Lembranças de um tempo marcado pelo Jazz

E como surgiu o clube de Nova Friburgo que reúne os amantes do estilo
sábado, 16 de março de 2019
por * Por Marcelo Braune

“Lembrando algumas passagens anteriores à criação do Clube do Jazz, há 20 anos, a primeira coisa que me vem à memória é o dia em que estávamos reunidos, eu e Tânia, Muros e Clélia, Aristélio e Marly, Tibau e Regina, e resolvemos lançar a “pedra fundamental” do clube. Foi em 18 de março de 1999, no Kiori (restaurante do Aristélio e Marly, antigo Sushiban).

Mas, o embrião dessa confraria, digamos assim, já estava em formação muito antes daquele ano. Lembro dos queridos amigos Claudinho Chaloub e Muros (ambos já falecidos), que tinham um programa na Rádio Nova Friburgo AM, sobre jazz. Éramos uma turma de amigos que se encontrava para jantar, bater papo, trocar ideias e discos, curtir a companhia um do outro. Naturalmente, havia muitas afinidades entre nós, uma delas, o jazz. 

Um determinado dia, o Naem Florêncio, sabendo da nossa preferência pelo blues e jazz, perguntou se a gente topava montar um clube de jazz. Topamos e ele acertou com o Elifas (proprietário do antigo Hotel Sanjaya) um espaço na cobertura, onde passamos a nos encontrar. Então, como ‘sócios’ cada um levava sua bebida, uísque ou vinho, ou o que quisesse, pagávamos uma taxa mensal e nos encontrávamos lá uma vez por mês. O Elifas e a esposa dele criaram um espaço muito legal, e participava dos encontros.

O Muros era o número 001 e eu era o 002 (do clube, acrescenta, rindo). Lá conhecemos um casal muito legal, o Rubens e a Helena Sombrio, vindos de Blumenau (SC), que sabia muito da história do jazz e sobre seus músicos. Quando tivemos a ideia de realizar palestras sobre o assunto, de início fiquei na minha, porque não sou muito de falar, gosto mais de ouvir. Mas aí, veio a primeira palestra e incentivado pelo Rubens, apresentei o tema com ele. Foi lindo porque, naquela altura, o ‘cenário’ do clube já era o do Casarão do Country.

O tema foi “O Contrabaixo no Jazz”. Tomei gosto, descontraí e acabei participando de várias palestras. Uma delas com uma grande figura, o Oswaldinho (Oswaldo Castro, já falecido), um exímio baterista de bossa nova, que promovia jam sessions na casa dele, no Sans Souci. Eu costumava dizer que ‘só se ouve o que estamos ouvindo aqui, na casa do Oswaldinho ou em Nova York’. Coisa de altíssimo nível musical. Ele se apresentava também no Beco das Garrafas (famoso ‘point’ em Copacabana, Rio).    

São muitas histórias… Assim seguimos por anos, com encontros variando de lugar, como o Hotel Bucsky, e com a adesão de muitos outros fãs do jazz, como o Ângelo Chaves e a Margarida... Outra figura que não esqueço e que não está mais aqui, é o Eduardo Ramos, talvez um dos maiores conhecedores de jazz do mundo. Sem exagero, é verdade. Ele era uma enciclopédia do jazz. Uma vez ele escreveu um texto maravilhoso para uma palestra, ‘Jazz para as mulheres’, que tive o privilégio de apresentar com ele.  

O contrabaixo sempre foi o meu instrumento preferido. Então, dou mais atenção às apresentações dos baixistas. Já o Muros tinha paixão pela cantoras, e a preferida dele era a Sarah Vaughan. Eu também acho a Sarah fantástica, mas gosto ainda mais da Ella Fitzgerald. Cada um de nós tinha e tem uma queda por um instrumento, uma intérprete, um instrumentista. É muita coisa pra citar, contar, e nem sempre a gente lembra de tudo. Em determinados momentos, como esse, não cabem todas as lembranças.

Como comentei em outra reportagem, aqui, nesta mesma edição, nunca esqueço de render homenagem à minha falecida esposa, a Tânia. Foi ela quem me levou a fazer parte desse grupo, dessa intelectualidade, digamos assim. Porque, como escritora, a maioria dos amigos dela eram escritores, jornalistas, pessoas ligadas à cultura, como o Muros, Aristélio, Jaburu, Yeda Santos, David Massena, uma turma que era mais dela do que minha.

Foi a Tânia que me incentivou a dedicar um pouco do meu tempo a esses encontros para ouvir, falar e trocar informações sobre jazz, um gênero do qual sempre fui fã. A coisa foi fluindo e a existência dela foi fundamental para eu usufruir disso tudo, uma época tão gratificante. Sou amante de jazz, blues e rock’nroll. Tenho dois filhos músicos, um por profissão e outro por hobby. Por tudo isso, minha vida tem uma bela trilha musical.”   

Marcelo Braune é tabelião e vice-prefeito de Nova Friburgo.

Redação: Ana Borges   

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