Lucas Vieira
Morando em Lumiar há sete anos, a cantora e compositora Luhli fará no próximo sábado, 4, às 21h30 na Tribuna Livre Cultural, o show de pré-lançamento de seu novo álbum, Música Nova, gravado em Lumiar neste ano. Com direção musical da própria cantora e a participação dos músicos Léo de Freitas (piano e sanfona), Daniel Drummond (guitarra e baixo), Marcelo Bernardes (sopros), Flávia Torga (percussão), Ana Dias (vocais) e Júlia Borges (vocais), a musicista promete um disco intimista, "como se cantasse no ouvido da pessoa”, ela comenta.
Luhli foi figura importante na década de 1970, quando, em parceria com a também cantora e compositora Lucina, estrelou a dupla Luli e Lucina, e também foi coautora de músicas do Secos e Molhados, primeiro grupo de Ney Matogrosso. Além do ramo da música, Luhli representou bastante a contracultura e o movimento hippie. A dupla morava em um sítio e trabalhava de forma independente, sem depender de grandes empresas e gravadoras, vivendo somente de sua arte.
Através de um hábito que vem se tornando cada vez mais comum, Luhli está preparando seu show de lançamento — no próximo dia 23, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, às 19h30 — através do financiamento coletivo. O processo, que pode ser realizado em sites como Catarse — o qual a musicista está usando — e Kickstarter, consiste em uma arrecadação de capital, através do investimento de pessoas interessadas, para a realização de um projeto, como o lançamento de um CD ou livro e a produção de um filme.
O show no Rio de Janeiro contará com projeções de imagens do também morador de Lumiar Pedro Kiua, além das participações de Ney Matogrosso, Dhenni Santos e Lucina. Porém, Luhli está fazendo vários shows de pré-lançamento do álbum, como o que ocorrerá neste sábado. Uma grande surpresa para a apresentação em Lumiar será a participação de Lucina em algumas canções, trazendo a oportunidade dos fãs que nunca viram a dupla em atividade prestigiarem a reunião desses talentos.
Em entrevista ao jornal A VOZ DA SERRA, Luhli falou de sua carreira, seus projetos pessoais e de seu novo CD.
A VOZ DA SERRA - Quais foram as principais influências da sua formação como musicista?
LUHLI - Eu nasci em Vila Isabel, em uma família muito musical, principalmente pela parte materna. O meu pai era de família espanhola e de lá veio minha influência de música clássica. Quando eu era criança, tinha um violãozinho que era meu brinquedo favorito, nessa época que comecei a aprender meus primeiros acordes. Depois, na adolescência, quando a bossa nova estourou, eu pirei. A gente se reunia na minha casa para ouvir bossa nova, conversar sobre música. Um tempo depois eu comecei a conhecer música de raiz americana, como gospel e blues. Mas eu também gosto muito de música pantaneira, dos irmãos Espíndola, Tetê, Alzira, e também os violeiros, como o Almir Sater.
Como começou sua parceria com a Lucina?
Foi lá na década de 1970. Nos conhecemos e já começamos a compor. Morávamos em um sítio, gravamos discos de forma independente. Vendíamos os LPs de mão em mão, depois dos shows. A gente viajou o Brasil inteiro fazendo apresentações. Atualmente, apesar da gente não tocar mais como dupla há algum tempo, nós estamos em um momento de grande reconhecimento da nossa carreira. Além de o cantor Dhenni Santos ter gravado um disco com músicas nossas, o Rafael Saar fez um documentário falando da nossa carreira, chamado "Yorimatã”, que estreia ainda em outubro.
Como é o trabalho do ateliê que você tem em Lumiar, o Viva Raiz?
Eu comecei a fazer tambores quando morava ainda no Rio. Quem começou, na verdade, foi o meu marido, o [fotógrafo] Luiz Fernando Borges da Fonseca. Quando ele faleceu, eu passei a consertar os tambores que usava e, logo depois, comecei eu mesma a construí-los. Aqui em Lumiar eu montei o ateliê e faço várias percussões experimentais, além de tambores. Também trabalho com artesanato, faço miniaturas e chocalhos. Teve um carnaval que vendi 40 tambores.
Como surgiu a sua parceria com o grupo Secos e Molhados?
Eu conheci o Ney Matogrosso no Rio e adorava a voz dele. Na época ele trabalhava com artesanato. Quando fui cantar em São Paulo fui apresentada ao João Ricardo, que tinha um projeto muito interessante, mas precisava de um cantor. O João queria misturar poemas com uma música bem pop, com muita influência de Beatles. Essa ideia de musicar poesias era uma forma de driblar a censura, porque eles já tinham sido publicados, não tinha como censurar. O Secos e Molhados durou muito pouco tempo e eu contribui com duas músicas, "Fala” e "O Vira”, que são composições que voltam na minha vida sempre, principalmente pelo prestígio.
O disco de estreia da dupla Luli e Lucina, em 1979, foi feito todo de forma independente. Hoje, você trabalha com financiamento coletivo para o show de lançamento do seu novo álbum, ‘Música Nova’. Por qual motivo você optou por esse tipo de trabalho?
Ao assinar com uma gravadora, você recebe uma porcentagem muito pequena da obra. Assim é preciso vender uma quantidade imensa de discos para ganhar dinheiro. O CD te abre portas para rádio, TV, mas o que dá dinheiro mesmo é o show. O retorno do trabalho independente é muito maior. Você consegue vender bastante disco em porta de show, porque as pessoas saem empolgadas com o espetáculo e compram o CD. Hoje é muito difícil encontrar espaço na mídia, então a produção independente é a melhor saída.
A cantora e compositora constrói percussões experimentais em Lumiar
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