Literatura - Suicídio Lírico em Os Sofrimentos do Jovem Werther

sexta-feira, 19 de setembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra

Judson Coelho

Os Sofrimentos do Jovem Werther, do alemão Johann Wolfgang von Goethe, publicado em 1774, é um romance trágico que marcou o início do Romantismo e é, hoje, um clássico da literatura.

É uma história de amor como tantas outras, com uma trama, em princípio, bem simples e um final já conhecido pela maioria. Porém, a obra parece possuir vida própria e encanto quase hipnótico, talvez por ter sido inspirado na própria vida do autor, o que lhe confere um tom de sinceridade e confidência ímpares. O romance é rico em detalhes, com cenários belíssimos, bucólicos, genuinamente românticos. Toda a ação é emoldurada por colinas, lagos, florestas e pelo crepúsculo primaveril.

Escrito em forma de cartas, o livro nos faz mergulhar no personagem, viver seu cotidiano, absorver sua estética. Podemos sentir através de sua pele os seus abalos, suas excitações, seus arroubos apaixonados, suas delirantes alegrias e suas abissais tristezas. É uma obra que nos enche de prazer e, ao mesmo tempo, nos dilacera, como uma paixão adolescente.

Há uma grande polêmica envolvendo o livro que, na época de sua publicação, provocou uma onda de suicídios entre jovens europeus ‘perdidamente apaixonados’, chegando a ser proibido em determinadas regiões. Os jovens chegavam a se vestir e se comportar como o personagem. Pela primeira vez, se viu um livro influenciar de maneira tão direta na cultura e não o contrário.

Tudo começa quando Werther conhece Carlota e no mesmo instante se apaixona por ela. Contudo, descobre que ela está prometida a outro homem, Alberto, e em breve irão se casar. Werther prefere ignorar este fato e continua mantendo relações (não íntimas) com Carlota. Porém, a angústia vai tomando conta do jovem, que ao compreender que seu amor jamais poderia ser consumado, decide extinguir a própria vida.

Como as cartas são escritas pelo próprio Werther, o que podemos saber sobre ele é que era um jovem de classe humilde, apaixonado, impetuoso, sentimental, inconstante, rebelde, crítico e idealista. Ele tem apreço por crianças, artes e vive em busca dos pequenos prazeres e da felicidade. Possui grande ligação com a natureza que, no desenrolar da trama, é quase sempre um reflexo de suas emoções e sentimentos. Além de opor-se, quase sempre, à moral e aos valores de sua época.

Deve-se notar que, mais do que um jovem que sofre por um amor impossível, Goethe nos apresenta um homem atravessado por um sentimento de inadequação e pela impotência do homem moderno e da racionalidade ante o desejo.

Ao encarar seu sofrimento, Werther não vai, como o herói clássico, ao mundo enfrentar seus desafios em busca da libertação, mas ao contrário, mergulha-se em si mesmo, numa introspecção fatal que o leva a sucumbir. A liberdade que se exalta, pois é a liberdade de morrer.

Sabendo do caráter autobiográfico da obra e, segundo alguns biógrafos, o próprio poeta beirou o suicídio, talvez se possa dizer que Goethe, através desta obra, pôde extravasar seus próprios sofrimentos, a tempestade em sua alma, os tormentos que o atravessavam. Assim, num processo de catarse, libertando-se deles por meio da expressão artística, permitindo-se um suicídio simbólico através de seu personagem.

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