Luis Fernando Azevedo: ‘Uma CPI pode gerar mais notícias negativas a respeito de Nova Friburgo’

Após abrir espaço para os vereadores favoráveis à instauração de uma CPI para investigar o contraste entre os investimentos e o quadro problemático na Saúde municipal, A VOZ DA SERRA entrevista o Secretário de Saúde Luis Fernando.
domingo, 29 de março de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Após abrir espaço para os vereadores favoráveis à instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o contraste entre o volume de investimentos e o quadro problemático na Saúde municipal, A VOZ DA SERRA entrevista o secretário responsável pela pasta, Luis Fernando Azevedo.

Eu acho que uma CPI vai manchar novamente a imagem de Nova Friburgo.
A VOZ DA SERRA: A proposta da CPI não fez qualquer acusação de corrupção em relação à sua administração, mas baseou-se em alegadas dificuldades encontradas no exercício da fiscalização. O senhor concorda que falta transparência à gestão municipal da Saúde?

Luis Fernando Azevedo: Eu não vejo falta de transparência na Saúde. E digo isso porque atendo a todos os vereadores aqui em meu gabinete, sejam eles de situação ou de oposição. Com exceção do vereador Cláudio Damião, que vem aqui muito pouco ou nunca veio, embora às vezes me telefone, a maior parte dos vereadores está sempre em contato comigo, inclusive Zezinho do Caminhão, que está sempre por aqui pedindo ajuda para algum friburguense. Eu gostaria de lembrar que quando a gente assumiu a Saúde, nós tínhamos uma UPA em greve, totalmente parada, servidores com salários atrasados, sem medicação... Não havia dipirona no hospital. E eu nunca falei que ia fazer milagres. Ao contrário, sempre deixei claro que resolver todos os problemas ia ser muito difícil. Porque a Saúde é uma vidraça, e é muito fácil as pessoas baterem. Se nós resolvemos os problemas principais, como uma UPA fechada, as pessoas vão continuar batendo nos problemas pontuais, que vão existir sempre. É claro que não é parâmetro, uma vez que nossa obrigação é a de fazermos sempre o melhor possível, mas se nós olharmos para a situação da Saúde em outros municípios vamos ver que em vários deles pacientes são atendidos no chão. A gente sabe que Saúde não é fácil de ser gerenciada. A verba da pasta é fundo a fundo, direcionada para programas específicos, e não pode ser empregada de qualquer maneira. A verba de média e alta complexidade é deficiente para as necessidades do nosso município, nós precisamos trabalhar com planejamentos e faturamentos para poder aumentá-la. Geralmente temos mais facilidade para conseguir os recursos para a atenção básica.

Por que, na sua opinião, a instauração de uma CPI traria mais prejuízos do que benefícios à população?

Eu acho que uma CPI vai manchar novamente a imagem de Nova Friburgo. Por que, em vez de fazer isso, não vem aqui para dentro ajudar? Eu penso dessa forma, estou aberto, me dou bem com todos eles. Quer ajudar mesmo? Então vamos ver os problemas, vem aqui, pergunte. Ninguém sai daqui sem respostas. Uma reportagem afirmou que o secretário foi chamado e não foi à Câmara. É preciso esclarecer que isso não aconteceu comigo, nas duas vezes em que fui chamado eu compareci. Nós, na secretaria, não somos perfeitos, mas somos trabalhadores. Encontramos uma realidade que já vinha desorganizada havia muito tempo. Quando dizem que faltou determinado medicamento, é verdade, faltou sim. Como eu disse, não prometi milagres, a licitação só acabou agora para que possamos suprir as necessidades. Como já expliquei em entrevista anterior, nós temos três tipos de farmácia. Geralmente quando se fala sobre falta de remédios no Raul Sertã a falta é restrita à farmácia complementar, que não tem nada a ver com o atendimento prestado dentro do Hospital Municipal Raul Sertã, e vários casos não são enquadrados na Relação Municipal de Medicamentos (Remume), que é a lista de remédios que temos a autorização de comprar, que podemos justificar para recebermos a verba. Por exemplo, nós temos as insulinas NPH e a regular para todo mundo no posto do Suspiro. Mas a Lantus, que tem faltado, nós temos comprado na farmácia complementar, e ela é muito mais cara. A farmácia complementar costumava ser mantida pelo Estado, que fornecia os chamados remédios de ordem judiciais, que não fazem parte de nossa Remume. Mas dito tudo isso, é preciso deixar claro que não temos medo de CPI. Quem não deve não teme, e se ela for aprovada terá todo meu apoio para que sejam realizadas as investigações. Eu apenas acho que não existe essa necessidade, pois estou sempre aberto ao diálogo e a prestar esclarecimentos, e que uma CPI nesse momento pode, mais uma vez, gerar notícias bastante negativas a respeito de Nova Friburgo em todo o Brasil.

Apesar de não negar os problemas e reiterar que não prometeu milagres, o senhor afirmou que a partir de 2015, com o novo orçamento, as primeiras melhorias na Saúde começariam a aparecer. Essa promessa continua válida, apesar do recente corte de custos do governo municipal?

Nós temos alguns avanços sim, para apresentar. Os médicos cubanos têm sido muito elogiados, a UPA está funcionando bem, temos agido com muita seriedade em relação aos processos... Por exemplo, as famosas tiras de glicemia. Nós conseguimos baixar 20 centavos em cada unidade sem mudar o fornecedor. Isso representou uma economia de R$300 mil aos cofres públicos nesse ano, em relação ao preço que já vinha sendo praticado há seis anos. É muito dinheiro, que agora pode ser utilizado em outras coisas. Recentemente o prefeito de Nova Iorque deu uma declaração dizendo que o difícil é administrar em meio a tanta burocracia, e aqui a gente poderia dizer o mesmo. O órgão público hoje é muito burocrático, e tem que ser mesmo, porque ele é muito fiscalizado. Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal, TCE... A gente tenta cumprir várias metas. O que incomoda é que estamos fazendo uma gestão que não é política, e isso atinge algumas pessoas. Por exemplo, nós já temos um centro cirúrgico novo na maternidade, está tudo novo lá. Os médicos estão adorando, a população tem visto, mas eu não divulguei, não coloquei a plaquinha com meu nome lá. Eu quero uma maternidade livre de problemas. A farmácia do Raul Sertã é outro exemplo. Logo depois da tragédia ela foi transferida para o andar de cima, e ali realmente não tinha condições de abrigar a farmácia. E nem a enfermaria, porque já havia um problema junto ao Ministério Público desde 2007 com relação a aqueles leitos ali. Eu prometi que iria resolver, e hoje a farmácia está num lugar limpo, organizado, e os leitos estão sendo reformados. A endoscopia... Quando eu assumi a endoscopia estava parada. Agora nós temos um aparelho novo e ainda tem uma fila imensa de pessoas esperando para fazer o exame. Estamos regularizando os contratos com os prestadores de serviço, para que tudo funcione da melhor forma... Mas é claro que eu sei que não vou solucionar em um ano coisas que estavam paradas há três ou quatro anos. Mesmo com esses resultados, ainda temos muitas dificuldades. Existem exames atrasados sim, mas nós voltamos com a coleta nos postos de saúde, essa foi uma vitória para a gente. Marcar uma ultrassom, por exemplo, está difícil, mas isso será resolvido nos próximos dias. Enfim, nunca escondi que há muito para ser feito. Mas é muito mais fácil fazer o papel da pedra, e bater na vidraça que é a Saúde. É muito fácil criticar, porque os problemas pontuais sempre vão existir. Aliás esses problemas se repetem há vários anos, e ninguém, nem mesmo na oposição, está falando em suspeita de corrupção. É por isso que eu não vejo razões que justifiquem a instauração de uma CPI, manchando mais uma vez a imagem de Friburgo na mídia. Vejo motivos, isso sim, para todos darmos as mãos e tentarmos juntos resolver esses problemas. Mas com foco. O posto de Amparo é um exemplo disso. As pessoas reclamam que as obras começaram há dois anos e ainda não estão prontas. Bom, eu sou secretário há um ano, e já poderia ter inaugurado a unidade há algum tempo. Acontece que o telhado não ficou bom, porque o projeto — feito antes do governo Rogério Cabral — é um projeto muito ruim. Agora imagina se eu inauguro o posto com aquele telhado, e depois ele cai na cabeça de alguém, ou se repete o que aconteceu no Raul Sertã, quando o teto do raio-X caiu. Eu não sou irresponsável para fazer isso, então nós estamos discutindo com as empresas a correção daquele telhado.

O recente anúncio do corte de gastos reduziu bastante a realização de horas extras, deixando diversos funcionários descontentes. O que o senhor tem a dizer a respeito dos recursos humanos da pasta?

Nós herdamos vários problemas relacionados aos recursos humanos. É crucial, por exemplo, que haja uma igualdade salarial, é preciso dar dignidade ao funcionário. Atualmente nós temos uma mesma classe, um mesmo grupo de pessoas, recebendo valores salariais diferentes. Isso já vem de muitos anos, criou vínculos. Algumas classes foram prejudicadas e a gente tem lutado para equalizar. Psicólogos, nutricionistas, técnicos de laboratório, assistentes sociais, farmacêuticos... Essas classes não foram contempladas, enquanto outras foram em 2012. Agora, imagina como é possível dar aumento para uns e não dar para outros? Isso causa um descontentamento geral na rede. Eu tenho médicos que exercem as mesmas funções e recebem salários diferentes. A gente precisa corrigir isso, mas sabemos que sempre vai ter alguém para reclamar e falar mal. O embate vai acontecer, quando estiver tudo redondinho, a coisa vai começar a andar de maneira mais harmônica.

Passado mais de um ano já é possível avaliar os efeitos da incorporação da Fundação Municipal de Saúde pela secretaria municipal?

O término da Fundação atrapalhou um pouco, porque introduziu um novo modelo de gestão. Da forma como aconteceu, eu acabei sendo o primeiro secretário de Saúde nos últimos vinte anos a efetivamente assumir uma Secretaria de Saúde. As dificuldades também são maiores um pouco porque precisamos entender tudo isso, e a própria máquina administrativa precisou reaprender como deveria funcionar. Não é culpa do governo, não é culpa de ninguém. Uma vez que mudou, a gente tem que aceitar. Talvez esses trâmites demorem um pouco mais, mas o mais importante é que todo mundo deveria se unir em prol da saúde pública. Eu também poderia recolher assinaturas para protestar contra um monte de coisas, mas em meio a tantas tarefas não tenho tempo para fazer essas coisas.

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: saúde | CPI | Luis Fernando Azevedo | Hospital Raul Sertã
Publicidade