Seu nome: Paulo Coelho. Imperdível a biografia de Fernando Morais sobre O Mago. Vale a pena ler as mais de 600 páginas do livro sobre a obra/vida do homem que fez crescer o movimento de pessoas no Caminho de Santiago.
Pela árvore conhecereis o fruto, diz a Bíblia. Pela obra conhecereis o autor, dizem : nem sempre, digo sem dúvidas. As artes transfiguram a realidade. Criativo como é Paulo Coelho recria o mundo vivido e imaginado fundado em “verdades-verdadeiras” em que ele é o autor e ator da cena principal de sua própria vida e lenda, escrita ou musicada.
Sonhos sonhados na realidade mostram o que escreveu na sua sãtidade. As Confissões de Santo Agostinho (depois da devassidão, se torna santo) parece livro para criança perto do que fez o jovem-senhor Paulo Coelho de Souza.
Dado como louco pelo pai e internado várias vezes, esse gênio da simplicidade, optou pela lúcida-loucura-santa: ser escritor! Nada de maluco-beleza nem continuar como o executivo que já havia comprado sete apartamentos, antes de fazer a sua lenda se tornar livro – de sucesso –, e depois um sucesso atrás do outro.
Em sua sofrida e vivida vida, a dor de existir não o paralisou, pelo contrário, virou sucesso editorial, e nunca abriu mão de seu desejo fundamental – ser escritor. É um exemplo de tenacidade e de que vale a pena – para qualquer um – acreditar nos seus próprios sonhos (desejo no sentido lacanianio).E nisso se jogou por inteiro, sem amarras que o amparassem nas quedas – que não foram poucas.
Que outro pai não diria: “Filho, você ficou maluco? Só Jorge Amado vive disso (de escrever) no Brasil”! Sorte de Paulo e dos cem milhões de leitores pelo mundo, porque O Mago não seguiu as normas da ABNT, como seu pai, engenheiro, lhe impunha.
Desobedeceu ao pai.
O que é o crescimento pessoal senão a “negação” do pai? Ganhou o bom combate! Mas só escreveria o seu primeiro livro aos 40 anos, e por isso ainda continuava infeliz.
Provou de tudo. Dá para entender, né? Foi aos céus, ao Dops e ao inferno (xeol, no hebraico antigo). Continou a vida apanhando, inclusive da invejosa crítica literária e doutos, mais ainda, da imprensa em geral, no Brasil . Sem desistir da sua lenda pessoal, seguiu em frente. E venceu!
A biografia que já tem cinco propostas para virar filme e que vai ser lançada no ano que vem nos EUA, é como se fosse um filme perfeito. De um livro tirado a fórceps de dentro do baú do mago, colocado à disposição de Fernando sem que ele (Paulo) desse algum palpite sobre a obra; que só leu depois de pronta.
É como um roteiro para impressionar o público. E impressiona. Mas é a própria vida do Paulo Coelho que é impressionante!
Fernando Morais é o craque das biografias no Brasil, nada de “causos” de mineiro no livro, mas casos acontecidos com o autor mais lido do mundo e que só perde para Shakespeare em número de leitores e obras publicadas.
A “universitas” lhe tacou o pejorativo carimbo de “escritor de livros de auto-ajuda”. E se for assim, nada mal, está bem acompanhado. Por que livro tem que ser enigmático, fechado, oblíquo e confuso como, por exemplo, Estorvo, de Chico Buarque?
Paulo está com seus livros – como a Bíblia – entre as leituras mais lidas do mundo. E a Bíblia, o que é senão sabedoria milenar e auto-ajuda recolhida em 73 livros? E o I Ching com seus 3.000 anos, não vale também como auto-ajuda? Se lá diz e Paulo Coelho leu que “perseverar é necessário” isto não vale? Não serve para todos no mundo? Por que tem que ser somente Jorge Amado “o autor” brasileiro?
Fernando Morais venceu. Paulo Coelho idem. O Brasil e o mundo vão saber que o brasileiro tão conhecido como Pelé (ou mais) é agora um quase-santo, casado com a mesma Christina Oiticica, sua inseparável companheira de muitos anos, a quem ele ouve e aceita as opiniões que ela intuitivamente dá – e acerta – no assunto que for.
Paulo Coelho agora nesta biografia desvela-se como mago e santo e em nada louco.
* Psicanalista e artista plástico
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