Malala Yousafzai: A voz de uma menina do Paquistão que se fez ouvir em todo o mundo

Sua história e seu rosto percorreram o mundo: foi capa de jornais e revistas de vários países, deu inúmeras entrevistas para emissoras de rádio e televisão. Virou personalidade reconhecida e admirada em todo mundo.
sábado, 07 de março de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Malala Yousafzai: A VOZ de uma menina do PAQUISTÃO que se fez OUVIR em todo o MUNDO
Malala Yousafzai: A VOZ de uma menina do PAQUISTÃO que se fez OUVIR em todo o MUNDO
Em 9 de outubro de 2012, a estudante de 15 anos Malala Yousafzai entrou num ônibus escolar na província de Khyber Pakhtunkhwa, no Paquistão. Um homem armado chamou-a pelo nome, apontou-lhe uma pistola e disparou três tiros. Uma das balas atingiu o lado esquerdo de sua testa, e desceu do rosto até o ombro. Nos dias que se seguiram ao ataque, a jovem manteve-se inconsciente e em estado grave. Quando a sua condição clínica melhorou, foi transferida para um hospital em Birmingham, na Inglaterra.

Este prêmio não é só meu. É das crianças esquecidas que querem educação
Em 10 de dezembro de 2014, a paquistanesa Malala Yousafzai, de 17 anos, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Sua história e seu rosto percorreram o mundo: foi capa de jornais e revistas de vários países, deu inúmeras entrevistas para emissoras de rádio e televisão. Virou personalidade reconhecida e admirada em todo mundo. Perseverante em sua árdua luta pela educação em seu país, a corajosa menina encara sua trajetória como uma missão a ser cumprida. Rejeitando o papel de vítima, Malala aparenta serenidade e firmeza num rosto risonho, apesar do drama vivido. 

Nada do que pudéssemos falar dela seria mais interessante do que ouvi-la. Em vez de sua biografia, optamos por publicar trechos de seu discurso na cerimônia de entrega do prêmio em Oslo (Noruega), dividido com o indiano Kailash Satyarthi. Através da figura desta adolescente — dona de uma voz que já conquistou mentes e corações mundo afora — homenageamos todas as mulheres. Daqui, dali e de onde mais houver quem queira ouvir o que ela tem a dizer. Confira:

"IIustres membros do Comitê Nobel Norueguês, queridos irmãos e irmãs, hoje é um dia de grande felicidade para mim. Aceito com humildade a escolha do Comitê Nobel em me agraciar com este precioso prêmio. Queria agradecer a meus pais por seu amor incondicional, a meu pai por não cortar minhas asas e me deixar voar, a minha mãe por me inspirar a ser paciente e falar sempre a verdade — que acreditamos vigorosamente ser a verdadeira mensagem do Islã.

Muito me orgulha ter sido a primeira paquistanesa e a primeira adolescente a receber este prêmio. Muito me honra também dividir este prêmio com Kailash Satyarthi, que vem lutando pelos direitos das crianças já há muito tempo. Na verdade, pelo dobro do tempo que já vivi. Fico feliz também por estarmos aqui reunidos demonstrando ao mundo que um indiano e uma paquistanesa podem conviver em paz e trabalhar em prol dos direitos das crianças.

Este prêmio não é só meu. É das crianças esquecidas que querem educação. É  das crianças assustadas que querem a paz. É das crianças sem direito à expressão que querem mudanças. Estou aqui para afirmar os seus direitos, dar-lhes voz… Não é hora de lamentar por elas. É hora de agir, para que seja a última vez que vejamos uma criança sem direito à educação.

A educação é uma das bênçãos da vida — e uma de suas necessidades. Essa tem sido a minha experiência em meus 17 anos de vida. Em minha casa, no vale Swat, no norte do Paquistão, eu sempre adorei a escola e aprender coisas novas. (...)

Tínhamos sede de educação porque o nosso futuro estava bem ali, naquela sala de aula. Nós sentávamos e líamos e aprendíamos juntas. E amávamos vestir aqueles uniformes escolares limpos e bem passados e sentar ali com grandes sonhos em nossos olhos. Queríamos que nossos pais se orgulhassem de nós e provar que poderíamos nos destacar nos estudos e realizar algo, o que algumas pessoas pensam que somente os meninos podem fazer.

Mas as coisas mudam. Quando eu tinha dez anos, Swat, que era um recanto de beleza e turismo, de repente se transformou em um lugar de terrorismo. Mais de 400 escolas foram destruídas. As meninas foram impedidas de frequentar a escola. As mulheres foram açoitadas. Pessoas inocentes foram assassinadas. E os nossos belos sonhos se transformaram em pesadelos.

Eu tinha duas opções, a primeira era permanecer calada e esperar para ser assassinada. A segunda era erguer a voz e, em seguida, ser assassinada. Eu escolhi a segunda. Eu decidi erguer a voz. Há meninas comigo que eu conheci durante minha campanha do Fundo Malala, que agora são como minhas irmãs. Minha corajosa irmã Mezon, da Síria, de 16 anos, que atualmente vive na Jordânia, em um campo de refugiados, indo de tenda em tenda para ajudar meninas e meninos a aprender. E minha irmã Amina, do norte da Nigéria, onde o Boko Haram ameaça e rapta meninas simplesmente por elas quererem ir para a escola.

Embora na aparência eu seja uma menina, uma pessoa com um metro e cinquenta e sete de altura, contando com os saltos altos, eu não sou uma voz solitária, eu sou muitas. Eu sou Shazia, sou Kainat Riaz, sou Kainat Somro. Eu sou Mezon, sou Amina. Eu sou 66 milhões de meninas que estão fora da escola. 

Uma das minhas melhores amigas da escola, da mesma idade que eu, sempre foi uma menina corajosa e confiante que sonhava ser médica. Mas seu sonho continuou sendo apenas um sonho. Aos 12 anos ela foi forçada a se casar, teve um filho logo em seguida, numa idade em que ela própria ainda era uma criança de 14 anos. Essa história é a razão pela qual eu repasso o dinheiro do Nobel para o Fundo Malala, para ajudar a dar às meninas de todo lugar uma educação de qualidade e convocar os líderes a ajudar meninas como eu, Mezun e Amina. Por lá começarei, mas não será por lá que irei parar. Vou continuar esta luta até ver todas as crianças na escola. Eu me sinto muito mais forte depois do ataque que sofri, porque agora sei que ninguém pode me parar, ou nos parar, porque hoje somos milhões.

Grandes pessoas que ajudaram a mudar o mundo, como Martin Luther King e Nelson Mandela, Madre Teresa e Aung San Suu Kyi, que estiveram neste palco. Espero que os passos que Kailash Satyarthi e eu demos até aqui, e que ainda daremos nessa jornada, também tragam mudanças — mudanças duradouras. Chegou a hora de dar um salto. 

Há 15 anos, os líderes mundiais chegaram a um consenso sobre um conjunto de metas globais, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Nos anos que se seguiram, houve progressos. O número de crianças fora da escola foi reduzido à metade. No entanto, o mundo se concentrou apenas na expansão do ensino fundamental e o propalado progresso não chegou a todos.

No próximo ano, em 2015, representantes de todo o mundo se reunirão na ONU para decidir sobre o próximo conjunto de metas, os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável. Isto irá definir a ambição do mundo para as gerações vindouras. Os líderes devem aproveitar essa oportunidade para garantir uma educação fundamental e secundária gratuita e de qualidade para cada criança.

Alguns dirão que isso é impraticável, ou muito caro, ou muito difícil. Ou impossível. O chamado mundo dos adultos pode compreender isso, mas nós, as crianças, não. Por que os países que chamamos de "fortes” são tão poderosos em criar guerras, mas tão fracos em trazer a paz? Por que fornecer armas é tão fácil, mas doar livros é tão difícil? Por que fabricar tanques é tão fácil, mas construir escolas é tão difícil?

Ao trabalho, então… não há mais o que esperar. Apelo às crianças como eu a levantarem-se, em todo o mundo. Queridos irmãos e irmãs, que nos tornemos a primeira geração a decidir ser a última a ficar fora da escola."

Malala Yousafzai: 

Contrariando as expectativas, sobreviveu e agora, mais forte do que nunca, investe em sua campanha por educação por meio do Fundo Malala, de apoio educacional em comunidades ao redor do mundo. Sua história é contada no livro Eu sou Malala, em coautoria com a jornalista Christina Lamb, que ganhará uma edição juvenil em 2015, pela Editora Seguinte. 

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