Centenas de mortos, milhares de desabrigados e imóveis destruídos, dezenas de bairros devastados. Faz apenas quatro anos, mas parece que alguns já se esqueceram do que aconteceu em janeiro de 2011. Tragédias climáticas, como a da Região Serrana, ocorrem aos montes todos os anos, em diversas partes do mundo. Nos primeiros dias, o impacto gerado pela calamidade faz com quem as pessoas se solidarizem com as vítimas e repensem suas atitudes diárias. No entanto, a "conscientização”, para alguns, dura pouco. Basta deixar de ser assunto na mídia.
É sabido que a preservação do planeta depende de todos. Desde os governos de todos os países, passando pelas grandes corporações, até chegar a cada cidadão, de forma individualizada. Cada lixo jogado no chão, cada pneu ou garrafa plástica atirada num rio se junta a tantos outros resíduos, cujo montante poderá causar, no mínimo, alagamentos. E é isso que ainda se vê em todos os cantos de Nova Friburgo. O Rio Bengalas, que outrora deslizava sereno sobre o olhar do Cruzeiro do Sul, hoje se encontra com muitos resíduos sólidos, incluindo pneus. Nas ruas, muitas delas sem lixeira, não é difícil encontrar as — aparentemente — "inofensivas” guimbas de cigarro, sem contar com os papéis de bala, sacos de lixo, papelão, entre tantos outros detritos.
Falta consciência, sobram consequências
Quinhentos e doze. Este foi o número de chamadas recebidas pelo Corpo de Bombeiros de Nova Friburgo, no ano de 2014, para conter incêndios em vegetações. Só no mês de outubro foram 130. Em um balanço enviado pelo 6º GBM, até o mês de setembro de 2014 o aumento no número de queimadas já era 93% maior em relação ao ano anterior. Um dos exemplos foi o grave incêndio nas montanhas conhecidas como as Três Catarinas, que mobilizou mais de 80 bombeiros em setembro passado. "Foi uma área correspondente a 40 campos de futebol”, afirmou o tenente-coronel do 6° GBM, João Luiz de Moraes, ressaltando que os infratores podem ser presos: "Quando conseguimos flagrar alguém colocando fogo na mata damos voz de prisão e chamamos a Polícia Militar, que o leva para a delegacia”.
Boa parte das queimadas é proveniente da chamada "limpeza de terreno”, método bastante conhecido e ainda utilizado por muitos agricultores com a intenção de se ter uma área livre para o plantio. Mas essa "limpeza” não é útil apenas para alguns agricultores; não é raro que um terreno, cujas matas tenham sido consumidas pelo fogo, acabem recebendo construções, inclusive de loteamentos.
"Um terreno queimado está enfraquecido. A mata tem a função de protegê-lo, impermeabilizá-lo e, com isso, diminuir os riscos de escorregamentos de terra”, diz o gerente técnico da Defesa Civil de Nova Friburgo, Hamilton Thuller, acrescentando que desde a tragédia de 2011 o município passou a ter uma cultura de defesa civil mais enraizada: "Após a catástrofe, passamos a ter uma atuação maior nas comunidades, inclusive, nas escolas. Fazemos palestras para mostrar a importância de as pessoas ouvirem o que os especialistas, como nós da Defesa Civil, estamos orientando. O que queremos é que haja uma preparação das comunidades, ou seja, além da preservação ambiental, é preciso que a população conheça as rotas de fuga, onde ficam, por exemplo, os pontos de apoio e como proceder em casos de risco.”
Segundo Hamilton, 64 bairros estão catalogados como pontos suscetíveis de acidentes naturais. Em cada uma dessas comunidades existem, pelo menos, três pontos de apoio. "Tem gente que diz que uma tragédia dessa só vai acontecer daqui a 150 anos. Esse tipo de crença só faz com que as pessoas se descuidem. Nós enfatizamos muito a catástrofe de 2011 pela dimensão que ela tomou, mas sabemos que sempre aconteceram enchentes em Friburgo. Tenho fotos do começo do século passado sobre isso, costumo levá-las para palestras para que as pessoas vejam que não se pode relaxar. Porque é sempre assim: depois que as chuvas passam, a tendência é de as pessoas irem relaxando, realmente, e se descuidando da prevenção. Aliás, costumo dizer que não é prevenção, é uma preparação da comunidade para que se diminua os riscos. E não dá para prever onde vai haver problemas; por exemplo, o Cordoeira é um bairro que preocupa muito a Defesa Civil no período das chuvas, mas na tragédia de 2011, esse bairro quase não foi atingido. Agora, quem pensaria que a Rua Cristina Ziede, em pleno centro da cidade, sofresse tanto com a tempestade? Não dá para prever o ponto exato em que a chuva vai cair, portanto, é preciso que a cidade toda esteja preparada.”
Só em 2014, o Corpo de Bombeiros recebeu 512 chamadas para conter incêndios em matas de Nova Friburgo
As águas dos rios da cidade ainda dividem espaço com pneus e outros resíduos sólidos
Dicas da Defesa Civil para reduzir riscos de tragédias no período das chuvas
• Não construa em áreas de risco:
Você pode perder sua casa e colocar em risco a vida de sua família e vizinhos. Procure locais distantes de encostas e rios. Antes de construir, peça informações à Prefeitura.
• Procure orientação profissional: Na hora de construir ou reformar, os técnicos são fundamentais para garantir a segurança da reforma ou construção.
• Denuncie invasões e obras irregulares:Ligue para a Coordenadoria de Fiscalização da Prefeitura.
• Não faça cortes irregulares de barrancos: Os cortes são as principais causas de deslizamentos.
• Não jogue lixo em encostas, rios e ruas: Além de poluir a cidade, o lixo entope bueiros e pesa sobre barrancos, aumentando os riscos de deslizamentos e inundações.
• Não corte árvores sem a autorização da Secretaria de Meio Ambiente:Sem a autorização, o corte é considerado crime ambiental e pode aumentar as chances de deslizamentos.
• Coloque calhas na sua casa: Sem elas, a água que cai no telhado vai para o terreno, encharcando o solo. Conserte vazamentos em reservatórios e caixas-d’água: caso contrário, o seu terreno já estará encharcado quando a chuva chegar.
• Solicite uma vistoria preventiva da Defesa Civil: Ligue para 199. Trinca nas paredes, portas e janelas emperrando e rachaduras no solo são sinais de riscos. Se sua casa for interditada, saia imediatamente.
• Deixe pronto o seu kit-emergência em local de fácil acesso: Documentos, remédios, capas e guarda-chuvas, calçados apropriados, material de higiene, água e alimentos rápidos e frios (sanduíche e biscoito), etc, devem ficar separados em um kit emergência, durante o verão.
• Em caso de chuva forte, vá para locais seguros: Abrigos, casas de amigos e parentes que não estejam em áreas de risco.
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