George Pacheco *
Cineastas e escritores estão cada vez mais próximos a partir de interesses mútuos que se resumem às adaptações literárias para o cinema. Basta uma obra virar best-seller para acabar na telona. Um segmento alavanca o outro.
No Brasil, as primeiras adaptações surgem a partir da segunda década do século 20, com a produção de "Inocência” (1915) e "O Guarani” (1916), a partir dos romances de Taunay e José de Alencar, respectivamente, ambos de Vittorio Capellaro; além de "A Viuvinha” (1915), e "Iracema” (1918), de Luiz de Barros. José de Alencar, inclusive, está entre os que mais tiveram títulos transportados para o cinema, junto com Jorge Amado.
Este ano tivemos duas obras internacionais que chamaram a atenção: em junho, o americano "A culpa é das estrelas”, dirigido por Josh Boone, baseado no romance homônimo de John Green, e "Se eu ficar”, dirigido por R.J. Cutler, baseado no livro de Gayle Forman, lançado pela Rocco, em 2009, e relançado pela Novo Conceito, em agosto. O filme conta a história da musicista Mia (Chloë Grace Moretz), uma adolescente de 17 anos que perde a família e fica à beira da morte após grave acidente de carro. Confusa, não sabe se está viva ou morta. Em coma, no hospital, lembra do passado e reflete se vale a pena viver.
Chloë também atuou em "Kick-Ass”, "A invenção de Hugo Cabret” e foi personagem-título da adaptação de "Carrie, a estranha” (2013), de Stephen King, outro recordista em obras adaptadas. A trilha sonora é do brasileiro Heitor Pereira, guitarrista que tocou na banda Simply Red (1988/96) e que vem compondo trilhas para diversos filmes como "Meu malvado favorito” e "Pronta para amar”.
As comparações com "A culpa é das estrelas” são inevitáveis, já que ambos tratam de problemas típicos da adolescência, tendo um evento trágico como pano de fundo. Neste, Hazel Grace (Shailene Woodley), uma adolescente diagnosticada com câncer que se mantém viva graças a uma droga experimental, é forçada pelos pais a participar de um grupo de apoio cristão, onde conhece Augustus Waters (Ansel Elgort), um rapaz que também tem câncer.
"Quando eu era vivo”, a adaptação literária do ano
Em "Quando eu era vivo”, baseado no livro "A arte de produzir efeito sem causa”, de Lourenço Mutarelli, e dirigido por Marco Dutra, Júnior (Marat Descartes) volta a morar com a família depois de perder o emprego e se separar da esposa. Ao retornar para a casa onde viveu com a família, ele se sente estranho e passa os dias no sofá do velho Sênior (Antônio Fagundes) remoendo a separação, o desemprego e sonhando com a jovem inquilina Bruna (Sandy Leah). Após achar alguns objetos que pertenciam à sua mãe, Júnior passa a querer saber tudo sobre a história da família e desenvolve uma estranha obsessão pelo passado, que o leva a confundir delírio e realidade.
Outras adaptações nacionais:
- O Saci (Rodolfo Nanni, 1951), Monteiro Lobato.
- O Auto da Compadecida (Guel Arraes, 2000), Ariano Suassuna.
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (André Klotzel, 2001), Machado de Assis.
- Dom (Moacyr Góes, 2003), Machado de Assis.
- Tropa de Elite (José Padilha, 2007), André Batista e Rodrigo Pimentel.
- Quincas Berro D’Água (Sérgio Machado, 2010), Jorge Amado.
- Capitães da Areia (Cecília Amado, 2011), Jorge Amado.
- O Tempo e o Vento (Jayme Monjardim, 2013), Érico Veríssimo.
* George dos Santos Pacheco é escritor. Contato: pacheconetuno@oi.com.br
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