Mãe em versos

As mães nos poemas de Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Cora Coralina, Fernando Pessoa e Florbela Espanca
sexta-feira, 08 de maio de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Mãe em versos

Para sempre

Por que Deus permite 
que as mães vão-se embora? 
Mãe não tem limite, 
é tempo sem hora, 
luz que não apaga 
quando sopra o vento 
e chuva desaba, 
veludo escondido 
na pele enrugada, 
água pura, ar puro, 
puro pensamento. 
Morrer acontece 
com o que é breve e passa 
sem deixar vestígio. 
Mãe, na sua graça, 
é eternidade. 
Por que Deus se lembra 
— mistério profundo — 
de tirá-la um dia? 
Fosse eu Rei do Mundo, 
baixava uma lei: 
Mãe não morre nunca, 
mãe ficará sempre 
junto de seu filho 
e ele, velho embora, 
será pequenino 
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade 


Mãe...

São três letras apenas,
As desse nome bendito:
Três letrinhas, nada mais...
E nelas cabe o infinito
E palavra tão pequena — confessam mesmo os ateus —
És do tamanho do céu
E apenas menor do que Deus!

Mario Quintana

 

Mãe

Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
Nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não o desligues da tua força maternal.

Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.

Mulher, não te deixes castrar.
Serás um animal somente de prazer
e às vezes nem mais isso.
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.
Tumultuada, fingindo ser o que não és.
Roendo o teu osso negro da amargura.

Cora Coralina


O menino de sua mãe

No plano abandonado 
Que a morna brisa aquece, 
De balas trespassado 
— Duas, de lado a lado —, 
Jaz morto e arrefece. 

Raia-lhe a farda o sangue. 
De braços estendidos, 
Alvo, louro, exangue, 
Fita com olhar langue 
E cego os céus perdidos. 

Tão jovem! que jovem era! 
(Agora que idade tem?) 
Filho único, a mãe lhe dera 
Um nome e o mantivera: 
«O menino da sua mãe». 

Caiu-lhe da algibeira 
A cigarreira breve. 
Dera-lha a mãe. Está inteira 
E boa a cigarreira. 
Ele é que já não serve. 

De outra algibeira, alada 
Ponta a roçar o solo, 
A brancura embainhada 
De um lenço... Deu-lho a criada 
Velha que o trouxe ao colo. 

Lá longe, em casa, há a prece: 
«Que volte cedo, e bem!» 
(Malhas que o império tece!) 
Jaz morto, e apodrece, 
O menino da sua mãe.

Fernando Pessoa


De joelhos

“Bendita seja a Mãe que te gerou.” 
Bendito o leite que te fez crescer 
Bendito o berço aonde te embalou 
A tua ama, pra te adormecer! 

Bendita essa canção que acalentou 
Da tua vida o doce alvorecer... 
Bendita seja a Lua, que inundou 
De luz, a Terra, só para te ver... 

Benditos sejam todos que te amarem, 
As que em volta de ti ajoelharem 
Numa grande paixão fervente e louca! 

E se mais que eu, um dia, te quiser 
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!! 

Florbela Espanca

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Light | poesia | mãe | Dia das Mães
Publicidade