NÃO DÁ PARA tapar o sol com a peneira. Os indicadores econômicos divulgados recentemente apontam que já não há mais dúvida de que os brasileiros estão desafiados a enfrentar uma crise econômica prolongada, representada pela recessão, pela volta da inflação alta, pelo aumento do desemprego e pelos conflitos sociais decorrentes da deterioração dos serviços básicos.
OS INDICADORES expõem uma realidade da qual ninguém, do setor público aos cidadãos, passando por todas as atividades produtivas, estará imune. Instabilidades políticas revelam uma crise que o governo subestimou, durante pelo menos meio ano do segundo mandato. Isto contribuiu para o agravamento de um cenário de paralisia de investimentos e de desconfiança generalizada com os atos do Executivo.
A CRISE NÃO é apenas no governo federal. Hoje defrontamo-nos com o que não pode mais ser negado. A expressão austeridade deixa de ser um jargão depreciado pelos próprios governantes para se transformar em necessidade real, a começar pelos municípios brasileiros.
COMUNIDADES que durante décadas adiaram soluções administrativas, imitando o que há de pior do governo central, terão de se submeter ao arrocho e racionalizar seus orçamentos. Há dados concretos sobre o descontrole dos municípios, revelando que a crise é também de gestão do setor público. Estudo feito pela Federação das Indústrias do Rio (Firjan) concluiu que, neste ano, oito de cada dez prefeituras estão em situação fiscal crítica ou difícil e 15% não cumprem a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A GRANDE MAIORIA dos municípios tem deficiências graves de gestão, e o retrato das dificuldades é o mesmo enfrentado pelos estados. Mas a crise apenas revela que as insuficiências vinham sendo encobertas por um longo período de prosperidade. União, estados, municípios, instituições e também as famílias brasileiras são desafiados a adequar demandas, projetos e custos mais elementares do orçamento cotidiano a um ambiente de incertezas.
INFELIZMENTE, os planos de investimentos terão de ser adiados e despesas cotidianas serão cada vez mais adequadas a essa realidade. É uma situação até então desconhecida pelas novas gerações, inclusive a que já ingressou ou tenta ingressar no mercado de trabalho. Revertem-se expectativas imediatas e frustram-se sonhos de médio e longo prazos dos que almejavam melhorias importantes na qualidade de vida também desses jovens.
PELAS EXPERIÊNCIAS anteriores já se sabe que todos provarão o remédio amargo da crise e receberão lições da recessão. É preciso doravante aprender a conviver com os tempos difíceis sem resignação, torcendo para que o país saia da crise melhor do que entrou.
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