Ele nasceu em uma fazenda de algodão. Em Itta Benna, Mississipi. Começou a trabalhar aos nove anos, abandonado pelos pais com a avó paterna. Essas pequenas frases, que parecem os versos mais tradicionais de um blues, são apenas os primeiros momentos dos 89 anos da vida do grande bluesman B.B. King. Lenda da guitarra, o músico faleceu no dia 15 de maio, após sofrer problemas decorrentes de uma diabetes tipo 2.
O músico -- batizado Riley B. King -- sofria da doença há mais de vinte anos. Em outubro de 2014, o rei do blues foi internado, apresentando um quadro de desidratação e esgotamento, relacionados à doença. Em abril passado, o quadro voltou a se repetir. Na madrugada do último dia 15, sexta-feira, B.B King sofreu pequenos AVCs (Aciendente Vascular Cerebral) e veio a falecer, encerrando uma carreira de mais de 60 anos dedicados a guitarra e ao blues.
B.B. King iniciou sua carreira ainda criança, cantando em corais gospel. Logo depois, aos doze anos, contou com as primeiras aulas de guitarra com seu primo, o músico Bukka White. Aos 22 anos, King foi levado por seu primo para Memphis, cidade americana onde novos talentos estavam surgindo. Lá, ele começou a conviver com músicos da cena local como Sonny Boy Williamson e Robert Lockwood Jr e tocar na Beale Street, rua onde, futuramente, abriria o clube que carregaria seu nome artístico, o B.B. King Blues Club.
Foi na década de 1940 que Riley se tornou B.B. King, abreviação de Blues Boy King. O guitarrista -- que futuramente ficaria conhecido por músicas como “Sugar Mamma”, “The Thrill Is Gone” e “Every Day I Have The Blues” -- começou a trabalhar como DJ e cantor de rádio. Em 1951, sua carreira deu a primeira alavancada, com o lançamento do single “Three O’Clock Blues”, levando o cantor para o número um de vendas de gravações de R&B.
Na carreira de B.B, os números sempre foram muito altos. O músico recebeu 15 grammys, gravou mais de 50 discos, no auge de sua carreira fazia mais de 300 shows por ano, teve 14 filhos e mais de 50 netos. Apesar de ter sido casado duas vezes, a grande mulher da vida de King foi Lucille, sua guitarra.
A história de amor entre B.B. King e Lucille começa em um conturbado show em 1949. Reza a lenda que enquanto o músico se apresentava em uma cidade de Arkansas, dois homens colocaram fogo na casa. Desesperado, o músico saiu correndo do local e, só do lado de fora, percebeu que havia abandonado sua companheira no palco. King voltou a casa e salvou a vida de sua guitarra Gibson, batizando-a com o nome da mulher que causou a briga: Lucille.
Desde essa época, B.B passou a se apresentar com guitarras da marca Gibson. O modelo mais comum utilizado por ele era a ES-355, tradicional guitarra semi-acústica da empresa. King fez também algumas alterações em suas guitarras. Na parte estética, adicionou marcações diferentes no corpo, como o nome "Lucille" na mão. Na eletrônica, adicionou chaves e outros apetrechos para modificar a sonoridade. Em 1980, a Gibson e o músico fecharam contrato e um modelo com as customizações de King começou a ser vendido em série, sendo uma das guitarras mais cobiçadas por profissionais e colecionadores.
O corpo oco e a captação da guitarra -- que chegou a ganhar edição comemorativa dos 80 anos do músico, em 2005 -- propiciam o músico a chegar ao timbre grave e suave característicos de B.B King, que também tinha em sua assinatura solos sofisticados, utilizando poucas notas, e uma voz de timbre rasgado, característico de um músico de blues.
Os maiores exemplos da influência de B.B King na música podem ser notados em músicos de blues e rock. Entre os mais famosos, estão Jeff Beck e George Harrison. No Brasil, André Abujamra (Os Mulheres Negras e Karnak) é um dos usuários da guitarra modelo Lucille e o grande guitarrista Celso Blues Boy chegou a gravar com B.B. king a música "Mississipi", canção do brasileiro sobre a lenda da criação do blues. Porém, o mais famoso "discípulo" do bluesman é Eric Clapton, guitarrista que chegou a gravar e excursionar com B.B. King anos atrás. Sobre a morte do amigo, Eric comentou nas redes sociais: "Não restaram muitos para tocar da maneira como ele tocava".
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