Lei Seca, alcoolismo e drogas

Por Carlos Emerson Junior (*)
sexta-feira, 22 de julho de 2011
por Jornal A Voz da Serra

A Lei Seca demorou mas chegou em Nova Friburgo. As blitzes são constantes, provocando polêmica entre moradores, comerciantes, turistas que, com toda a razão, reclamam da precariedade dos nossos ônibus e táxis que, por razões misteriosas, desaparecem durante a madrugada.

Ora, meus caros leitores, os cariocas, com um pouco de imaginação e boa vontade, deslocaram táxis para os polos de, digamos assim, animação, como o Baixo Leblon, Baixo Gávea, Baixo Humaitá e por aí vai. Será que alguns pontos provisórios não poderiam ser instalados em Mury e no Cônego, por exemplo, durante os finais de semana e feriados? A Faol bem que poderia colaborar, colocando alguns ônibus rodando até mais tarde.

Como todo mundo sempre tem alguma boa ideia, vamos conversar e achar uma solução que beneficie nossa cidade, sempre lembrando que, com o advento da Lei Seca, o número de acidentes e mortes no trânsito caiu drasticamente.

O grande vilão dessa história, na realidade, é o consumo indiscriminado de álcool. Quem nunca teve um caso na família? Ou nunca viu um amigo ou parente terminar seus dias literalmente na sarjeta?

É muito mais fácil encontrar um viciado em álcool do que um maconheiro, por exemplo. Os danos que o álcool provoca no organismo são devastadores e permanentes. Segundo especialistas, “o consumo crônico ou excessivo de álcool pode causar uma variedade de problemas hepáticos incluindo excesso de gordura no fígado, hepatite alcoólica e finalmente cirrose”. Isso sem falar nos danos permanentes ao coração, pâncreas, dentes, pele, músculos, nervos, tudo enfim.

Outro efeito da doença (alcoolismo foi reconhecido como doença pela Organização Mundial de Saúde – OMS na Classificação Internacional das Doenças - CID-8, em 1967) recai sobre as famílias dos alcoólatras. A dor de assistir a destruição da vida de um ente querido geralmente desestrutura e abala os laços familiares. É preciso muita coragem, amor e determinação para apoiar e buscar sua cura, que nunca é fácil.

A convivência com várias vítimas dessa doença e o fato de ser comum em minha família sempre me deixou de pé atrás com o consumo de bebidas alcoólicas. Gosto de um vinho, uma boa cerveja preta, mas tenho e preciso de um limite. Tomei meus porres quando jovem e hoje, já quase na terceira idade, sei que poderia muito bem ter passado sem isso. Afinal, você ver seus parentes morrendo de doenças e complicações da bebida mexe definitivamente com sua cabeça.

O álcool é liberado e uma grande indústria se movimenta e vive dele. Recolhe impostos e dá empregos, investindo no crescimento do país. Pensar em banir essa atividade comercial é uma ideia completamente absurda e que teria consequências desastrosas na economia e na saúde mental de boa parte da população, além de estimular a clandestinidade, onde se encontram hoje os fabricantes e vendedores das drogas chamadas de “pesadas”.

A Lei Seca, que tentou banir o álcool nos Estados Unidos na década de 20, foi um péssimo exemplo dessa política.

No Brasil, o alcoolismo é um problema de saúde pública. O álcool está associado à maioria dos acidentes de trânsito. Entre 65 a 70% dos casos de violência contra a mulher estão relacionados ao uso prévio de bebidas alcoólicas; e um número considerável de acidentes de trabalho também está relacionado a esta droga. A dependência alcoólica atinge 12,3% da população brasileira na faixa de 10 anos a 65 anos de idade.

Mais: o Brasil ainda é um dos poucos países sérios do mundo onde o preço da bebida alcoólica é muito baixo e, para nossa vergonha, se recusa a taxar ou rever esses valores ou banir de vez a sua propaganda, por força do lobby das indústrias de plantão.

Fico aqui tentando imaginar o que poderia ocorrer se as demais drogas fossem produzidas e vendidas legalmente, mas não consigo tirar da cabeça a visão de um irmão de minha mãe, morto com 29 anos, vítima do álcool. Estaremos preparados para ver um filho consumir cocaína comprada no bar da esquina?

Se com todo a força da indústria, governo e sociedade, não conseguimos resolver o gravíssimo problema das drogas lícitas, como podemos pensar em assumir a responsabilidade de controlar o consumo e atender viciados em maconha, cocaína e derivados? Pelo menos no caso do Brasil, o passo seria muito maior do que as pernas....

No entanto, não podemos fechar os olhos e fugir desse debate. Drogas acompanham o homem desde sempre e um dia seremos obrigados, queiramos ou não, a encarar de frente essa situação.

No seu livro Admirável Mundo Novo, o escritor Aldous Huxley descreve uma sociedade completamente controlada e dopada com o consumo oficial de uma droga sem efeitos colaterais.

Será esse o nosso futuro?

(*) carlosemersonjr@gmail.com

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