Lei que cria o Dia Municipal do Sacoleiro só depende da sanção do prefeito

A ser celebrado todo segundo sábado de outubro, homenagem é o primeiro passo para a proposta de melhorias nessa profissão de risco
quinta-feira, 09 de agosto de 2018
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Junior conta que já passou por situações de perigo (Arquivo pessoal)
Junior conta que já passou por situações de perigo (Arquivo pessoal)

No segundo sábado de outubro será comemorado pela primeira vez este ano o Dia Municipal do Sacoleiro, uma profissão muito comum em Nova Friburgo devido à grande quantidade de confecções de moda íntima. São os sacoleiros que transportam grandes quantidades de mercadorias de Friburgo para diversas cidades e estados brasileiros. Idealizado pelo vereador Alcir Fonseca (PP), no último dia 13 de março, o Dia do Sacoleiro foi instituído por uma lei municipal já publicada em Diário Oficial, mas que ainda depende de sanção do prefeito.

A importância da criação do Dia Municipal do Sacoleiro justifica-se no fato de que o  bom desempenho de muitas confecções de moda íntima está diretamente ligado ao trabalho dos sacoleiros que transportam e comercializam, os produtos das confecções de Nova Friburgo e trazem novos pedidos fomentando o setor. “É uma profissão de extrema importância e que lida diariamente com situações adversas como assaltos, violência e os perigos das estradas. A criação da lei municipal visa não só homenagear estes profissionais, mas também dar um primeiro passo para um possível plano local mais abrangente que venha trazer benefícios para os membros desta atividade com capacitação, treinamento e melhores condições de trabalho”, diz a publicação.

Essa proposta de melhoria nas condições de trabalho, inclusive, é um ponto em comum de toda a classe. Charles Quindeler, há 12 anos como sacoleiro, trabalha com lingerie e costuma viajar muito para São Paulo. O sacoleiro está descrente quanto a eficácia da lei. “Se com essa lei que cria o Dia do Sacoleiro surgirem algumas melhorias como o registro em carteira pela firma que contratar as viagens e um seguro de vida, já que corremos riscos de assalto ao viajarmos para longe, será muito bom”, disse ele.

Há nove anos atuando como sacoleiro, Júnior Gomes, que costuma percorrer todo o sudeste do país vendendo lingerie, está otimista. “Acho muito bom ter sido criada esta lei. Merecemos ser mais reconhecidos. Temos um giro de capital muito forte em Friburgo. Saem muitos carros por semana daqui com sacoleiros que levam produtos da nossa terra para outros estados. Também deveríamos ter um padrão de comissão. Muitas firmas têm uma porcentagem de comissão que não muda e enquanto esse percentual fica estagnado, o combustível, alimentação, pedágio, entre outros serviços, têm tido aumentos constantes. Se através dessa lei tivermos uma regulamentação de alguns aspectos, vai nos ajudar muito”, acredita o sacoleiro Júnior.

Risco constante de assaltos

Outro ponto importante é com relação a segurança. Os dois profissionais são taxativos ao afirmar que, na profissão de sacoleiro, é impossível não ser assaltado. “Uma  vez, em Osasco-SP, fui rendido por um grupo. Um dos assaltantes era menor de idade. Eles me levaram para um morro. Fiquei preso lá por quase uma hora enquanto eles levaram meu carro com os produtos para outros lugares. Quando voltaram, devolveram o carro sem nenhum produto. Perdi a conta de quantas vezes já fui assaltado. Uma das vezes foi na frente de uma vendedora, levaram o meu carro e não consegui recuperar o veículo. É muito complicado. Difícil você não ser assaltado pelo menos uma vez no ano”, revela Charles.

“Passei por uma situação de perigo, quando estava na estrada, no Carmo, e fui perseguido. Para me defender, até fiz uma coisa errada que foi dirigir em alta velocidade, mas consegui escapar daquele risco. Nós (sacoleiros) deveríamos ser mais bem reconhecidos, principalmente diante das autoridades. Todas as vezes que paramos em blitz e estamos com nossas mercadorias, somos mal vistos. Quando estamos com carro com caçamba somos visados por bandidos e por isso ficamos mais vulneráveis”, conta Júnior.

 

Vereador Alcir Fonseca, autor da lei: “É preciso abrir o debate sobre este tema”  

Conversamos com vereador Alcir Fonseca sobre as principais reivindicações dos sacoleiros. Abaixo, segue na íntegra a entrevista com o vereador:

 

AVS: Qual a motivação para criar o Dia Municipal do Sacoleiro?

Alcir Fonseca: A iniciativa de criar o Dia Municipal dos sacoleiros surgiu ouvindo um empresário do setor, o Sr.Moisés Bastos, que juntamente do Pastor Jorge Paiva nos trouxe a demanda. Abraçamos a sugestão inicial e incluímos outras ideias no projeto pois reconhecemos a importância dos sacoleiros para o setor de moda íntima no município, onde esses trabalhadores levam nossos produtos e trazem recursos. Por isso o projeto de lei que cria a data com o propósito não só de ser uma data festiva e de homenagens, mas com o intuito de que seja o pontapé inicial para que o município possa oferecer cursos e workshops de direção defensiva, campanhas de prevenção de acidentes em parceria com profissionais de Centros de Formação de Condutores e órgãos como o Detran, bem como testes de glicemia, aferição de pressão arterial, além de palestras sobre práticas de vendas e empreendedorismo em parceria com órgãos como o Sebrae.

Muitos sacoleiros se queixam da falta de segurança para o transporte de mercadorias. Como resolver essa questão?

Esse é um dos problemas enfrentados pelos sacoleiros. Além da falta de segurança das estradas – devido às péssimas condições de algumas e o risco de acidentes, eles enfrentam a insegurança nas estradas por causa do alto índice de assaltos. Além disso, os sacoleiros muitas vezes enfrentam rotinas cansativas, com longas horas na direção, risco de lesões posturais, entre outros. Essas são questões ainda sem solução, mas a ideia desse Dia Municipal do Sacoleiro é justamente “tocar nessas feridas”, abrir o debate sobre o tema e buscar soluções junto aos profissionais, empresários do setor e órgãos de classe. Se a gente não olhar para os sacoleiros, não lembrarmos da importância dessa profissão, eles nunca serão ouvidos em suas demandas.

Como regularizar a situação dos sacoleiros para que a classe tenha a carteira assinada por uma empresa?

Essa questão infelizmente não depende da nossa intervenção ou não será resolvida com a criação da data. Mas sem dúvidas, a partir do momento em que abrimos o diálogo com as entidades e pessoas envolvidas, é mais fácil sensibilizarmos o empresariado e as entidades de classe sobre a questão. Acredito ainda, que com as mudanças proporcionadas pela reforma trabalhista recém aprovada no Brasil, talvez seja mais fácil formalizar o trabalho desses profissionais que muitas vezes é intermitente, sazonal. E a nova legislação talvez consiga ampará-los melhor. Mas lembro que isso precisa ser amplamente discutido com as entidades e principalmente com os trabalhadores.

Muitos se queixam com relação à baixa comissão? Como regulamentar essa parte de um modo que haja um piso que satisfaça a categoria?

Isso depende de um acordo e sensibilização dos empresários. Pode haver também algum incentivo do poder público e dos entes envolvidos. Mas o mais importante é abrir esse debate, são assuntos que até então pareciam passar despercebidos por grande parte da sociedade, mas que sempre afligiu os sacoleiros. Creio que com a data e o início das atividades isso começará a mudar.

Haverá um sindicato dos sacoleiros, na cidade?

O que temos conhecimento é de que existe o Sindicato do Vestuário, bem como o Sindicato dos Têxteis. Também já tive conhecimento da criação da Associação Friburguense de Confecções, mas não existe um sindicato específico para os sacoleiros. Acredito que as entidades já existentes podem abraçar e lançar um olhar mais atento às demandas dos sacoleiros.  Cabe destacar que até o momento o projeto de lei ainda não foi sancionado pela prefeitura. Estamos aguardando ansiosos para que a data seja oficializada e os debates mais do que necessários já comecem ainda este ano.

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