Letra Livre: A borboleta livreira

por Sérgio Bernardo
sexta-feira, 13 de junho de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Além de poeta, profeta. Com a rima não intencional, inclusive. Há por volta de um século e meio o baiano Castro Alves louvava “bendito o que semeia” e pedia “livros, livros a mancheias”, que seriam o objeto que faz o povo pensar. Profetizou e não foi ouvido em sua profecia. Muitos livros foram semeados, mas não na mesma proporção lidos. E hoje parece que o povo pensa menos. Ou não pensa.

Quando o verso de uma música é resumido na palavra Créu, sem registro como verbete nos dicionários, alguma coisa está fora da ordem, como diria outro baiano, o Caetano. Existe, pelo jeito, uma preguiça geral tomando conta da mente das pessoas. E pensar dá trabalho. Não à toa se diz (ou dizia) “queimar os miolos”, “pôr o cérebro para funcionar”, “dar tratos à bola” – esta última expressão, então, fruto do pensamento sofisticado de seu autor (pensando bem, qual o significado exato?). O fato é que pensar exige tempo, paciência, silêncio, tranqüilidade. Coisas que a massa coletiva estressada dos dias atuais não quer ter. A exigência é por carros velozes e trens-bala. Paciência é um jogo chato de cartas que só o vovô curte. E silêncio e tranqüilidade chegam a ser utopias numa casa com cinco televisões (uma em cada cômodo), MP-algum número no bolso e fones no ouvido. Quem foi mesmo o sábio que disse que “pensar dói”?

E os livros a mancheias, se vieram, ficaram adormecidos nas prateleiras das livrarias. E estas, por sua vez, desejaram em alguma ocasião ser padarias: pães para o estômago são em larga escala mais consumidos que os mesmos para o espírito. Apesar de o cheiro de um livro recém-saído do forno da editora também ser uma delícia!

Há pouco mais de um mês Nova Friburgo não conta mais com o espaço físico da sua livraria mais tradicional. Trinta anos depois de abertas, fecharam-se as portas (as palpáveis) da Livraria Simões, que conheci na Rua Farinha Filho, depois no Paissandu e nos últimos anos no Shopping Castelinho, na Praça Getúlio Vargas. Com isso foi-se o papo com a Graça, livreira da peste e amiga do peito, que misturava um cafezinho com detalhes de suas leituras mais recentes. Sem falar nas rodas de poesia que lá aconteceram durante anos e reuniram bom número de poetas e leitores inveterados do gênero, em encontros semanais regados a vinho. Chega a dar saudade o tempo que faltou para estar mais vezes com a Graça e conversar sobre livros, sua paixão primeira, jamais escondida e sem admitir qualquer rival entre eles. Juntas, as Simões eram para mim como a borboleta da logomarca da loja: pouco vista no caminho diário, porém, tão bom saber que existe, cheia de graça, para um encontro repentino.

Alivraria agora trabalha pela internet. Continua a semear livros a mancheias e quem quiser através deles pensar, pode se informar contatando a Graça pelo livrariasimoes@gigalink.com.br ou indo direto a www.estantevirtual. com.br, em ‘Garimpe livros’, link Sebo. A listagem está ordenada por estado.

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