Arlette de Oliveira Brüstle completou 100 anos no último dia 29 de novembro. E foi cercada de carinho e respeito das filhas, netos e bisnetos, que a data foi alegremente celebrada. Embora o número de “centenários” no Brasil venha crescendo, o feito ainda causa espanto. Afinal, um século de vida não é algo que se veja com frequência. Principalmente, quando se chega lá com fôlego e querendo mais. Pois é com ar divertido que a matriarca gosta de repetir: “Estou me preparando para chegar aos 200!”
E foi com esse espírito que Arlette cresceu em meio a uma numerosa família, composta de 15 filhos. Era ela e mais 14 irmãos, fato corriqueiro naquela época, início do século 20. Trabalhoso para a mãe dedicada e o pai provedor, mas nada incomum na maioria das famílias. E, naturalmente, o que não faltava era diversão, às vezes confusão: afinal, ali conviviam 15 crianças. Dá para imaginar uma família desse tamanho, hoje?
Por sorte esse lar ficava numa cidade de interior, com a meninada solta, ao ar livre. Não faltava espaço para correr, jogar bola, soltar pipa, pular amarelinha, pular corda. Nem por isso os pais negligenciavam os cuidados e a educação da prole. Ela, assim como os irmãos, foi criada com rigor, e da mesma forma criou suas filhas.
Trabalho, serenidade e alimentação saudável
Dona Arlette teve uma vida inspiradora. Foi a primeira mulher a deixar a cidade para cursar enfermagem na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, movida pelo seu genuíno interesse pelas questões humanitárias. Depois de formada, se especializou como parteira, prática que exerceu durante muitos anos, quando ainda não havia hospital na terra natal.
Na volta a Friburgo, já como funcionária do estado, realizou incontáveis partos, colocando no mundo mais de duas gerações. Atuou também, em conjunto com o Sanatório Naval, no tratamento de tuberculosos que, à época, eram tratados aqui. Depois, trabalhou no Centro de Saúde até se aposentar, ainda na sede antiga, onde hoje funciona a Fundação Leão XIII.
Solteira até 33 anos de idade, ela pode se dedicar integralmente, por um bom tempo, à sua profissão. Até que, num baile da Sociedade Esportiva Friburguense (SEF), em 1949, Arlette conheceu aquele que seria seu marido, o austríaco Karl Brüstle. Com ele teve suas duas filhas: Andreza e Myrna.
Arlette e Karl viveram toda a vida num sítio onde criavam animais para corte como porco, coelho, galinha, além de peixe, basicamente, a truta. Tamanha variedade de alimentos criou o hábito na família de comer de tudo. Também cultivavam hortaliças e legumes. E muito milho. Até moinho os Brüstle tinham. Com tanto fubá disponível, Arlette ainda encontrava tempo para fazer broa, bolinho de fubá, angu e outros quitutes.
Após 30 anos de serviço público, ela se aposentou. Mas continuou exercendo a profissão, atuando como enfermeira e parteira principalmente nos bairros do Cônego e Cascatinha, no Grupo de Promoção Humana (GPH). Ao mesmo tempo em que coordenava nestes bairros, as campanhas de vacinação.
Este é o retrato de uma mulher simples, mas admirável, que trabalhou duro durante toda a vida. Além de funcionária pública estadual, fazia doces e salgados para festas de casamento para incrementar o orçamento familiar para proporcionar a melhor educação possível para as filhas. Quando se via em apuros, enfrentava as situações difíceis com serenidade. Nenhum parente, amigo ou vizinho jamais a viu estressada. Talvez este seja o segredo de uma vida longa, saudável e feliz. Pelo menos para Arlette, tem sido.
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