"Celui dont les pensers, comme des alouettes,
Vers les cieux le matin prement un libre essor,
Qui plane sur la vie, et comprend sans effort
Le langage des fleurs et des choses muettes!”
ELEVAÇÃO
Charles Baudelaire
Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
As montanhas, os bosques, as nuvens, os mares,
Para além do ígneo sol e do éter que há nos ares,
Para além dos confins dos tetos estrelados,
Flutuas, meu espírito, ágil peregrino,
E, como um nadador que nas águas afunda,
Sulcas alegremente a imensidão profunda
Com um lascivo e fluido gozo masculino.
Vai mais, vai mais além do lodo repelente,
Vai te purificar onde o ar se faz mais fino,
E bebe, qual licor translúcido e divino,
O puro fogo que enche o espaço transparente.
Depois do tédio e dos desgostos e das penas
Que gravam com seu peso a vida dolorosa,
Feliz daquele a quem uma asa vigorosa
Pode lançar às várzeas claras e serenas;
Aquele que, ao pensar, qual pássaro veloz,
De manhã rumo aos céus liberto se distende,
Que paira sobre a vida e sem esforço entende
A linguagem da flor e das coisas sem voz!
(Trad. Ivan Junqueira)
O ASTRONAUTA
Vinícius de Moraes
Quando me pergunto
Se você existe mesmo, amor
Entro logo em órbita
No espaço de mim mesmo, amor
Será que por acaso, a flor sabe que é flor
E a estrela Vênus sabe ao menos
Porque brilha mais bonita, amor
O astronauta, ao menos
Viu que a terra é toda azul, amor
Isso é bom saber
Porque é bom morar no azul, amor
Mas você, sei lá
Você é uma mulher
Sim, você é linda porque é
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