Liberdade para ser e viver a vida de acordo com as suas convicções

Ela é Serena, é solar, é poesia e luz em forma de canto a céu aberto
sábado, 03 de setembro de 2016
por Ana Borges
Liberdade para ser e viver a vida de acordo com as suas convicções

Em certo dia do ano 2013, uma cantora se apresentava na Praça Getúlio Vargas quando foi impedida de continuar sua apresentação por fiscais do Departamento de Posturas. A reação da classe artística e de pessoas que assistiam à cena foi imediata: mobilizados, apresentaram ao tal departamento a Lei Municipal 4.198, sancionada em novembro de 2012, que garante a “apresentação de artistas de rua nos logradouros públicos do município de Nova Friburgo”.

Em defesa de Serena, a cantora proibida, os artistas exigiram o respeito à lei. O fato gerou revolta na classe artística, que a duras penas produz cultura no país, e em particular em Nova Friburgo, uma cidade, por sinal, plena de talentos em todas, absolutamente todas as áreas e culturais: teatro, música, dança, cinema, circo, artes plásticas, literatura, e tantas outras expressões artísticas. Tais manifestações não podem, não devem ser cerceadas, limitadas, sofrer quaisquer interferências, censura, seja do poder público ou da sociedade. Trata-se, aqui, do pleno direito de expressão, exercício da cidadania, do livre pensar. Podemos falar, contar, ou cantar. Ou o que for. 

Serena e os filhos Rubi, Maria, Agnus e Mateus

A questão da apresentação dos artistas de rua foi discutida durante muito tempo pelo Conselho Municipal de Cultura e demorou para virar lei. Nova Friburgo foi o segundo município do estado a aprovar lei neste sentido, fora a capital, seguindo o princípio de liberdade de expressão da Constituição Federal. E diz: “As manifestações culturais de artistas de rua no espaço público aberto, tais como praças, largos, boulevards, entre outros, independem de prévia autorização dos órgãos públicos municipais”. Era o que fazia Serena, em suas apresentações a céu aberto, gratuitas para os espectadores, mas recebendo doações espontâneas, o que é permitido pela lei. 

Serena, 32 anos, é mineira nascida em Belo Horizonte e mora em Friburgo desde 1998. Começou a tocar na praça em 2010, na época com o então marido, que tocava violão.  Ela cantava acompanhada de playback, até que começou a tocar violão também. “Passamos a fazer apresentações em restaurantes e festas. Quando me separei, em 2013, passei a me apresentar sozinha, o que não foi fácil porque não tinha carro. Então, tinha que carregar equipamento no ônibus, com a ajuda da Maria”, contou. Maria é a filha mais velha de Serena, de 17 anos. Completando a família de Serena vêm Rubi, 16, Mateus, 13, e Agnus, 11.

Ela lembra que foi neste mesmo ano que ocorreu o problema com a Postura. “Muitas vezes eu ia pra praça contando de levar mantimentos para meus filhos, com meu trabalho na música. Mas, aí, era barrada, e em nenhum momento tentavam compreender minhas necessidades, o porquê da minha atividade ali, nas ruas, nas praças. Não havia um único gesto de gentileza, nunca. Mesmo assim, eu arriscava”, contou. 

Certo dia, ela lembra bem, “aquele rapaz que é vocalista da banda O Vazio, o João, junto com outro rapaz, me entregou um documento que autoriza o artista de rua a exercer sua arte em locais públicos. Mesmo assim os funcionários continuaram a perturbar. Até que uma pessoa de autoridade reconhecida dentro da prefeitura interferiu. Desde então, vejo crescer o número de artistas de rua em Friburgo. Isso é só um resumo das dificuldades que o artista de rua enfrenta”, revelou Serena.

 

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