Luiz Fernando Guimarães: “Estou animado por voltar a Friburgo”

O ator Luiz Fernando Guimarães concedeu esta entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, na qual relembrou o início de sua carreira e descreveu o desafio de interpretar oito papeis diferentes sem a ajuda do figurino
quinta-feira, 30 de junho de 2016
por Márcio Madeira
(Foto: Divulgação/Guga Melgar)
(Foto: Divulgação/Guga Melgar)

Em cartaz no Teatro Municipal Laercio Rangel Ventura nos dias 1º e 2 de julho com a peça “O Impecável”, o ator Luiz Fernando Guimarães concedeu esta entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, na qual relembrou o início de sua carreira e descreveu o desafio de interpretar oito papeis diferentes sem a ajuda do figurino.

AVS: Como surgiu a ideia de ser ator? O que você fazia antes? E a veia humorística, ela sempre te acompanhou?

Luiz Fernando Guimarães: “Eu era bancário. Trabalhei em banco até os meus 23 anos, e não tinha a menor intenção de ser ator. Mas havia um grupo de teatro amador que estava ensaiando para estrear, e um dos atores ficou com hepatite, veja só que interessante. Aí uns amigos que me achavam divertido me chamaram para ficar no lugar dele. O nome do grupo era Asdrúbal Trouxe o Trombone, e eu ensaiei durante vinte dias para a peça, que era um clássico mais debochado, chamado O Inspetor Geral. E fiquei com esse grupo durante dez anos. Muita gente bacana participou desse grupo, como Regina Casé, Evandro Mesquita, Patrícya Travassos... E para mim foi uma escola. A gente mesmo produzia, criávamos nosso figurino, pedíamos emprestado, e fomos nos profissionalizando desse jeito. Foi bem espontâneo. E no fim eu não virei ator, eu virei arteiro, não é?” (Risos)

O Brasil te conhece bastante por seu trabalho no cinema, e sobretudo na televisão. Você protagonizou inúmeros sucessos como TV Pirata, Programa Legal, Vida ao Vivo e Os Normais. Para alguém que faz tanta gente rir, como é a diferença entre atuar diante de uma plateia, que te dá esse tipo de retorno, e trabalhar diante das câmeras?

“No início foi muito diferente, porque o teatro realmente te dá um feedback muito rápido. Não é nem por causa da risada, mas talvez por causa da respiração. E depois de um tempo eu comecei a perceber a técnica da televisão. As pessoas que estão atrás da câmeras, elas te dão um feedback, porque elas são seu público. Nós não temos como ter esse retorno por parte do público de casa. Para mim, no início, essa era uma dificuldade. Depois eu percebi que quando você faz para si mesmo e consegue se divertir, você naturalmente diverte os outros. E no teatro acaba sendo isso também, ao me divertir eu divirto os outros também. Então a primeira pessoa a se divertir com meu trabalho sou eu mesmo. Sem ser egoísta, mas essa é a pura verdade. Porque o público você nunca consegue antecipar. Por exemplo, eu não posso esperar que o público de Friburgo tenha as mesmas reações do público de Vitória. Cada lugar tem sua gastronomia, tem sua temperatura, cada pessoa reage de um jeito. Por isso que eu sempre pergunto como está a temperatura [Luiz Fernando havia perguntado sobre o clima em Nova Friburgo, antes da entrevista começar], porque o frio deixa as pessoas mais introspectivas, o calor faz com que as pessoas fiquem mais extrovertidas. Isso é coisa de ator maluco, mas acaba interferindo um pouco. E como cada público reage de uma forma, nós temos que estar sujeitos às novidades que ele apresenta.”

A TV Pirata, por exemplo, fazia um humor bastante ácido e politicamente incorreto no fim dos anos 80, e hoje em dia isso tem sido um tanto questionado. Você, que já está há tanto tempo na estrada, notou um estreitamento dos limites daquilo que pode ser aceito em termos de humor? Como é esse processo de adaptação?

Eu acredito que o humor não tem muito limite, esse limite vem de cada ator. Pessoalmente, eu gosto do humor sem constrangimento, não gosto do humor excessivo. O meu humor respeita limites que eu mesmo estabeleço. Mas ele é politicamente incorreto, porque trabalha em cima das irregularidades. Por exemplo: nessa peça que está em cartaz eu apresento um salão de cabeleiro onde quase ninguém trabalha. É um salão de fachada, então ele é politicamente incorreto. A gente vive num mundo incorreto, não estou falando apenas do Brasil, mas da própria humanidade. É claro que com isso eu não estou fazendo apologia ao que é ruim. Mas o caminho que eu trilho é o de um humor ácido, eu gosto de fazer humor no limite. Mas, por exemplo, eu não acho engraçado fazer humor político, porque eu não acho graça na política. O que eu acho mais graça é no comportamento das pessoas. Essa é uma coisa que eu observo, e que eu gosto mesmo de fazer, explorar as situações. Você pode ver que todos os meus trabalhos na televisão são de natureza comportamental. Os Normais era totalmente em cima de comportamentos. Agora, eu não faço nada bonzinho... Mas respeito certos limites porque realmente não gosto do humor excessivo. Eu gosto que a pessoa ria e tire algum proveito do que estou fazendo. O público é sempre muito variado, e essa peça tem humor para todos os gostos.”

Falando de forma mais específica sobre a peça, como ela surgiu, e o que o público pode esperar?

Eu fiz um espetáculo musical no Rio que se chamava Como Vencer na Vida Sem Fazer Força, junto com Gregório Duvivier e Adriana Garambone. Essa peça foi dos anos 60, e o Charles [Moeller]e o Cláudio [Botelho], que são especialistas em musicais, me ligaram dizendo que o personagem era a minha cara, porque era um musical muito ácido e tudo mais. O Duvivier é outro ator que eu adoro, e nós fizemos essa dupla, foi uma maravilha. Mas musical é sempre muito caro, e por mais que eu quisesse continuar isso não foi possível, as apresentações ficaram restritas ao Rio de Janeiro. Eu disse que gostaria de voltar a trabalhar com eles, e foi quando eles me apresentaram essa peça que haviam escrito muito tempo atrás, em cima dos sete pecados capitais, e que estava guardada havia muito tempo. Ao todo eram sete monólogos - monólogos mesmo, enormes. E eles me deram esse material, com carta branca para que eu o adaptasse como quisesse. Aí chamei o Marcos Alvise, que é um diretor muito amigo meu, e o convidei a transformar junto comigo todos aqueles monólogos numa peça de teatro, na qual, em vez de oito atores, seria apenas eu. E ele teve uma ideia mágica que foi a de fazer tudo sem figurino, sem peruca, sem bigode... E eu já estava acostumado a isso. A coisa mais fácil para um ator é colocar um bigode e interpretar um tipo, porque vem automaticamente. E a coisa mais difícil para mim foi fazer esses oito papéis diferentes sem nada. Felizmente o conteúdo está tão mastigado, até porque não foi fácil transformar esses monólogos numa peça, que as pessoas conseguem ver todos os tipos que eu interpreto e acho que nem sentem falta do figurino.

Então na verdade não é um monólogo clássico, porque em essência você contracena consigo mesmo...

Eu contraceno comigo mesmo, eu contraceno com o invisível, e isso eu devo muito a esse grupo que marcou a minha origem. Porque nós improvisávamos muito até chegar ao ponto final. Nós fazíamos muitos exercícios de teatro, digamos assim. E um desses exercícios era contracenar com uma pessoa invisível e, sem dar sua identidade, passar quem ela era, qual a altura, qual a idade, sem ela falar. Eu fiz isso muitas vezes, e acabou se tornando algo normal em minha vida. Então, quando me disseram que eu ia fazer oito personagens, isso me vem de uma forma normal.

Para encerrar, você já veio antes a Nova Friburgo?

Sim, eu fui há muitos anos, fazer um evento. Foi muito rápido e eu tenho poucas lembranças, mas estou animado a voltar. Vai ser um prazer me apresentar aí, e espero reconhecer a cidade quando chegar.

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