Mais do que qualquer outra localidade em Nova Friburgo, o Loteamento Três Irmãos, no distrito de Conselheiro Paulino, teve a rotina afetada por catástrofes naturais nos últimos anos. Isto porque, além das chuvas de janeiro de 2011, que atingiram a maior parte da cidade, o bairro sofreu também dois grandes deslizamentos de pedra no dia 13 de novembro de 2012, que ainda hoje são responsáveis pela interdição de aproximadamente 70 residências.
Passados praticamente dez meses desde o ocorrido, seus efeitos ainda se fazem sentir de várias maneiras. Quer seja na agitação das diversas obras estruturais executadas simultaneamente, quer no silêncio ensurdecedor das ruas desertas na parte mais elevada do loteamento, onde casas em escombros cumprem o duplo papel de registrar a história e proteger o bairro mais abaixo.
Entre as muitas obras em andamento, há que se destacar a troca de manilhas pluviais na Rua Rio Caraíba, que neste momento ainda se encontra sem calçamento; a aplicação do asfalto em diversas vias do bairro; e acima de tudo, a obra de reforço da grande encosta que protagonizou o deslizamento no fim do ano passado.
Sobre as manilhas, diversas delas ainda podem ser vistas nas calçadas do loteamento, e resta conferir se serão retiradas nos próximos dias. Já em relação ao calçamento, o Programa Asfalto na Porta promete resolver um dos maiores problemas desta região de Conselheiro nos últimos anos. O péssimo estado das vias sempre foi motivo de reclamação por parte dos moradores, e a chegada do asfalto, com a estrutura que vem sendo implementada, é motivo de comemoração para quem frequenta o local.
"Demorou, mas chegou. Durante anos nós reclamamos e sofremos com um calçamento ridículo, que não estava à altura das casas que têm sido construídas nessa região”, afirmou um morador que pediu para ter a identidade preservada. "Eu tinha vergonha de trazer alguém à minha casa, e felizmente isso parece estar mudando. Pelo que pude acompanhar, o piso está sendo nivelado antes de receber o asfalto. O serviço parece estar sendo bem feito sim”, continuou.
O som do silêncio
Caminhar pelo Loteamento Três Irmãos neste momento em que o bairro se divide entre ruas de grande agitação e outras completamente desertas é uma experiência para os sentidos. Expressões como presença da ausência ou som do silêncio deixam o terreno das músicas e figuras de linguagem para ganhar uma concretude difícil de traduzir. O bairro como um todo se prepara e aguarda para que a vida possa voltar à rotina, dentro de um clima de normalidade.
"O povo quer voltar, mas ainda não pode”, explica Maria Helena Pires de Araújo, presidente da associação de moradores e residente na Rua Rio Caraíba. "São muitas as casas que seguem interditadas. O único problema do bairro são essas pedras, que estão sendo trabalhadas com cimento. Quando essa obra terminar, não teremos problema algum aqui. Não temos maiores reclamações sobre os demais serviços públicos. Só espero que o ônibus possa voltar a circular aqui em cima quando os moradores voltarem. Nós compramos os terrenos, construímos as casas, pagamos IPTU e todas as demais taxas, então temos nossos direitos. E estamos esperando o término das obras e a liberação dos órgãos competentes para que possamos dar continuidade às nossas vidas”, continuou.
Sobre a obra na encosta, Dona Helena expressa o desejo dos moradores de que fosse realizada mais rapidamente, embora reconheça que o ritmo é o possível. "A obra é demorada, nós gostaríamos que pudesse ser feita mais rapidamente. Mas eles estão sempre trabalhando, e nós sabemos que não é um serviço fácil. Quando chove eu fico até com medo por eles, porque parece perigoso trabalhar lá em cima.”
Funcionário da Sope, empresa encarregada de reforçar a encosta, Hamilton do Amaral Batista explica os procedimentos que estão sendo adotados. "Nós não podemos explodir nada aqui. O serviço precisa ser muito cuidadoso e delicado para não provocar nenhum deslizamento. Nós estamos fazendo várias perfurações progressivas até atingirmos sete metros e meio de profundidade em pontos determinados. Depois colocamos os tirantes e então subimos com a nata de cimento. Por fim colocamos uma placa de proteção. É um trabalho delicado e que não pode ser feito com pressa.”
E nem deve mesmo. Afinal, para quem já espera há tanto tempo, o mais importante é não ter mais problemas quando finalmente puder voltar para casa.
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