As luzes que acendem o espírito de Natal na cidade

Comércio, residências, portarias, praças e ruas inteiras se iluminam graças à persistência de alguns friburguenses
sábado, 23 de dezembro de 2017
por Ana Borges
OSolar dos Celles Cordeiro iluminado para o Natal (Fotos: Henrique Pinheiro)
OSolar dos Celles Cordeiro iluminado para o Natal (Fotos: Henrique Pinheiro)

Alguns anos atrás, Nova Friburgo era muito mais iluminada no Natal. Havia concursos  e premiações para as fachadas comerciais mais bonitas e as residências mais iluminadas. Os tempos mudaram, e provavelmente o alto custo da energia desestimulou esta  linda competição, apesar das vantagens das lâmpadas de led disponíveis hoje no mercado, bem mais econômicas.

Ainda assim, o comércio, algumas  residências, portarias, praças e até mesmo ruas inteiras da cidade  continuam seguindo a tradição, e estão iluminadas graças à persistência de friburguenses de coração como dona Lourdes Cordeiro Celles, moradora da Rua General Osório.

Este ano a  iluminação da Praça Getúlio Vargas com  milhares de lâmpadas de led e enfeites como guirlandas, bolas, árvores e estrelas não são os únicos símbolos natalinos  espalhados pela cidade.  Um passeio à noite revela igrejas, portarias e casas lindamente iluminadas.

Luzes do Solar dos Celles Cordeiro despertam o espírito natalino nas pessoas

A matriarca da família Celles Cordeiro, dona Maria de Lourdes, 91 anos (em janeiro completa 92), nascida em Monnerat e radicada em Friburgo há mais de 60 anos, viúva do advogado e ex-deputado estadual Paulo Cordeiro, mãe, avó e bisavó de uma fileirinha de bebês e crianças de todas as idades, celebra a data magna do cristianismo, o Natal, com tudo o que lhe é caro: decoração de luzes desenhando lindamente a fachada do solar, bonecos de Papai Noel, presépio, enfeites nas janelas, nos lustres e no mobiliário, em cada ambiente de sua acolhedora casa.

Nos dias 24 e 25 de dezembro a residência é “ocupada” por sua trupe de três gerações de Celles Cordeiro. Que é, segundo suas palavras, a parte mais importante de sua festa: a sua família.

Na sua infância, vivida num sítio em Monnerat, tudo era bem mais simples, conta dona Lourdes. “Minha avó fazia uns pães no forno do fogão à lenha, assava um franguinho cortadinho. Me lembro tanto disso (conta, se emocionando com a lembrança). Minha mãe fazia até polvilho, imagine! Íamos à missa no dia 24, todos em Monnerat iam porque o povo lá era muito religioso”, comenta dona Lourdes, católica e devota de Nossa Senhora.

As paredes da casa são tomadas por fotos da família: dos pais, de casamentos, seu e dos descendentes, dos filhos ainda crianças, formaturas, tudo o que se possa imaginar. Ela lamenta que hoje “as pessoas tirem fotos que a gente mal vê, fica lá na internet, a gente não pega, não pode pendurar na parede”, reclama, mas se divertindo com as novidades tecnológicas.

Dona Lourdes vai e volta nas lembranças, mistura Monnerat com Friburgo, conta uma história de lá e emenda com  outra daqui. Fala do marido com carinho, mostra as fotos dos dois, do casamento em Monnerat, da mudança para uma casa no Sans Souci (Braunes) e depois a compra do casarão na Rua General Osório, na década de 1960.    

Depois que o dr. Paulo morreu, há cerca de cinco anos, ela resolveu que estava na hora de delegar os cuidados da casa para filhos e netos. “São eles que tomam as providências que uma casa desse tamanho requer, e no Natal a decoração fica por conta deles. A novidade esse ano são os pingentes que uma neta importou e mandou pendurar naquela árvore ali (em frente à casa). À noite fica bonito ver aqueles pontos luminosos prateados escorrendo da folhas”, descreveu.

Dona de casa a vida inteira, cuidou de sete filhos e hoje se limita a fazer tricô e crochê. “Sempre fiz sapatinhos e roupinhas para ajudar a montar enxovais de bebês que a Casa da Amizade distribui, e também para a maternidade. Gosto de fazer capa para almofadas e até para as bolinhas da árvore de Natal”, diz, apontando para a árvore ao seu lado, cheia de bolinhas forradas com saquinhos de crochê: “Isso é uma cachaça, minha filha, não sei ficar à toa”, completa, bem-humorada.

Vida de “vó”

“Todo dia dorme um neto aqui. A casa é dos filhos, que já são avós, e da criançada que, vire e mexe, fica comigo, principalmente nos sábados e domingos, quando jogam bola no campinho que mantemos aqui do lado. Quando vejo jovens só pensando em trabalhar, construir uma carreira, fico com pena, porque acho que nada é mais importante do que ter filho. Já pensou como vai ser o Natal desse pessoal quando ficar velho? Não vai ter Natal”, conclui dona Lourdes, entre séria e brincalhona.

Por isso, ela faz questão de manter as tradições do Natal, enfeitar a casa, fazer a ceia, se cercar de suas crias. “Acho que esses momentos, esse tempo alegre e festivo vai marcar suas vidas, deixar boas recordações, como eu mesma tenho do meu tempo de infância e juventude”, ressaltou, com a espontaneidade de uma pessoa que viveu e vive conforme suas convicções.

Quanto aos presentes, dona Lourdes tomou providências práticas. “Sabe, resolvi esse problema, porque não tenho mais perna pra ir às lojas, naquela confusão toda. Então, decidi: dou dinheiro para que cada neto e bisneto comprem o que quiserem. Eles ficam satisfeitos e eu também. Não tenho do que me queixar nessa vida. Pude me dedicar à família sem maiores preocupações, só tenho motivos para me orgulhar de cada um. Acho que é por isso que gosto de conversar sobre a vida que tive e o resultado de tudo, acontecendo aqui em casa, todo dia”, avalia.

Voltando às luzes do Solar dos Celles Cordeiro, ela conta que às vezes percebe umas pessoas do outro lado da calçada, tirando fotos. E que o espírito do Natal que ela sente em sua casa, também desperta os melhores sentimentos em cada pessoa que passa por ali. “O mundo precisa disso”, acredita.

“No dia 24, às 19h, o Papai Noel vem e dá presente pra todo mundo. Depois tem a ceia, as conversas, as novidades, as brincadeiras e o som das crianças. Quem quiser dorme por aqui mesmo, tem lugar pra todo mundo”, diz, sorrindo, feliz.      

A origem das luzes de Natal

Tudo começou quando, em 1880, Thomas Edison, inventor da lâmpada, pendurou diversas luzinhas incandescentes ao redor do seu laboratório para chamar a atenção de quem passava. Dois anos depois, Edward Johnson, colega de Edison, montou a primeira árvore de Natal iluminada em Manhattan.

Mas essa tradição natalina tem uma explicação extra: dezembro é o mês mais escuro do ano no Hemisfério Norte. Assim como as lâmpadas, que não param de evoluir, as luzes de Natal sofreram grandes mudanças ao longo dos anos, tendo hoje  uma grande diversidade de formatos, tamanhos e cores.

As luzes dos pisca-piscas que embelezam a cidade no período natalino têm um importante sentido para os cristãos. Ela representa a própria luz, que é Jesus. Os pinheiros de Natal, por sua vez, representam a vida.

A tradição da árvore de Natal vem dos romanos, que celebravam em dezembro o nascimento não do Menino Jesus, mas do Deus Sol, que nascia junto com o solstício de inverno (21 de dezembro). A celebração festejava Saturno, o deus das colheitas, e por essa razão chamava-se Saturnália ou Saturninas, e as árvores eram decoradas com enfeites luminosos.

A tradição de enfeitar árvores para celebrar o nascimento do "deus da Luz" remonta a esse tempo, pois as árvores eram consideradas a ligação entre a Terra e o Céu, simbolizando a fertilidade e a continuidade da vida. A estrela no topo simbolizava o deus Sol.

O primeiro registro da "Árvore de Natal" como hoje conhecemos remonta à Alemanha do século XVI, sendo já usado o pinheiro, adotado provavelmente pela alusão à Santíssima Trindade, devido à sua forma triangular.

Dizem também que o Natal é simbolizado pela decoração de pinheiros, porque o pinheiro preserva o verde dos seus ramos mesmo no tempo mais frio e até com neve, e como tal representa a promessa da vida que se perpetua. As bolas coloridas simbolizam os "frutos" da vida.

Conta-se que, no século XVI, Martinho Lutero adornou uma árvore com luzes no dia de Natal, como forma de honrar o nascimento de Jesus, que veio trazer Luz a todos os Homens.

Veja aqui alguns dos locais iluminados mais bacanas que encontramos em nossa cidade  e que encantam os olhos, nos contagiando com esse  espírito natalino.

Quando montar a decoração?

De acordo com a tradição cristã, o dia certo para começar a “vestir” a casa para o Natal é o primeiro domingo do Advento – o quarto domingo antes do aniversário de Cristo, em 25 de dezembro. Em 2017, a data caiu no dia 3 de dezembro.

Decorar a casa aos poucos até o Natal deixa claro o sentido de que estamos nos aproximando de uma grande festa.

A cidade fica mais bonita, e como mágica o clima de natal, vai contagiando a todos.

Uma curiosidade: o presépio também deve ser montado aos poucos, sendo que o Menino Jesus só deve ser colocado na noite de Natal. Da mesma forma,  os três Reis Magos também devem ser colocados bem atrás no início do Advento, sendo aproximados do Menino Jesus aos poucos até 6 de janeiro. A data encerra os festejos natalinos e, por isso, é o melhor dia para desmontar a árvore e guardar os enfeites.

 

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