois ajudaram muito. Ele tem que agradecer muito é a Terezinha e ao titio (Gualter), porque era muito difícil se dedicar à luta naquela época, e com certeza neste sábado o Marlon vai colher os frutos de tudo o que ele investiu”, confia Hudson.
“Desde os oito, nove anos a gente via o Marlon e dizia ‘Esse garoto é talento’. E só dependeria dele ser um grande campeão. Se o Marlon chegou nesse patamar hoje, é porque quis muito e porque recebeu ajuda de muita gente que confiou no talento dele. É um cara excepcional e está muito preparado para essa luta. Ele é fora de série. É um garoto bom, tem uma cabeça boa, um lutador completo, por ter uma boa trocação, ser bom no wrestling, vai ser um “lutão” e se Deus quiser ele vai trazer esse cinturão” deseja Pablo.
Apoio da esposa
Quando saiu de Friburgo e aceitou o convite para treinar nos EUA, Marlon sabia que vinha dureza pela frente. Ao lado dele, Izabella ajudou-o a enfrentar um período complicado, tanto financeiro quanto psicológico. “Marlon passou muito perrengue quando foi para os EUA. Ele e a esposa ficaram num quartinho bem pequeno, lá. Ele treinando direto, ganhando só 200 dólares por luta, quantia que não dava para nada, e tendo que se virar com um monte de coisas. A Izabella é uma menina de ouro, saiu de Friburgo com um estrutura ótima e foi junto com Marlon passar sufoco em outro país.”, se emociona Gualter.
Hoje, Marlon é pai de dois filhos, e não vê a hora da luta terminar para fazer o que mais gosta: passar o tempo com a família. “A primeira coisa que o Marlon faz quando acaba a luta é correr para os filhos, para a Izabella, ligar pra gente. Ele não quer saber de balada, de festa. É muito família, centrado. Sempre foi batalhador. Quando estava no último ano do colégio trabalhou na cantina juntando dinheiro para a formatura. Depois que se formou, fez curso de computação no Senai, conseguiu o primeiro emprego e estudava ao mesmo tempo. Sempre foi muito determinado. Ele dizia que ia fazer alguma coisa e fazia mesmo”, completou a mãe.
Lutas marcantes
“A luta que eu mais fiquei nervosa foi a que ele quebrou o nariz no início. Eu não vejo a luta, mas ouço. Fiquei muito nervosa, quase morri nesse dia, mas o Marlon acabou ganhando a luta”, contou a mãe. “Foi como o Jimmi Rivera, pelo clima que se criou, pelo que o cara falou dele, da nossa família. Foi uma luta que não tinha favorito. E essa vitória colocou o Marlon no radar para disputar o cinturão”, completou o pai.
“A luta marcante foi a primeira. Eu lembro que o oponente tinha uns 12 quilos a mais e o mestre Luiz ainda falou ‘Se você sentir que está ruim para você, sai correndo do ringue, você é pequeno ninguém vai ver, não’. Marlon ficou e ganhou a luta super bem”, lembrou o amigo Hudson.
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