Literatura - Élévation

sexta-feira, 21 de novembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra

"Celui dont les pensers, comme des alouettes,

Vers les cieux le matin prement un libre essor,

Qui plane sur la vie, et comprend sans effort

Le langage des fleurs et des choses muettes!”

 

ELEVAÇÃO

Charles Baudelaire

 

Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,

As montanhas, os bosques, as nuvens, os mares,

Para além do ígneo sol e do éter que há nos ares,

Para além dos confins dos tetos estrelados,

 

Flutuas, meu espírito, ágil peregrino,

E, como um nadador que nas águas afunda,

Sulcas alegremente a imensidão profunda

Com um lascivo e fluido gozo masculino.

 

Vai mais, vai mais além do lodo repelente,

Vai te purificar onde o ar se faz mais fino,

E bebe, qual licor translúcido e divino,

O puro fogo que enche o espaço transparente.

 

Depois do tédio e dos desgostos e das penas

Que gravam com seu peso a vida dolorosa,

Feliz daquele a quem uma asa vigorosa

Pode lançar às várzeas claras e serenas;

 

Aquele que, ao pensar, qual pássaro veloz,

De manhã rumo aos céus liberto se distende,

Que paira sobre a vida e sem esforço entende

A linguagem da flor e das coisas sem voz! 

(Trad. Ivan Junqueira)

 

 

O ASTRONAUTA

Vinícius de Moraes 


Quando me pergunto

Se você existe mesmo, amor

Entro logo em órbita

No espaço de mim mesmo, amor

Será que por acaso, a flor sabe que é flor

E a estrela Vênus sabe ao menos

Porque brilha mais bonita, amor

O astronauta, ao menos

Viu que a terra é toda azul, amor

Isso é bom saber

Porque é bom morar no azul, amor

Mas você, sei lá

Você é uma mulher

Sim, você é linda porque é



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