Attila Mattos
Foi entre 1819 e 1820 que chegaram à Nova Friburgo as 261 famílias de suíços, num total de 1682 imigrantes. Foi uma viagem medonha onde muitos morreram, e os que chegaram, estabeleceram-se sem receber qualquer ajuda numa situação de grande precariedade. Eram famílias muito pobres e de pouquíssima cultura, porém tinham muita garra e, apesar das imensas dificuldades, conseguiram sobreviver. A região era de terras de baixa fertilidade, topografia difícil, mata fechada, acesso péssimo e sem nenhuma infraestrutura para a habitação humana. Por outro lado, era, e é, área lindíssima, muito rica em Mata Atlântica, onde nasce o Rio Macaé, de água limpa da montanha que hoje alimenta o turismo regional e a exploração petrolífera em Macaé e Campos, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, onde o rio deságua no mar. Os suíços ficaram isolados mas foram se reproduzindo, alguns migraram para norte, sul, leste e oeste, porém a grande maioria permaneceu em nosso município. As terras foram doadas para a colonização nos locais hoje chamados de Mury, Alto 50, Stucky, Macaé de Cima, Galdinópolis, Vargem Alta, Rio Bonito, Lumiar, Boa Esperança, São Pedro da Serra e outros. Passados todos esses anos queremos descrever como vivem hoje os descendentes dos suíços pioneiros e quais são suas reivindicações enquanto comunidades estabelecidas em forma de bairros. Em primeiro lugar queremos salientar que houve pouca miscigenação e, sendo assim, a grande maioria dos descendentes é fruto de casamentos entre as famílias que chegaram no início da colonização. Outro aspecto relevante é que essa gente cresceu intelectualmente no Brasil e hoje tem instrução, sendo totalmente integrados à sociedade friburguense. Muitos se tornaram médicos, advogados, políticos, empresários e outras profissões, assumindo inclusive cargos importantes em nosso município, e mesmo no Brasil e no mundo.
Passo agora a relatar as reclamações dos moradores da localidade de Macaé de Cima com quem convivo por mais de 30 anos. Esse bairro é basicamente turístico e seus moradores são, na maior parte, descendentes dos suíços, sendo que quase todos trabalham para os sitiantes oriundos das cidades do Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo e outras, que nos fins de semana e férias vêm curtir as belezas da região. Mas como vivem esses trabalhadores?
1 – Saúde – nos foi informado que não há um posto de saúde decente e que havia um médico que ia uma vez por semana, sendo que agora não vai mais ao local. Além disso, o agente de saúde não é do bairro e, portanto, não conhece a comunidade, o que desagrada, obviamente, a todos os moradores.
2 – Educação – A escola Monsenhor José Antônio Teixeira tem falta de 3 professores e para as crianças não perderem o ano letivo os outros professores estão se desdobrando e até a diretora está dando aula.
3 – Transporte – a situação do transporte coletivo no bairro é ridícula, visto que o micro-ônibus que atende a população só circula por lá três vezes por semana (terças, quintas e sábados) e apenas duas vezes em cada dia, obrigando aos moradores a andar a pé longas distâncias ou pagar táxi para se deslocar para o centro da cidade com fins de estudo, trabalho, tratamento de saúde e compras. Há necessidade também de que o micro-ônibus avance mais 900 metros à frente do atual ponto final, para atender a mais famílias.
4 – Comunicação – a localidade não tem telefone, apesar das inúmeras gestões dos moradores e dos sitiantes turistas junto às empresas de telefonia.
5 – Estradas – as estradas e pontes têm péssima manutenção oferecendo sério risco de acidentes. Durante as campanhas políticas são feitas manutenções e depois das eleições a conserva fica por conta de poucos funcionários, sem equipamentos, como tratores e outras máquinas, para que possam desempenhar sua função de forma satisfatória.
Muito se vê de preocupação com a conservação das matas, rios e córregos afluentes do rio Macaé de Cima, porém pouco se faz pela população que vive na região. Todos precisam de caseiros e de gente que não deixe poluir nem desmatar aquela belíssima localidade, mas o poder público não cumpre seu dever para com os moradores que são os reais e únicos agentes de preservação e de trabalho do local. Por isso é que se diz que a maravilhosa região do Macaé de Cima, um dos pontos mais lindos do mundo, é na verdade um “Paraíso Abandonado”.
Esperamos por respostas e ações das autoridades!!!
Deixe o seu comentário