Muitos especialistas, ao redor do mundo, afirmam que não passa de mito essa história de que usamos apenas 10% da capacidade do cérebro. Para eles, isso não passa de lenda urbana. Se assim fosse, argumentam, uma enorme parte desse órgão – 90% – seria inativa.
Segundo a crença popular, se todo o cérebro fosse utilizado, o indivíduo desfrutaria de habilidades sobre-humanas. Argumentos de todo tipo são defendidos com veemência, tais como: a porção inativa do cérebro esconde funções psicocinéticas e psíquicas em geral, além da possibilidade de percepção extra-sensorial; pessoas de QI muito elevado usariam mais do que 10% do cérebro; a inteligência de uma pessoa está ligada à porcentagem do cérebro que ela utiliza.
Embora a capacidade intelectual do indivíduo possa aumentar ao longo do tempo, a crença de que grande parte do cérebro é inutilizado e só se faz uso de 10% do seu potencial efetivo não tem base científica, sendo fortemente desmentida pelos membros dessa comunidade. Mesmo que ainda não se conheça o funcionamento de todo o cérebro, já há pesquisa publicada comprovando que todas as suas regiões são ativas e que têm funções determinadas. Sobre o assunto, saiba o que dizem o neurologista Barry Gordon e o psicólogo Barry Beyerstein.
Refutando o mito
"Apesar de atraente, a ideia do ‘mito de 10%’ é tão errônea que é quase risível”, diz o neurologista Barry Gordon, da Johns Hopkins School of Medicine, em Baltimore (Maryland). Ele descreve o mito como "ridiculamente falso”, acrescentando: "Nós usamos virtualmente cada parte do cérebro, e a maior parte dele é ativa quase todo o tempo”.
O psicólogo Barry Beyerstein, Ph.D, estabelece sete tipos de evidência refutando o mito:
Estudos sobre danos cerebrais: Se 90% do cérebro é normalmente inutilizado, então danos nessas áreas não deveriam prejudicar o seu funcionamento. Na realidade, porém, não existe quase nenhuma área do cérebro que pode ser danificada sem perda de funções. Mesmo um leve dano em pequenas áreas do cérebro pode ter efeitos profundos.
Evolução: O cérebro é muito custoso ao resto do corpo em termos de consumo de oxigênio e nutrientes. Ele pode consumir 20% da energia do organismo, mais do que qualquer outro órgão, apesar de ser apenas 2% do peso do corpo humano. Se 90% do cérebro fosse desnecessário, haveria grande vantagem evolutiva em seres humanos com cérebros menores e mais eficientes. A evolução teria eliminado indivíduos com cérebros ineficientes. Pelo mesmo motivo, é altamente improvável que um cérebro com tanta área redundante teria evoluído em primeiro lugar.
Imagens do cérebro: Tecnologias como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e ressonância magnética (MRI) permitem monitorar a atividade do cérebro vivo. Elas revelam que, mesmo durante o sono, todas as partes do cérebro mostram-se com algum nível de atividade. Apenas em casos de grave dano cerebral existem "áreas silenciosas”.
Localização de funções: Em vez de agir como uma massa única, o cérebro tem áreas distintas para diferentes tipos de processamento de informação. Décadas de pesquisas revelaram o mapa de funções do cérebro, e não foram encontradas áreas de menor atividade.
Análise microestrutural: Na técnica de unidade única de gravação, pesquisadores inseriram um pequeno eletrodo no cérebro para monitorar a atividade de uma única célula. Se 90% do cérebro não tivesse atividade, essa técnica teria revelado isso.
Doença neural: As células do organismo que não são utilizadas têm tendência de se degenerar. Por isso, se 90% do cérebro fosse inativo, autópsia de cérebros adultos revelaria degeneração em larga escala.
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