Ana Blue
Elas têm todo esse amor que nunca teremos igual. Enfrentam toda a espera, a ansiedade e as incertezas desses nove longos meses que nos separam; e, ao mesmo tempo, nos unem, numa espécie de ligação física e espiritual quase que indissolúvel. É mais que cordão umbilical: qual a maior beleza do universo senão um ser gerando outro ser? De um corpo nascer outro corpo, a sua imagem e semelhança, seu legado de genes e eterno herdeiro de seus sabores e dissabores?
Mãe é esse ser que dá a vida. Aliás, dar a vida, não; essa ideia transmite um pouco de sacrifício, e acho que essa palavra não combina com as mães. Não existe sacrifício em amar. Amar é, sim, uma doação, mas não essa doação amarga dos que pensam ser mais ou melhores que o outro: até porque somos fracos e as mães, mais fracas ainda. Mãe pode enfrentar toda sorte de infortúnio, chegar ao topo das montanhas, paralisar vendavais, mas nós, os bebês, somos sua fraqueza. Elas sofrem ao nosso menor sinal de dor de ouvido. Ou, indo ainda mais longe, elas lembram até do nosso primeiro chute. Uma mulher grávida, inclusive, faz qualquer coisa pelo bem do ser que cresce em seu ventre; ela transfere energia, ela transfere outros elementos vitais. Mãe transfere vida, de si mesma para o bebê que cresce, protegido, dentro dessa bolsa de água nutrida que há dentro da barriga e que o alimenta. É isso: mãe alimenta a vida. E seu calcanhar de Aquiles – nós, bebês –, é sua força e também fraqueza a vida inteira.
Existe uma rara beleza nessa mulher que nos leva dentro de si. Que morenaço que a esposa fica, diria o Poetinha. Essa fonte, que tal fonte de água, tem o dom de encher de vida qualquer lugar que antes era seco. Aliás, como bem disse um outro poetinha, "água que nasce na fonte serena do mundo e que abre um profundo grotão”. De dentro dela surge um outro ser – nós –, que um dia vai se atrapalhar ao tentar pôr no papel tudo o que a mãe representa. Mãe é essa mistura harmônica de todos os elementos da Terra.
Existe uma rara beleza nessa mulher que nos leva dentro de si. Nessa fonte de água limpa. Em todas as religiões e filosofias, a fonte de água é sagrada, pura, representa a pureza dos sentimentos humanos. Passar pela água é ter de volta a pureza perdida, por isso o batismo, por isso o costume de se lavar antes das orações, por isso as cinzas no Ganges. Por isso a analogia, nesse texto simples, entre mãe e água. A rara e bela pureza que há nessa mulher que nos leva dentro de si – e que é água, fogo, terra, ar, todos os elementos da natureza em harmonia. Esse ser que nos transfere vida. Essa mulher que tem esse modo de amor que nunca mais teremos igual... até que nós, os bebês, sejamos também esse ser que gera outro ser dentro de si.
Beauty: Jeff | Locação: Nova Friburgo Country Clube
Modelo: Christiane Salomão Fotos: Alexandre Savino
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