Único brasileiro a visitar o espaço, o astronauta Marcos Pontes palestrou em Nova Friburgo na noite da última segunda-feira, 19, a convite do Sebrae, sobre o insuspeito tema: “Prepare sua equipe para vencer a crise com as técnicas da Nasa”. A fim de compreender melhor essa ponte — com o perdão do trocadilho — que Marcos construiu entre sua experiência além dos limites planetários e o enfrentamento da atual crise política e econômica brasileira, e também apurar de que maneira a comunidade científica se beneficiou com sua ida ao espaço, A VOZ DA SERRA produziu, e agora publica, esta entrevista exclusiva.
A VOZ DA SERRA: O título de sua palestra é: “Prepare sua equipe para vencer a crise com as técnicas da Nasa”. De que maneira a experiência junto à agência espacial americana alterou sua visão a respeito da vida e dos desafios aqui embaixo?
Marcos Pontes: Há 17 anos eu trabalho junto à Nasa com programas e alta tecnologia, e é preciso lembrar sempre que a Nasa, em termos de gerenciamento de projetos, é uma das pioneiras em nível mundial. Portanto, a minha maneira de gerenciar projetos — e eu levei isso, através de coaching, também para gerenciar projetos de vida — tem bastante comunhão com o que é feito na Nasa. Então, portanto, essa experiência em termos técnicos ajuda bastante na minha maneira de gerenciar projetos. E no que diz respeito à experiência emocional, obviamente esta é uma experiência bastante única, que permite que eu consiga trazer para as pessoas que assistem às minhas palestras uma experiência diferenciada, que de certa forma consegue influenciar positivamente a resiliência emocional, por exemplo, na vida de muita gente.
O senhor continua em contato com a Nasa e as atividades relacionadas à exploração espacial patrocinadas por ela, ou outras agências semelhantes em outros países?
Sim, eu continuo. Não só com a Nasa, mas também com outras agências. Tenho um trabalho que se expande, não exatamente através da agência, mas através dos programas, com outras agências do mundo, e outras instituições também, que não são agências espaciais, mas são empresas, universidades, centros de pesquisas no mundo todo.
Passados nove anos desde sua ida ao espaço, de que forma a comunidade científica brasileira se beneficiou de sua experiência?
Eu acredito que a comunidade científica brasileira poderia ter se beneficiado muito mais do voo espacial em si. Os meus conhecimentos e a minha experiência, de uma forma até estranha, eu diria que são até mais utilizados no exterior, com organizações estrangeiras, do que com organizações no Brasil. Por alguma razão eu não recebo os convites para poder participar, tanto no Ministério de Ciência e Tecnologia quanto na própria agência espacial, de alguns programas nos quais eu teria condições plenas de oferecer ajuda e gerenciamento. Mas eu compenso essa parte, porque amo o meu país, através da minha fundação, onde temos programas ligados à educação, ciência e tecnologia, e desenvolvimento sustentável.
Existe alguma perspectiva de o Brasil tornar a enviar um homem ao espaço nos próximos anos?
No momento não existe nenhuma perspectiva de um segundo astronauta profissional. A agência espacial brasileira tem incentivado um turista espacial, que foi um estagiário da agência que ganhou um sorteio de um voo sub-orbital da KLM, que é uma companhia aérea. Mas isso, obviamente, não configura um astronauta, e sim um turista. E ele vai voar daqui a uns sete anos, depois de uma série de outros brasileiros também turistas espaciais. O primeiro turista espacial a voar nos próximos anos chama-se Marcos Palhares, e por acaso ele é também um cliente, um parceiro da minha agência, que é a agência Marcos Pontes. Então, infelizmente, em termos de astronauta profissional o Brasil ainda está muito distante disso. Eu estou à disposição para ajudar na formação de outros astronautas, e a formação de um astronauta profissional é bastante longa, demora cerca de dois anos, mais alguns anos de especializações. Mas certamente é um caminho que pode ser seguido, e eu espero que seja seguido por outros jovens. E também espero auxiliar tanto nos Estados Unidos quanto na Rússia, ou de outra maneira no treinamento inicial aqui no Brasil também.
Qual o papel ocupado pelo Brasil atualmente junto à comunidade internacional no que diz respeito à exploração espacial?
Atualmente o Brasil ocupa um papel bastante pequeno, consideradas as possibilidades que o país teria no cenário internacional de exploração espacial. O programa espacial brasileiro não tem o apoio das autoridades, o apoio público adequado, para que se desenvolvam programas efetivos e que tenham uma visibilidade adequada no exterior. Logicamente, um dos meus objetivos na vida sempre foi ser presidente da agência espacial, pois certamente eu teria condições de levar o país, junto com meu conhecimento internacional e minha experiência profissional, a galgar patamares maiores e mais elevados junto à comunidade internacional. Mas obviamente eu não posso me indicar para cargos, então por enquanto eu fico na torcida aqui esperando que de uma hora para outra, quem sabe, o Brasil tenha políticos com conhecimento científico adequado para entender e apoiar as atividades científicas e tecnológicas do país.
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